Fisioterapia: uma aliada importante no tratamento da Covid-19

13/06/2020

A pandemia da Covid-19, colocou em evidência o trabalho desenvolvido por diversos profissionais na área da saúde. Mesmo que antes os atendimentos realizados por eles já fossem fundamentais nas instituições, alguns deles ganharam ainda mais visibilidade por estarem diretamente ligados à recuperação e ao tratamento dos pacientes diagnosticados com a doença. É o caso dos profissionais do setor de fisioterapia. Pensando nisso o Jornal A Praça entrevistou os profissionais Thales Souza e Vanessa Lacerda.

A Praça – Qual o trabalho do fisioterapeuta na fase de recuperação de um paciente vítima da Covid-19?

Dr. Thales – O profissional fisioterapeuta mostrou-se indispensável no cenário atual de pandemia do novo coronavírus. Atuamos da prevenção à reabilitação de pacientes com doenças que afetam o funcionamento do sistema respiratório. No caso da Covid-19, sabemos que os pacientes podem desenvolver alguns comprometimentos respiratórios que permanecem por algumas semanas ou meses. A dispneia (falta de ar), tosse e fadiga (cansaço) aos pequenos esforços são alguns sintomas que costumam permanecer mesmo após a cura desses pacientes. Durante a fase de recuperação da Covid-19, o fisioterapeuta atua diretamente no tratamento das sequelas supracitadas e na otimização das capacidades pulmonares, visando a independência funcional e o restabelecimento das funções respiratórias desses pacientes.

A Praça – Essa fisioterapia é diferenciada por ser respiratória?

Dr. Thales – A fisioterapia respiratória é uma das diversas áreas de atuação do profissional fisioterapeuta. Tem como objetivo principal proporcionar ao paciente um melhor funcionamento do sistema respiratório atuando diretamente no tratamento, reabilitação e na prevenção de afecções respiratórias. Cada área da fisioterapia utiliza recursos, técnicas e equipamentos específicos para atingir seus respectivos objetivos, no caso da fisioterapia respiratória contamos com técnicas manuais e equipamentos específicos para otimizar a expansão pulmonar, favorecer a mobilização de secreção (expectoração) e o fortalecimento dos músculos inspiratórios. Vale ressaltar também que o profissional fisioterapeuta exerce função vital nas unidades de terapia intensiva, diminuindo o tempo de internação e evitando intercorrências em pacientes críticos, como alguns casos da Covid-19.

A Praça – Já existem relatos científicos de como fica o pulmão do paciente recuperado da doença? O que precisa ser feito, a partir daí?

Dr. Tales – Tudo ainda é muito novo. A comunidade científica luta arduamente para publicar pesquisas referentes ao tratamento e cura dessa doença. Sabemos que esse processo leva tempo, mas a tecnologia nos permite ler artigos publicados no outro lado do mundo quase que em tempo real. Atualmente, vários estudos estão sendo feitos a partir de autópsias em diversos países. Foram evidenciados quadros de fibrose pulmonar em alguns desses pacientes, o que impede uma boa expansão desse órgão dificultando o processo da respiração. É indicado que o paciente, mesmo após curado, busque tratamento fisioterapêutico, principalmente idosos e indivíduos com outras doenças respiratórias associadas, para evitar possíveis complicações e o prolongamento dessas sequelas pertinentes ao novo coronavírus. Esse profissional pode atuar na modalidade de “home care”, ou seja, atendimento domiciliar, realizando uma avaliação respiratória e em cima dos dados obtidos irá traçar um protocolo específico para cada paciente.

A Praça – A ausência da fisioterapia respiratória na fase final do tratamento da Covid-19 pode deixar sequelas no pulmão?

Dr. Thales – O que podemos afirmar é que o fisioterapeuta vem mostrando a cada dia ser de grande importância no tratamento de diversas doenças, inclusive as respiratórias. A Covid-19 gera o que chamamos de Síndrome Respiratória Aguda e outros comprometimentos comuns a outras doenças que já estamos habituados a tratar. Quanto a essas manifestações clínicas, o fisioterapeuta mostrou-se indispensável para uma melhor recuperação e um tratamento multidisciplinar muito mais eficaz, o que sugere que com a Covid-19 aconteça da mesma forma.

A Praça – Quais são as limitações do paciente, pós-fase pandêmica?

Dr. Thales – Sabemos que alguns pacientes relatam tosse e falta de ar ocasionalmente. Não podemos esquecer que há indícios que a Covid-19 pode afetar também outros órgãos além dos pulmões. Um sintoma bastante relatado pelos pacientes curados seria a fadiga muscular aos pequenos e médios esforços, ou seja, cansam mais facilmente na realização de tarefas diárias não tão complexas. Por ora é o que podemos afirmar.

A Praça – Na fase de recuperação do paciente que enfrentou uma infecção respiratória, a fisioterapia respiratória, em média, dura quanto tempo? Existem os exercícios que o fisioterapeuta faz com o paciente e existem também os exercícios quer ele faz sozinho?

Dr. Thales – Isso varia muito de paciente para paciente. Assim como temos casos brandos da doença, similares a gripes e resfriados, temos pacientes que necessitaram de suporte ventilatório por semanas. O tratamento fisioterapêutico pode durar dias, semanas ou até meses, dependendo do quadro do paciente e do comprometimento do mesmo para a realização das orientações e exercícios designados pelo fisioterapeuta. Durante o atendimento, o fisioterapeuta realizará suas condutas e utilizará diversos recursos específicos da área, além disso o paciente será orientado e instruído para praticar alguns exercícios respiratórios em casa, acompanhado ou não por teleconsulta, modalidade aprovada para o momento atual de quarentena.

Perfil

Thales Henrique Souza Clementino é fisioterapeuta; especialista em Fisioterapia Respiratória e Intensiva pelo Centro Universitário São Camilo; especialista em Fisioterapia Neurológica Adulto e Pediátrica pela Faculdade Inspirar; possui formação em Dissecação Humana, Reabilitação Vestibular e Terapia por Restrição de Membros; professor dos cursos de Fisioterapia, Farmácia e Nutrição da Faculdade São Francisco do Ceará – FASC


A Praça – Como é feita a fisioterapia na fase de recuperação do paciente acometido da Covid-19?

Dra. Vanessa – A fisioterapia atua em especial na área respiratória e motora. O paciente é avaliado primeiramente pelo médico, que por sua vez analisa o padrão respiratório do paciente, dependendo do nível de dificuldade que ele está apresentando para respirar, será optado pela ventilação não invasiva ou mecânica invasiva. A equipe trabalha em conjunto, de forma multidisciplinar. Na fisioterapia respiratória são realizadas técnicas manuais com o objetivo de remoção das secreções brônquicas, melhorando assim a oxigenação do sangue, exercícios de reexpansão pulmonar, para diminuir o trabalho respiratório, reeducando a função respiratória e prevenindo complicações. Nos casos em que os pacientes estão com manifestações graves da covid19 e sob ventilação mecânica, nós fisioterapeutas auxiliamos na condução da ventilação mecânica, desde o preparo e ajuste do ventilador artificial à intubação, evolução do paciente durante a ventilação, interrupção e desmame do suporte ventilaríeis e extubação. O paciente crítico internado na unidade de terapia intensiva (UTI) apresenta restrições motoras graves. Auxiliamos no posicionamento adequado do leito e a mobilização precoce, objetivando a prevenção de escaras (feridas ocasionadas na pele e no tecido subjacente, resultante da pressão prolongada sobre a pele), restaurando a perda funcional, reduzindo incapacidades e aprimorando a funcionalidade do paciente.

A Praça – Como as pessoas que não foram infectadas podem fazer para fortalecer os pulmões e ficar melhor preparadas para enfrentar a fase pandêmica?

Dra. Vanessa – Bem, os hábitos de vida saudável devem ser seguidos a todo momento. Não existe nenhuma recomendação para interromper os exercícios físicos. A atividade física, uma boa alimentação e a hidratação são os principais responsáveis por esse processo. É importante ressaltar que se procure realizar em casa, evitando ao máximo aglomerações. Realizar, por exemplo, caminhada dentro de casa, subir e descer escadas ou mesmo simular, levantar e sentar na cadeira (repetindo algumas vezes) são ações simples que melhoram o condicionamento físico.

A Praça – O paciente acometido da Covid-19, que não vai para o hospital, ele pode fazer os exercícios em casa? É preciso o acompanhamento do fisioterapeuta?

Dra. Vanessa – Sim. O acompanhamento do fisioterapeuta é necessário sobretudo para pessoas que moram sozinhas, com necessidades específicas ou com alguma comorbidade (hipertensão, diabetes, problemas cardiovasculares, obesidade). É válido lembrar que as sessões devem ser monitoradas e fragmentadas para limitar a fadiga. A atenção domiciliar tem um papel fundamental neste momento, que é de contribuir para a redução da sobrecarga do sistema de saúde brasileiro.

A Praça – Depois que o paciente receber alta, a partir da cura da doença, por quanto tempo ele precisará do acompanhamento do fisioterapeuta?

Dra. Vanessa – Vai depender de indivíduo para indivíduo. Há pacientes que ficarão dias na UTI e sairão muito debilitados, havendo a necessidade de dar continuidade por um longo período o acompanhamento fisioterápico e motor (muscular), em casa. Enquanto outros, apesar de terem permanecido internados, podem apresentar uma recuperação pós alta hospitalar ainda mais rápida. Então vai depender de uma avaliação fisioterápica específica para cada caso.

A Praça – Como deve ser o ambiente de casa para receber e acomodar o paciente que foi infectado, foi tratado no hospital e está retornando para cumprir a etapa do tratamento domiciliar?

Dra. Vanessa – Mediante comprovação que o paciente está curado, o ambiente domiciliar deve ser tranquilo, arejado, limpo. É importante que a família acomode o paciente em um quarto longe de escadas, facilitando ao máximo o acesso dele aos demais cômodos da casa, pois devido a sequelas de fraqueza dos músculos respiratórios e motores, ocasionados pela Covid-19, o paciente pode sentir muita dificuldade para se deslocar e até mesmo dispneia (cansaço) persistente.

Perfil

Vanessa Lacerda é fisioterapeuta formada pela Faculdade Integrada do Ceará – FIC em 2010; especialista em Geriatria e Gerontologia pela UNICHRISTUS (2010-2012); especialista em Lesões no Esporte e Prescrição de Exercícios pela Faculdade Farias Brito; funcionária pública estatutária do município de Iguatu desde 2013, funcionária pública estatutária do município de Jucás desde 2014.

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