Família mantém tradição de anotar registros da chuva há mais de 40 anos

27/03/2021

O caderno com as anotações é mantido atualizado. Nas dezenas de páginas estão registrados os índices de chuvas desde 1974, quando foi instalado o pluviômetro, pela FUNCEME – Fundação de Meteorologia do Ceará, no distrito do Baú. O equipamento fica em um terreno cercado, próximo à casa da família Alves Nogueira. “Os dados são organizados por dia, mês, ano e os milímetros das chuvas, conforme dona Zenalda Nogueira sempre fez”, lembrou o médico veterinário Mauro Nogueira, filho da matriarca.

De acordo com os registros no caderno de dona Zenalda, o ano que choveu mais no Baú foi 1985, um índice de 1.711mm. Em 2005, foi o ano que choveu menos, apenas 392mm. Nos últimos sete anos, as chuvas também foram mais escassas. Mas o cenário tem mudado desde o ano passado, favorecendo um bom aporte hídrico na região. “As nossas lagoas do Baú e do Saco que estavam secas este ano receberam um bom aporte. Do ano passado para este, o inverno tem sido mais favorável para nossa região”, comemora Mauro.

E independente de ser período de inverno ou não, bastava chover para que dona Zenalda fizesse a própria coleta ou pedia para alguém anotar os dados da chuva. “Ela quando tinha que se ausentar por algum motivo, deixava um encarregado. Quando ela chegava, passava pro caderno”, comenta. E assim foram 44 anos de anotações das chuvas, legado que foi deixado para os filhos que continuam essa missão.

Voluntariado e religiosidade

A professora Zenalda Alves Nogueira faleceu em 2019, aos 98 anos de idade. Ela exerceu essa função de forma voluntária. “Antigamente, os dados eram anotados em um formulário e enviados mensalmente pelos Correios para a FUNCEME. Depois ela passava os dados por telefone ou eles ligavam bem cedo para saber se tinha chovido ou não. Como acontece até hoje”, conta Naura Nogueira, enfermeira aposentada e filha de dona Zenalda.

Outra relação da família de dona Zenalda é a forte ligação com a religiosidade. A pequena capela erguida há 125 anos pelo patriarca da família, coronel José Alves de Oliveira, tem como padroeiro São José, santo que os devotos recorrem à chuva. “E pra gente que mantém essa tradição, a gente espera pelo dia 19 de março pelas chuvas, na esperança de ter um bom inverno. E graças a Deus, vem acontecendo”, comemora Naura.

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