Hilário, não fosse ridículo, o discurso do senador cearense Eduardo Girão na tribuna da mais elevada instância legislativa do país.
Num inglês de quinta, com que, pasmem, traduziu até mesmo seu sobrenome para o inglês norte-americano, expondo à galhofa seu esnobismo chulo, Girão (ou Giron, como ele prefere), entra para o “seleto” grupo dos oradores mais canalhas que já passaram pelo Senado.
Se mal construída e trôpega na articulação sonora, rasteira na escolha lexical, sintaticamente desastrosa, no plano da expressão, portanto, no plano do conteúdo a fala do senador repercute sobremodo pelo que trouxe de desnecessário, vazio de sentido e humilhante do ponto de vista moral.
Uma vergonha para os brasileiros, os cearenses em especial, que expõe o pensamento, servil e trouxa, de uma parcela numericamente significativa das bancadas que compõem aquela Casa.
Uma tragédia, conclua-se, digna de figurar nos programas humorísticos mais escrachados.
O pronunciamento de Eduardo Girão, tal como se pôde ver e ouvir, falando em inglês para colegas brasileiros, veio na esteira do que, na Câmara dos Deputados, constitui a mais deslavada e cínica, porque hipócrita, mobilização dos parlamentares de extrema direita contra a regulamentação das plataformas digitais. Hipócrita quando fala em defesa da liberdade de expressão referindo-se ao que é propagação de mentiras, ataques virulentos aos fundamentos da democracia e do Estado de Direito. Deslavada e cínica, porque ancorada em ideias como as de Eduardo Girão, um indisfarçado entusiasta do jogo de interesses forjados no complexo de vira-lata de que nos falou Nelson Rodrigues.
Com tantos argumentos de que poderia o senador Girão lançar mão para defender suas ideias, numa correlação de forças própria de todo e qualquer regime verdadeiramente democrático, ocupa ele a tribuna do Senado Federal para exaltar servilmente a figura de um magnata estrangeiro que faz pouco caso do Brasil, achincalha as leis do país e arvora-se no direito de dizer o que é melhor para o nosso povo.
Tivesse o senador cearense um mínimo de dignidade pessoal, em respeito ao cargo que ocupa, quando menos, e não faria um discurso tão vil e tão desavergonhado como o fez, dirigindo-se, noutra língua, em pleno Senado brasileiro, a uma personagem desprovida de qualquer escrúpulo como Elon Musk, que, além da riqueza gigantesca, tão-somente assume-se como o mais importante prócer do reacionarismo contemporâneo.
Para Elon Musk, para a extrema direita internacional, para os amantes do golpismo no país (leia-se bolsonarismo), para os endinheirados da Faria Lima e demais oportunistas da economia ultraliberal, é evidente: jamais interessará que se proceda a qualquer regulamentação das plataformas digitais. São elas o canal com que alimentam seus negócios, muitas vezes espúrios, e promovem o ideário neofascista que toma de assalto o Brasil.
Não se trata de coibir a liberdade, mas de preservá-la. A liberdade consiste em poder fazer o que não prejudica a outrem, diz a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Que assim seja.
Álder Teixeira é Mestre em literatura Brasileira e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais
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