“Doce sonho, suave e soberano,
Se por mais longo tempo me durara!”
Camões, Soneto 134
Uma vez mais traduzimos para o leitor um soneto do genial Petrarca, mestre indiscutível da lírica ocidental. Desta feita escolhemos um soneto da segunda parte do Canzonieri, seção que contém os sonetos dolorosos sobre a morte da amada Laura. Nossa tradução manteve as estruturas rítmicas, métricas e rimáticas. Petrarca, entre outras laudações que se lhe podem dar, foi o mestre de Camões na veia lírica deste nosso fundador da língua portuguesa.
CCCXI
Quel rosiginol che si soave piagne
Forse suoi figli o sua cara consorte,
Di dolcezza empie il cielo e le campagne
Con tante note si piedose e scote.
E tutta notte par che m’accompagne
E mi rammente la mia dura sorte,
Ch’altri che me non ho di ch’i’ mi lagne,
Che’n Dove non credev’io regnasse Morte.
Oh che lieve è inganar chi s’assegura!
Que ‘ duo hei lumi , assai più che ‘iSol chiari,
Chi pensò mai veder far terra oscura?
Or cognosco io che mia fera ventura
Vuol che vivendo e lagrimando impari
Come nulla qua giù dileta e dura!
SONETO CCCXI
Qual rouxinol tão suave a cantar
Aos filhos seus ou ao amor querido,
O campo e o céu, num canto comovido,
Tão docemente põe-se a modular.
E toda a noite cantando ao meu lado,
Vem consolar a minha dura sorte;
E lembrar-me, em meu pranto derramado,
Que não deve reinar a crua Morte.
Quão ilusória é a visão segura!
Os olhos dela, do que o sol mais claros,
Faziam toda a terra ser escura.
Conheço então minha fera ventura:
Ir vivendo e chorando sem amparos;
Como ninguém, sorte tão cara e dura.
Tradução de Everton Alencar
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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