Nesta edição do A Praça o leitor acompanha entrevista com o presidente da FCDL/CE- Federação das CDL’s do Estado, Francisco Freitas Cordeiro. O líder lojista faz uma síntese do atual cenário do Ceará, sob a ótica da Pandemia do Coronavírus e seus impactos no varejo e nas empresas.
A Praça- Qual tem sido o papel da FCDL/CE, enquanto entidade representativa do varejo cearense, nesta fase de Pandemia da Covid 19, com evidentes baixas de empresas, desemprego e as campanhas do poder público para minimizar os efeitos do vírus na saúde da população?
Freitas – A Federação, desde a primeira hora, nós já verificamos que iríamos atravessar um momento difícil. Sabíamos também que não éramos só nós, mas todo mundo. Então, nós elegemos dois grandes desafios naquele momento, que seriam merecedores de nossa atenção. Primeiro, teríamos que preservar vidas, e depois preservar as atividades econômicas. E a Federação, nos primeiros quinze dias de paralisação, nós somos testemunhas, até que se conseguiu atravessar, dentro de um clima de razoabilidade. Mas depois quando projetou-se para mais quinze dias, então a coisa começou a pegar, porque, as empresas sentiram a necessidade urgente de voltar às atividades. E a Federação, passou a trabalhar muito, com muito afinco, no propósito de diminuir ao máximo possível, esse prazo de paralisação das atividades, que são necessárias para as empresas, para a sobrevivência. Porque vem toda uma gama de problemas atrelados a uma paralisação dessas. Vem o desemprego, vem o desequilíbrio econômico, vem muita coisa.
A Praça- As medidas adotadas pelo governo do Estado, na concepção do senhor foram acertadas, ou têm deixado a desejar?
Freitas- Ficamos mais quinze dias e quando fechamos os trinta dias, eu passei a ter um convencimento, de que, das autoridades, era achatar essa curva, para evitar uma demanda aos hospitais, uma correria, como de fato a gente viu em alguns locais, inclusive aqui era muito complicado, quando o nosso sistema hospitalar, ele já estava esgotado, antes da epidemia. Com a epidemia, lógico, a tendência era esse quadro se agravar. Mas eu batia na tecla e continuo batendo, de que podíamos perfeitamente conciliar o monitoramento dos indexadores da saúde, com a atividade empresarial também monitorada e obedecendo a muitas restrições. E por que isso? Porque eu disse pra eles, os técnicos, os representantes do governo. Eu falei: ‘Olhe, nós estamos assistindo uma curva crescente, mas vocês não podem debitar esse crescimento à atividade empresarial, porque nós estamos fechados’. E por que essa curva cresce? Eu me antecipei e respondi, é porque o povo está nas ruas, a grande massa está nas ruas. E o governo, não vou criticar o governo, ele não tem como disciplinar o povo.
A Praça- O Ceará alcançou números recordes em casos de infectados e óbitos, em nível de Nordeste e nacional. Houve descontrole no início, erro de estratégia na fase preventiva de transmissão do vírus?
Freitas- A luta foi árdua, terminamos agora quando o governo estabeleceu o protocolo, criou um protocolo, como todo mundo já sabe, a federação não apoiou esse protocolo, ele é muito bem elaborado, tecnicamente, não posso fazer nenhuma crítica, mas ele tornou-se muito burocrático, e de difícil entendimento, para as empresas as quais ele era indicado. Ficou muito confuso. Ninguém sabe o que pode abrir hoje, o que não pode, e de fato ficou sem muita compreensão. Quando a nossa proposta era de que abrisse o varejo. Isso, respeitando as fases de controle, elas permaneceriam. A primeira fase, com regras, com restrições, bem duras, os monitoramentos também, que dizem respeito aos indicadores da saúde.
A Praça- O último Decreto assinado pelo governador Camilo Santana permite a abertura de alguns setores, principalmente da indústria. O senhor gostaria que mais setores fossem contemplados, ou não seria agora?
Freitas- O governo, ele optou por outra maneira, ele foi abrindo por segmento, isso para a Federação não seria interessante, até porque eu não tenho como justificar para os nossos associados, porque que um empresário abre e outro, não. Por que minha loja está fechada, se eu não contribuo para a infecção? São Paulo adotou essa mesma forma que nós sugerimos aqui, e por último vi que Nova Iorque também. Lá não se fala em segmento ‘A’ ou ‘B’. Lá usa-se ‘varejo’, comércio atacadista! Se divide assim, aí vem as regras, e essas têm que ser duras, não se deve abrir, afrouxar de uma hora para a outra. Agora, ter a regra e não conseguir efetivá-la é um problema! O povo continua na rua, e na periferia não parou um só minuto, nós sabemos disso, então, isso aí tem sido o fator de incremento da infecção.
A Praça- O estado vai precisar de um grande plano de retomada das atividades econômicas, nos âmbitos, produtivo e do comércio, na fase pós-Covid. O governo já sinaliza para montar esse plano com a participação das representações do varejo, FCDL, CDL de Fortaleza e outras?
Freitas– Lá na Federação, nós temos procurado fazer nosso papel, estamos ao lado do governo, o apoiamos, não é porque o nosso propósito não foi adotado, que não iríamos trabalhar para buscar uma solução. Isto vai dar mais trabalho, tem sido difícil conter nossos associados, pela ansiedade deles de voltar a funcionar, abrir o estabelecimento, mas é preciso dizer que foi a solução que o governo encontrou, que volto a dizer, mais uma vez que tecnicamente foi uma medida perfeita, pelo aspecto técnico, mas muito complexa, pelo lado prático, muita burocracia, como aliás são as ações governamentais, aliás, os técnicos, eles gostam muito de discutir burocracia.
A Praça – O comércio, particularmente no interior, tem sido fortemente impactado com as medidas restritivas dos decretos governamentais. Essas empresas precisarão de incentivo fiscal e financiamento bancário para retomar suas atividades. Isso está na seara das discussões como bandeira defendidas pela FCDL?
Freitas Cordeiro – No ano passado, antes da pandemia, em novembro, nós já estávamos nos mobilizando, pedindo ao governo que ele abrisse o REFIS, o refinanciamento fiscal, dos créditos tributários, que era uma maneira de incentivar, trazer para as empresas, e esse REFIS é tão criticado, e ele é uma avenida de mão dupla. Ao mesmo tempo em que ele ajuda as empresas, também robustece o caixa do Estado. Ele traz dinheiro para o caixa do Estado. Para se ter ideia, nós temos uma montanha de dinheiro no contencioso tributário estadual, ali oriundo de autuações, de grandes empresas que foram autuadas de uma maneira inconsequente e elas não se revelaram e preferiram contestar, então tem muito dinheiro ali sendo contestado, o que em cima dessas autuações vêm multas extravagantes, juros e correções, e na hora em que o governo sinaliza com o REFIS, ele está tirando esse entulho que pesa em cima das obrigações tributárias e as empresas se sentem estimuladas a pagar o tributo. Nós temos procurado como sempre fizemos, junto aos bancos, linha de crédito diferenciada para o varejo. Mas o momento não é fácil, porque o governo federal, de fato já criou muitas linhas, e que tem dinheiro até, e o importante é chegar ao dinheiro, isto tem sido o nosso desafio, porque vocês viram aí os recursos estão sendo liberados, mas as empresas, na situação em que se encontram, não tem condições de liberar o crédito. Porque os bancos não foram autorizados a dar dinheiro, a emprestar dinheiro, e o Banco precisa ter o retorno, tem que ter o mínimo de garantia, e isso não está ocorrendo. Está tramitando uma medida em forma de Projeto de Lei, e que agora sim, para as pequenas e médias empresas, os bancos vão diminuir muito, as necessidades, os requisitos dos cadastros, eles vão abrandar muito mais, na elaboração dos cadastros. Não é um dinheiro jogado fora, mas é uma análise, você precisa olhar o estoque do cidadão, da empresa, há quantos anos que ela trabalha, que está no mercado, não é um aventureiro, e tudo isso precisa ser levado em conta, muitas vezes entregando dinheiro a um aventureiro, ele fez um cadastro muito bonito, bem elaborado, com técnicas e o banco toma chumbo. E as empresas que têm um estoque, de vida e trabalho acabam prejudicadas.
A Praça – Na sua opinião quais os segmentos do comércio que sairão mais fragilizados da crise da Covid no Ceará?
Freitas Cordeiro – Essa análise é muito difícil de fazer agora. Ela vai ser mais pontual do que por segmento. Todos os segmentos estão penalizados, não tenha a menor dúvida, agora, algumas atividades vão ser beneficiadas, algumas serão beneficiadas, você sabe que o delivery cresceu e é uma oportunidade que gerou empregos, quem aprender a trabalhar com ela vai ter sucesso. Tem empresa aqui que no mês passado já conseguiu ter um faturamento de 40%, do que eram suas operações antes da epidemia. Os segmentos, todos irão sofrer e muitos vão ter que procurar alternativas. Essas empresas que estão conseguindo recuperar faturamento, trabalhando com delivery estão capacitando suas equipes, melhorando suas ferramentas, que isso tudo vai trazendo resultados. Porque resultado não vem gratuitamente. O delivery não vai ser emergencial. Ele veio como emergência, mas vai ficar. De uma necessidade ele fica por uma comodidade. O consumidor vai verificar que é muito mais cômodo, ele pedir na sua casa e para ele é bem melhor receber no domicílio do que sair para enfrentar trânsito, assalto e perder tempo dentro de uma loja que ele já conhece. Então, eu acredito que o delivery será um dos exemplos, e com o ele vem o e-commerce, as compras virtuais.
A Praça – A pandemia provocou alterações na agenda anual da FCDL/CE. Como será a retomada das atividades? O senhor já replanejou como será, por exemplo, a Jornada Integração?
Freitas Cordeiro – Nós estamos estudando as possibilidades, de trabalhar ainda neste momento, trabalhar ainda muito on-line, porque enquanto não tivermos uma solução medicamentosa, eficiente, para o combate ao vírus, ou então de uma vacina, nós não vamos voltar àquela vida normal. Mesmo porque o ser humano ele privilegia a vida. Agora, eu acredito que vamos ter uma solução com medicamentos, aí poderemos sair. A humanidade já passou crises maiores do que essa, guardadas as proporções e à época, a ‘Peste Negra’, na Idade Média, levou mais de 50 milhões de pessoas, e nós estamos longe desses números, aqui, mas o impacto foi grande e nós precisamos nos adaptarmos com todas as atividades no novo momento que vem aí. A federação vai continuar fazendo o seu trabalho, procurando estar e junto aos empresários, associados, parceiros, a nossa Jornada Integração, acredito eu, certamente naqueles moldes, por enquanto não faremos, mas estamos desenvolvendo ferramentas necessárias e oportunas, uma dessas é uma fantásticas que estaremos lançando inteiramente, tem aquela parte da conciliação e também desenvolvemos um e-commerce, uma plataforma, uma ferramenta fantástica que estamos lançando inteiramente completa na próxima semana, uma plataforma de compra online, e com um pacote diferenciado, uma ferramenta desenvolvida pela Federação e que se destina ao comércio do estado do Ceará, não só aos nossos filiados das CDLs, mas a qualquer atividade, a federação desenvolveu e vai atender.
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