Em 1979 nascia a FECLI
A primeira instituição de ensino superior de Iguatu, a FECLI-Faculdade de Educação, Ciências e Letras, nasceu da luta de abnegados iguatuenses; homens e mulheres públicos, que assim como os jovens da época ansiavam por uma unidade de ensino de 3º grau, capaz de cooperar para a formação em nível superior dos estudantes do ensino médio impactando positivamente sob a ótica socioeconômica em Iguatu e no Centro-Sul.
O ano era 1979, o país ainda vivia sob o manto escuro do regime militar que já durava quase duas décadas. Iguatu ainda respirava o oxigênio auspicioso do ‘ouro branco’, o algodão. O comércio local era o responsável por abastecer o município e 95% das cidades do seu entorno. A região Centro-Sul se preparava para alçar seu voo mais certeiro visando ao desenvolvimento em todas as áreas.
E naquela época, era dos olhos da juventude de onde se percebia o desejo e nitidamente se via que já não era mais possível esperar, porque os jovens balbuciavam nos quatro cantos que já passava do tempo da cidade implantar uma instituição pública de ensino superior.
Num estado naturalmente pobre, de indicadores sociais negativos, mortalidade infantil em alta, num país de economia agonizante e inflação recorde beirando os vergonhosos 70%, numa região em que a sobrevivência econômica da maioria estava centrada na agricultura de sequeiro, com o cultivo de grãos de milho e feijão, a pesca artesanal ou a mão-de-obra serviçal aleatória, pouquíssimas famílias tinham condições de encaminhar os filhos para estudar fora.
Política na mesma direção
No limiar dos anos 80, a política partidária local ainda não era objeto para esfacelar a sociedade e colocar as lideranças em lados opostos, mesmo que fossem mesquinhos e solitários lados. A demonstração dada pelos protagonistas da implantação do ensino superior, com a criação da FECLI, é que quando havia objetivos comuns a serem alcançados, todos, indistintamente, estavam caminhando na mesma direção.
O bioquímico Elpídio Cavalcante, que mais tarde seria prefeito da cidade, estava no grupo que comungou o projeto da faculdade, a primeira da cidade, um sonho acalentado por dezenas, centenas e milhares de iguatuenses. Quando fala da campanha histórica, Elpídio brilha os olhos e se emociona. Foi dele a ideia compartilhada com o então bispo diocesano Dom José Mauro de Alarcon e Santiago de formar o grupo que lutaria pela chegada do ensino universitário à cidade. Além de Elpídio e Dom Mauro, também empunharam a bandeira o juiz de direito Dr. José Carneiro Girão, a religiosa e professora, irmã Gilza Souza Menezes, a professora Socorro Assunção, o educador Edson Luiz Cavalcante de Gouvêa (in memoriam), o também bioquímico Dr. João Alves Bezerra (in memoriam), e o então prefeito Elmo Moreno (in memoriam). Juntos eles criaram a FUCS-Fundação Universitária Centro-Sul.
O gestor municipal da época, Elmo Moreno, determinou pela Secretaria de Educação a criação dos primeiros cursos. Estava oficialmente lançada a semente, que germinaria e produziria frutos pelas próximas gerações. A luz brilhante do conhecimento, como sonhou o poeta, o profícuo desenvolvimento científico e tecnológico de um povo.
O local de funcionamento, o histórico prédio que abrigou a instituição por mais de três décadas, na Rua Deoclécio Lima Verde, foi doado pelo Governo Federal. Para isso, um representante do grupo humanista, Elpídio precisou ir até Brasília para oficializar a doação. O primeiro curso criado foi Pedagogia. Em 1984, Elpídio já prefeito do município, tendo sido eleito em 1982 para um mandato de seis anos, até 1988, recebeu no município o então governador Gonzaga Mota, para o ato histórico em que o município passou ao comando do Estado a FUCS, que foi transformada em FECLI, sendo incorporada pela UECE-Universidade Estadual do Ceará. O primeiro diretor da FECLI foi o professor José Ériton Barros Costa (in memoriam). A galeria de ex-diretores, até chegar ao atual gestor, professor Gladeston da Costa Leite, guarda nomes de outros visionários educadores que ajudaram a construir não só a história mas também o patrimônio físico, intelectual e humano que está nos anais da faculdade. Antônia Valy do Nascimento, Maria Auxiliadora Benedini Orsini Beserra, Rita de Cássia Sousa Marques, Eudênio Bezerra da Silva, Ricardo Rodrigues da Silva.
E foi na gestão do professor Ricardo Rodrigues (2012/2016), a mudança da FECLI, do lendário endereço da Deoclécio Lima Verde, para o campus Humberto Teixeira, (Av. Dário Rabelo), estrutura onde funcionava a antiga CIDAO, indústria de beneficiamento de caroço de algodão e mamona, importante fomentadora de empregos nos anos 80 e 90, que faliu, e cujo prédio foi adquirido em compra pelo governo do Estado passando a abrigar os cursos da URCA-Universidade Regional do Cariri (Unidade Descentralizada Iguatu) e da UECE-Universidade Estadual do Ceará, através da FECLI.
Formação acadêmica e homenagens marcam 40 anos da FECLI
Numa noite especial de formação acadêmica e homenagens foram comemorados os 40 anos da FECLI-Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu. A solenidade aconteceu na noite da quinta-feira, 25, no campus Humberto Teixeira, com a presença de autoridades e grande público formado por familiares dos estudantes e convidados.
Participaram da solenidade, o vice-reitor da UECE, professor Hildebrando dos Santos Soares, o secretário da SECITECE – Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Governo do Estado, Inácio Arruda, a presidente da Câmara Municipal, Eliane Braz, que representou o prefeito Ednaldo Lavor, monsenhor Afonso Queiroga, representante do bispo emérito Dom José Mauro, o diretor da FECLI, Gladeston da Costa Leite, Cândido Bezerra da Costa Neto, coordenador de Ensino Superior da SECITECE, a diretora da URCA (UDI/Iguatu), Natália Bastos Ferreira, ex-alunos, fundadores da instituição e representantes, acadêmicos e professores.
O evento comemorativo dos 40 anos da FECLI foi marcado também pela colação de grau de 32 acadêmicos dos cursos de Pedagogia, Ciências Biológicas, Letras (Língua Inglesa, Língua Portuguesa), Matemática e Pedagogia referentes ao 2º semestre 2018.2. Foi apresentado um histórico da UECE-Universidade Estadual do Ceará, com os dados relativos aos estudantes formados pela instituição no Estado.
O diretor da FECLI, Gladeston da Costa Leite comandou as homenagens aos homens e mulheres que ajudaram a fundar a instituição de ensino há 40 anos. Cada homenageado ou representante recebeu uma placa comemorativa. Dom José Mauro de Alarcon e Santiago, bispo emérito de Iguatu, monsenhor Afonso Queiroga da Silva, José Elpídio Cavalcante, Dr. Edson Luiz Cavalcante de Gouvêa (in memoriam), Dr. João Alves Bezerra, Dr. José Carneiro Girão, irmã Gilza Souza Menezes, Maria Socorro Assunção, José Eriton Barros Costa (in memoriam). Professores aposentados e servidores também foram lembrados na solenidade de homenagens.
Desbravadores
A história da FECLI foi diluída no discurso emocionante e enfático do professor Eudênio Bezerra, ex-diretor da casa de ensino. Ele resgatou uma frase emblemática do personagem de Charlie Chaplin, de 1940 do filme ‘O Ditador’: “Não sois máquinas, homens é que sois”, para lembrar que o momento é de resgate também do lado humano do homem, diante das ameaças e ataques que as instituições públicas de ensino vêm sofrendo com o avanço de alas conservadoras de governos, no Brasil e no mundo.
Durante o pronunciamento, com direito a ligeiras pausas para deixar escapar o choro, o professor lembrou os desbravadores que lutaram para criar a instituição, viabilizar seu funcionamento e os servidores, dedicados, comprometidos, que, segundo ele, sem eles, a travessia até aqui teria sido muito mais difícil. “Das mãos desses amantes do saber surgiu a autarquia de natureza especial, mas essa plêiade de pessoas amantíssimas contou com o cuidado de outros sonhadores, que administraram a FECLI ao longo desses 40 anos, com uma paixão semelhante àquela dedicada a seus próprios ninhos”, lembrou.
O professor encerrou o pronunciamento fazendo um apelo para o fim do ódio e da intolerância convocando a todos para lutarem juntos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. “Soldados, [queridos, queridas], em nome da democracia, unamo-nos!”, encerrou.
“Foi um grande avanço, um marco na história, educacional e cultura de Iguatu. A cidade vive sob o ciclo do comércio ainda hoje, assim como era naquela época, então nós partimos em busca do ensino universitário e como resultado hoje nós temos essa gama de cursos universitários, proporcionando o ensino superior para os filhos dos menos favorecidos economicamente, porque só saía para fazer curso fora quem tinha dinheiro. Ao participar deste momento histórico, fico arrepiado de emoção, só em saber que nossos jovens estão tendo a oportunidade de ingressar no ensino superior gratuito e público. São sonhos, são ideias, e quando a gente vê a concretização disso, com o fruto surgindo no meio da comunidade, a alma fica plena de realização e felicidade”.
José Elpídio Cavalcante, bioquímico, ex-prefeito de Iguatu
“Parece que foi ontem. Ainda guardo vivas as recordações dos seus primeiros passos, as muitas dificuldades por que tivemos de passar, mas, acima de tudo, guardo com uma imensa alegria as lembranças de todas as suas grandes conquistas, a exemplo da encampação pela UECE, a retomada de sua sede própria, as campanhas de aquisição de títulos para a nossa biblioteca, a contratação, por concurso, de professores capacitados e possuidores de formação acadêmica respeitável, sua atuação significativa nos campos do ensino, da extensão e da pesquisa, conquistas que, decorridos todos esses anos, dão a real dimensão de sua importância para a região Centro-Sul e para o estado do Ceará. No momento em que a universidade brasileira é objeto de uma perseguição sem precedentes, mesmo quando se tem em mente os anos sombrios do regime militar, implantado no país com o golpe de 1964, e os trabalhadores da educação são escolhidos como alvo do ódio de uma campanha reacionária levada a efeito pelo atual governo, deve-se festejar com entusiasmo os 40 anos da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu – FECLI -, como forma de expressar à nossa indignação e de dar corpo, nos limites de nossas pequenas possibilidades, à nossa capacidade de resistir às ações neofascistas que ameaçam a educação democrática e as escolas públicas como um todo, e, de modo assustador, dão a ver seu vínculo orgânico com o passado ditatorial, os interesses inconfessáveis da elite financeira e a influência política internacional de extrema-direita. Parabéns à FECLI!”
Alder Teixeira, mestre em Letras e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor da FECLI durante 20 anos
“FECLI, 40 anos de serviços prestados à Região Centro-Sul. Em meados de 1982 ingressei na minha vida acadêmica nessa grande casa. Nessa época os cursos ofertados eram os de Supervisão, Administração e Inspeção Escolar. Tive a grande honra de cursar o de Supervisão e Administração. Todos que faziam a FECLI sentiram a necessidade de crescer e daí começou a luta pela plenificação do curso de Pedagogia. Foi uma luta árdua, mas conseguimos. Hoje vejo a FECLI firme e com ampliação dos seus cursos. Minha formação acadêmica devo a essa casa. Obrigada a todos os gestores, professores, funcionários e colegas de cursos que muito contribuíram para a minha formação acadêmica, profissional e pessoal”.
Lília Pontes, pedagoga, ex-aluna dos cursos de Supervisão, Administração Escolar e Pedagogia
“Fui a primeira diretora eleita da FECLI, em 1987. Ajudei a plenificar o curso de Pedagogia, criei o curso de Letras e os outros das Ciências Humanas, Matemática e os demais. Foi na nossa gestão que ocorreu o primeiro concurso público para contratação de servidores, foi muito importante. Quando deixei a instituição, fui para a pró-reitoria de extensão da UECE, fiquei lá até minha aposentadoria, mas afirmo que vivi os melhores anos da vida profissional, ao fazer parte deste projeto da FECLI, a primeira instituição de ensino superior de Iguatu, um marco na educação do nosso povo e do desenvolvimento científico e tecnológico da nossa região”.
Antônia Valy do Nascimento, 1ª diretora eleita da FECLI
“A minha ligação com esta instituição, a FECLI, não é de hoje, é praticamente desde que ela foi fundada. Foi acolhido por ela, grande parte dos movimentos sociais. Ela é um importante projeto de educação, de Iguatu e do Centro-Sul, principalmente por ter nascido ainda nos tormentos da ditadura militar. Ela é uma das filhas da UECE, que se expande pelo interior do Ceará, para formar gente, preparar os educadores, os professores. É riqueza desta região e da sua gente! Nós temos muito apreço por aqueles que foram seus fundadores, os primeiros professores, entre esses, o professor Cândido B. C. Neto, que integra os quadros da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior, o que nos dá compreensão que o papel da universidade, e aqui no Centro-Sul, da FECLI, continua sendo de apontar para o desenvolvimento, não apenas científico, mas principalmente social”.
Inácio Arruda, secretário de Ciência, Tecnologia e Educação Superior Governo do Estado
“A minha palavra é de agradecimento aos cidadãos iguatuenses que tiveram a ideia de criar esta instituição de ensino superior de grande relevância para a região, brilhante ideia que eles tiveram há 40 anos atrás, que só nos orgulha. Agradecimento também aos colegas, que ao longo desses 40 anos ajudaram a construir a história sólida que ela tem. Digo que é muito importante a gente preservar esse patrimônio, para as próximas gerações. As ameaças são muito grandes agora, e esse patrimônio é muito importante para os jovens, para o desenvolvimento socioeconômico e cultural da região Centro-Sul”.
Eudênio Bezerra, ex-diretor, professor de Língua Portuguesa e Linguística
“Essa data comemorativa, para nós é algo que nos emociona, porque essa faculdade faz parte da nossa história e da história de tantos outros profissionais, que assim como eu, têm muito orgulho de fazer parte dos seus quadros. São servidores, diretores, professores aposentados, fundadores. Estou aqui já há 27 anos e considero a FECLI minha segunda casa. É uma dedicação de muito amor, de muito compromisso, sou professora desde a primeira turma do curso de Letras. Ao longo desse tempo, desses anos, com muito afinco conseguimos avançar na formação de tantos profissionais, especialmente na área do ensino. Posso dizer que a minha relação com essa instituição é como uma relação de mãe para filha”.
Lília Palácio, vice-diretora, professora do curso de Letras
“O meu sentimento é do dever cumprido, de alegria, de gratidão, principalmente às pessoas que participaram dessas comemorações dos 40 anos, e afirmo que para mim é um privilégio, estar gestor da instituição, nesta memorável data comemorativa de 40 anos. Quando nós pensamos na comemoração, a ideia foi exatamente registrar essa passagem de uma instituição que tem um legado muito bonito e uma extensa folha de serviços educacionais no ensino superior, prestados a Iguatu e ao Centro-Sul”.
Gladeston da Costa Leite, atual diretor da FECLI, professor de Matemática
“Acho que é um momento de grande satisfação, a comemoração de 40 anos de uma universidade pública, no interior do Nordeste é motivo de grande alegria e especialmente quando fazemos parte dessa história. Nós marcamos uma fase importante da FECLI, porque foi exatamente no período de transição, da saída do prédio antigo, do campus Areias, para o espaço do campus Humberto Teixeira, vivendo todos os desafios que fizeram parte desse processo, e é com muito orgulho que a gente faz parte dessa história, de dar a nossa contribuição e ver o ensino superior no interior do Estado, particularmente aqui na região Centro-Sul, se consolidando e se revigorando, nesse momento de celebração se fortalecendo cada vez mais, enquanto instituição pública de ensino superior, para os desafios que virão pela frente.”
Ricardo Rodrigues da Silva, ex-diretor 2012/2016
“Me emocionei muito na solenidade comemorativa dos 40 anos e na colação de grau dos estudantes dos cursos, porque passou um filme ali na minha cabeça, ver aqueles alunos colando grau, lembrei da minha época como aluna, dos sonhos que eu acalentava, que era retornar à instituição como professora, e hoje estar falando para eles, da minha experiência como docente é algo que não tem como mensurar. Para mim é uma emoção dupla, pessoal e profissional. Na minha época como estudante era um tempo de descobertas, hoje como professora da casa é um tempo de realizações. Me sinto muito realizada, profissionalmente especialmente nesta data comemorativa dos 40 anos da FECLI”.
Wanderlândia de Lavor Coriolano, ex-aluna professora de Matemática, coordenadora do curso de Matemática
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