Fumaça, chorume, urubus e catadores que tiram do lixão o seu sustento. O cenário do chamado “cartão-postal de Iguatu” continua o mesmo de seis anos atrás no olhar do fotógrafo italiano Antonello Veneri. Ele que veio a Iguatu no ano de 2013 e retornou à cidade em 2019 para se deparar com a mesma cena que ele fotografou. Sua imagem rodou o mundo e ganhou prêmios através do registro que expunha o sofrimento e a falta de políticas públicas eficazes para a transformação na vida dos afetados diariamente pelo local situado no Bairro Chapadinha.
“Reencontrei algo muito maior. Tinha uma lembrança da primeira vez que vim cujo lixo estava no nível das barracas e hoje supera em metros. É um problema grave principalmente para quem trabalha e mora perto. Iguatu é uma cidade organizada e linda. Mas o lixão marca negativamente. É uma pena que o lixão sobreviva”, avaliou Antonello, que fala o português desenvolto.
Documentário
Em Iguatu, novos registros foram feitos pelo também jornalista. Depoimentos foram coletados para início da produção de um documentário com foco na vida dos catadores. “São pessoas incríveis e de grande sensibilidade. Sei que o problema é no país inteiro e até mesmo global”, acrescentou.
As imagens que produziu em solo iguatuense foram publicadas no jornal Folha de São Paulo e portais de notícias no cenário nacional além de ser finalista e ganhar prêmios internacionais. “Temos o papel de documentar e fazer que o fato ganhe repercussão e que o problema de fato se resolva. Espero que o problema acabe e que se tenha estrutura digna a essas pessoas que são super-heróis mais dos que estão na praça”, disse.
Perfil
Nascido na Itália em 1973, Antonello trabalha no Brasil desde 2011. Autor de várias reportagens para o maior jornal da Itália, “La Repubblica”, documenta através das fotos o que está acontecendo no Brasil. Tem publicado para vários jornais e revistas e esse ano ganhou o concurso do National Geographic Itália “Il mio viaggio” como a melhor reportagem. Colabora com a Lua Nova, ONG de São Paulo, e com o Ministério da Saúde Brasileira (Fiocruz) em projetos de documentação social. É membro da Agência de Notícias Coofiav (Folha de São Paulo, O Globo).
Desde 2011, desenvolve dois projetos pessoais: “Vidas extra-ORDINÁRIAS” documentando o dia a dia dos moradores de rua nas principais cidades do Brasil e “Interiores”, retratos de famílias nas favelas e subúrbios das cidades. Antonello já foi finalista em vários concursos internacionais: Getty Images (Brasil), 2013, Paraty em Foco 2013, 2014 (Brasil), Concurso Latino-americano Foto Documental (Medellin, Colômbia) 2013, National Geographic (Itália) 2013 e 2014, Encontros de Imagem 2013 (Braga, Portugal).
O início do fim
Iguatu e outras seis cidades do Centro-Sul assinaram acordo para uma gestão integrada de resíduos sólidos. Com isso a problemática pode estar perto do fim. As cidades protocolaram acordo para a formação do Consórcio Regional de Resíduos Sólidos do Alto Jaguaribe (CORRAJ). A medida visa pôr fim aos lixões de Iguatu, Acopiara, Catarina, Cariús, Quixelô, Jucás e Saboeiro, atendendo, assim, aos requisitos da política nacional e estadual para preservação do meio ambiente com fundos, protocolos, criação da taxa do lixo e com a definição de destino dos recursos financeiros do Fundo Municipal de Meio Ambiente. A proposta de criação do consórcio foi apreciada e aprovada pelas Câmaras de Vereadores dos respectivos municípios.
Por unanimidade, Iguatu foi escolhida para sediar a gestão deste consórcio, que prevê a construção de centrais municipais de resíduos em cada município e ecopontos para entrega voluntária. A expectativa é que, no início de 2020, o consórcio já esteja em vigência. No mês passado, o município iniciou o projeto-piloto de coleta seletiva no Bairro Cajazeiras, região mais afetada pelo lixão de Iguatu.
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