João Alves Rocha não é apenas o nome de rua no Bairro Cocobó, nesta cidade. Recentemente, domingo, 20, familiares e amigos prestaram homenagem ao empreendedor natural do Crato que foi pioneiro na área industrial, com a instalação da primeira fábrica de mosaicos, trouxe também para Iguatu óticas e joalherias, aqui também fundou o Cine Guarany. Além de ser muito religioso, era apaixonado por música e poeta. Um bom exemplo de cidadão e empresário. Por aqui chegou por volta de 1950, com a família que adotou Iguatu como residência. A família se reúne anualmente para relembrar histórias, vivenciar memórias e continuar o legado deixado por Seu João Rocha, como era conhecido. O mais recente encontro foi marcado pela colocação de uma placa em cerâmica, na rua que leva o nome do patriarca, momento marcado por muita musicalidade, recitais de poesias e lembranças.
Na oportunidade, membros da família falaram sobre esse legado deixado pelo Seu João Rocha. “João Alves Rocha nasceu no Crato, há exatos 125 anos e construiu sua vida aqui em Iguatu. Aqui ele foi comerciante, foi empreendedor, participou da igreja, prosseguiu com suas escritas de poemas sempre muito romântico. Era um cidadão bem casado com a senhora Teodorina, com quem teve 13 filhos. Quando João se foi, eram mais de 50 netos. Construíram uma família gigante que se espalhou pelo Nordeste, com raiz no Ceará, mas que até hoje, depois de 53 anos do seu falecimento, João ainda continua muito vivo nas nossas memórias, é tanto que a gente se reúne todos os anos para relembrar, para cultivar, para fazer com que o legado que ele deixou, onde quer que ele esteja, a gente nunca o esqueça. Foi isso que a gente traduziu nessa placa. Um pouco do que foi João, uma homenagem dos filhos, netos, bisnetos e que ficam para a eternidade. Iguatu é a sede de João e Teodorina. A gente agradece muito aos iguatuenses pelo respeito à família Rocha”, ressaltou Jacson Rocha, neto do patriarca.
A neta Érica Rocha, falando em nome dos netos e bisnetos, destacou a importância da união da família em prestar homenagem ao patriarca João Rocha. “Eu admiro muito isso. Mesmo não estando presente em todos os encontros, eu fico sempre emocionada quando eu vejo porque é uma coisa que a gente só consegue preservar com essa união. Quero em nome da família agradecer a dona Luzanira e ao Toninho por ceder o espaço para colocação da placa, onde podemos preservar a história da nossa família e que venham mais outros encontros e que as novas gerações tenham como exemplo que vocês vêm fazendo. Eu vejo o esforço de cada um de vir de várias partes, de outros estados e tirar um tempo, cada um tem uma ocupação diferente, mas se faz presente aqui com todos os esforços”.
Emocionado, o também neto Afonso Flávio Rocha Diniz aproveitou para falar um pouco sobre mais esse momento de reunião da família. “Para mim, para todos os netos. E se ele tivesse escrito, deixado para prosperidade para os descendentes algum lema, alguma lição ele teria escrito: ‘Vivam suas vidas com honra e com dignidade’. Ele era um homem de uma índole católica muito forte. A presença religiosa sempre esteve no seio da nossa família, é tanto que se rezava o terço toda a noite. Quem estivesse na casa dele, era convidado a participar. Nós sempre procuramos honra esse legado de João Rocha, vivam suas vidas com honra e dignidade”, declarou.
Legado
João Alves Rocha nasceu no Crato, Cariri cearense, no dia 15 de dezembro de 1900, tendo inicialmente trabalhado como caixeiro-viajante, percorrendo cidades do interior do Ceará e dos estados entre esses: Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Em uma dessas viagens conheceu Teodorina Batista Barbosa, filha do capitão Cosme Barbosa, que morava em Araripe, mais a oeste da serra de mesmo nome, com quem viria a se casar em 1925. Dessa união nasceram e se criaram 13 filhos. Depois de ter sido gerente das lojas A Pernambucana e vereador em Crato na primeira gestão de então prefeito, Pedro Felício, como edil daquela cidade.
Veio fixar residência em Iguatu, no ano de 1950, na rua Dr. João Pessoa, se estabelecendo como fabricante de mosaicos e marmoritos. Exemplares da sua produção ainda podem ser vistos em alguns prédios da cidade, como os mosaicos da entrada do Colégio Rui Barbosa, uma parte do piso da igreja da Sé, da Casa de Saúde e maternidade São José e, até alguns anos atrás, nos bancos e pisos de diversas praças da cidade. Em paralelo, fundou o Cine Teatro Guarany, que funcionou onde até pouco tempo era a empresa Oi, adquirindo depois o Cine Sá, anteriormente pertencente a Manoel de Sá, e que se situava onde mais tarde viria a funcionar o Cine Alvorada.
Já nos anos 1960, estabeleceu-se no ramo de joias, óculos e relógios, criando a Joalheria Rocha, em parceria com seu filho Rui Rocha, que funcionou até o início dos anos 1970, quando criou a Ótica Elegante, seu último empreendimento. A par de seus negócios, foi um homem de profunda fé católica, característica essa herdada de seus pais, e que fez questão de transmitir aos filhos e netos, tendo pertencido à Congregação Mariana e sempre participado ativamente da igreja católica em Iguatu, professando sua fé em todos os aspectos da vida, o que lhe angariou respeito e confiança da comunidade, que costumava lhe procurar para aconselhamentos sobre assuntos diversos, notadamente os de cunho pessoal.
Foi membro do Lions Clube de Iguatu. Também deu vazão à sua inata verve poética, deixando escritos de poesia, notadamente sonetos, a maioria de cunho intimista, tendo alguns sido reunidos posteriormente em brochuras feitas publicar pelo seu filho Francisco Alves Rocha. Amante da música, incentivou os netos a desenvolver o gosto por essa arte, pela qual ele dedicava uma mal contida paixão. Veio a falecer em Iguatu, no dia 08 de setembro de 1972, deixando um legado de honra e dignidade, tanto na vida pessoal e no trato das pessoas, quanto nos negócios que empreendeu. “E é com base nessa história de vida que nós, seus descendentes, persistimos em manter acesa a chama da unidade da Família Rocha de João e Teodorina, baseada na evocação dessas raízes morais que nossos avós nos transmitiram e nossos pais nos ensinaram a valorizar e a venerar”, complementou Afonso Flávio Rocha Diniz, neto de “Seu” João Rocha.
Espelho Meu
Oh! virgem pura de formosos olhos
que o coração da gente faz pulsar,
farol que além rebrilha entre os abrolhos,
luz que minh’alma vem iluminar.
Mimosa flor nascida entre os escolhos,
que o lindo colibri vai festejar,
a Lua te mirando fecha os olhos,
envergonhada por menos brilhar.
Oh! santo querubim; oh! forma pura;
oh! astro que me guia em noite escura,
anjo que vem meus sonhos povoar,
deixa que eu veja os negros olhos teus,
estrelas que rebrilham lá nos céus,
espelho em que me fito ao te fitar.
Crato, outubro de 1922.
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