Homem salvo de engasgamento se recupera bem e já está em casa

22/03/2025

O bancário aposentado Francisco de Assis Mendes, 66, se recupera bem em casa, depois do susto que viveu na noite do dia 3 de março (segunda-feira de Carnaval), num restaurante de Iguatu, quando se engasgou com a própria comida e ficou por cerca de seis minutos desacordado e sofreu parada cardiorrespiratória. Mendes estava jantando no restaurante Vila da Telha com a esposa Terezinha, a filha Natalya e o genro Emídio Rocha, médicos, quando tudo aconteceu.

Francisco de Assis ainda estava na mesa no jantar quando se engasgou com um pedaço de carne e já sem fôlego levantou e se dirigiu ao banheiro. Foi o garçom Luciano quem primeiro visualizou o aposentado caído no acesso ao toalete e pediu ajuda. Numa mesa próxima estava o subtenente Viana, que percebeu quando o homem caminhou até o sanitário com sinais vitais comprometidos. Viana foi até onde estava o aposentado e ofereceu ajuda.

Os primeiros socorros foram prestados pelo médico Emídio Rocha, seu genro, e pelo subtenente Viana, militar do BEPI-Batalhão Especializado em Policiamento no Interior. Adalto, um personal trainer que estava saindo do banheiro, e viu o homem caído ajudou no socorro. Primeiro o médico fez a manobra de Heilinch, pressionando cinco vezes a área do estômago, na tentativa de desobstruir a entrada de ar dos pulmões, mas sem sucesso. Então eles passaram a usar outra estratégia com a vítima deitada numa sequência de 32 x 2 (32 compressões no epigástrico, região conhecida como ‘boca do estômago’ por duas insuflações de ar na boca da vítima). Depois Viana substituiu as insuflações da boca pelo nariz, foi quando a vítima deu o primeiro sinal de respiração após seis minutos.

Com os primeiros sinais vitais funcionando o aposentado foi atendido pela equipe do SAMU, que conseguiu fazer o transporte para a emergência do Hospital Regional de Iguatu, aonde outra batalha pela vida do aposentado foi travada pelos médicos que estavam de plantão.

Dr. Arthur Carvalho era um dos médicos plantonistas e relatou que o paciente chegou “com rebaixamento de nível de consciência, em uso de alto fluxo de oxigênio” sendo necessária a intubação orotraqueal para proteção de via aérea, onde foi visualizada grande quantidade de bolo alimentar em cavidade oral, sendo removida em parte. Segundo ele, o paciente evoluiu com hipotensão refratária a uso de drogas vasoativas até o momento da transferência para o Hospital São Vicente, já pela madrugada da terça-feira, 4/3. De acordo ainda com Arthur Carvalho, “devido ao estado que foi recebido, gravíssimo, e sua expressiva evolução clínica, pode se classificar como um verdadeiro milagre presenciado por todos que fizeram parte de seu atendimento inicial”, frisou.

O médico Roberto Mendonça, que também estava de plantão no HRI, relatou que o paciente chegou por volta das 21h20 respirando, mas com quadro clínico grave. Mendonça informou que administrou medicação intravenosa para manter o funcionamento do coração. De acordo com informações, naquela noite todos os leitos de UTI do HRI estavam ocupados, mas a equipe qualificada conseguiu manter o paciente vivo às custas de drogas em alta dose que mantinham o coração funcionando e o ‘ambu’, um tipo de ventilação manual.

“O que me causa gratidão, como cirurgião, não foi o fato de puncionar a veia profunda embaixo da clavícula do paciente, mas perceber que todo o sistema público e complementar, além do SAMU, conseguiu, mesmo com sobrecarga e num horário tão desafiador, deixar o paciente em condições de receber o verdadeiro milagre que foi uma recuperação totalmente sem sequela”, frisou.

O que os médicos temiam eram as sequelas que poderiam ficar por causa do tempo em que a vítima ficou desacordada sem respirar, na fase da parada cardiorrespiratória e a quantidade de sobra de comida que foi parar nos pulmões uma vez que a vítima bronco-aspirou alimentos quando vomitou no momento em que estava sendo reanimado e isto poderia em tese causar infecções.

O médico Emídio lembrou que um milagre aconteceu pelo fato de a vítima não ter ficado com nenhum dano cerebral que o levasse ao estado vegetativo. De acordo com o profissional, os danos cerebrais podem ser irreversíveis quando alguém passa seis minutos sem respirar, uma vez que o cérebro não está recebendo oxigênio e o máximo de tempo que o órgão pode ficar sem oxigenação para não deixar sequelas é de cinco minutos.

A parada cardiorrespiratória (PCR) é uma situação de emergência que pode levar à morte em poucos minutos. Ocorre quando o coração para de bater e a pessoa para de respirar. Foi o que aconteceu naquela noite com Francisco de Assis Mendes. Em determinado momento a porção de comida que ele ingeriu, ao invés de ir para o esôfago que leva ao estômago, foi pelo lado oposto e obstruiu a passagem de ar do pulmão, fazendo com que a vítima ficasse desacordada evoluindo para a consequente parada cardiorrespiratória.

No processo de deglutição o alimento é empurrado pela língua para a ‘faringe’, que leva ao esôfago e segue para o estômago. Quando ocorre de o alimento ir para a ‘laringe’ obstrui a passagem de ar e a vítima pode morrer em poucos minutos se não ocorrer o socorro rápido. Mesmo sobrevivendo, dependendo do tempo que durar a parada respiratória as sequelas podem ser graves e irreversíveis conduzindo o paciente para um estado vegetativo, por causa das lesões causadas no cérebro, resultado do tempo em que o órgão ficou sem receber oxigênio.

Emídio lembrou que um milagre aconteceu pelo fato da vítima não ter ficado com nenhum dano cerebral que o levasse ao estado vegetativo. De acordo com o profissional, os danos cerebrais podem ser irreversíveis quando alguém passa seis minutos sem respirar, uma vez que o cérebro não está recebendo oxigênio e o máximo de tempo que o órgão pode ficar sem oxigenação para não deixar sequelas é de cinco minutos.

Dr. Emídio ressaltou que um conjunto de ações favoráveis aconteceu naquela noite. O garçom Luciano que visualizou o aposentado caído na entrada do banheiro e avisou aos presentes, o subtenente Viana que percebendo a gravidade do quadro se apresentou voluntariamente para ajudar e foi decisivo na ressuscitação da vítima, a médica Natalya, filha da vítima, que acionou o SAMU usando um linguajar técnico, “parada no Vila da Telha, preciso de uma ambulância urgente”, o que foi de extrema importância para o SAMU chegar ao local em cinco minutos, os médicos do HRI que conseguiram remover parte do alimento que bloqueava a entrada de ar dos pulmões e estabilizar o paciente, a disponibilidade do médico Paulo de Tarso que cedeu a ambulância do Hospital São Camilo para fazer o transporte da vítima até o Hospital São Vicente, aonde ele ficou internado na UTI. A recuperação do aposentado surpreendeu a todos. A esposa Terezinha disse que um dos momentos mais felizes foi na manhã do domingo, 9, quando o Hospital São Vicente informou que o paciente estava respirando sem ajuda de aparelhos, consciente e sem nenhuma sequela.

Na quinta-feira, 20, pela primeira vez aconteceu o encontro entre o aposentado Mendes e o subtenente Viana após a ocorrência do engasgamento. O encontro aconteceu na residência de Francisco de Assis Mendes, na Rua Francisco Adolfo. Foram momentos de fortes emoções. “Estou muito feliz de ver o senhor assim, em plena recuperação”, disse. Mendes pôde agradecer pessoalmente ao militar o gesto dele em perceber sua situação de saúde em que ele se encontrava e se oferecer para ajudar. “O senhor salvou minha vida, sou muito grato, me falta palavras para agradecer”, ressaltou.

Viana compareceu acompanhado do subtenente Veríssimo e outros cinco integrantes do COTAR-Comando Tático Rural grupo ligado ao BEPI-Batalhão de Policiamento Especializado do Interior, em duas viaturas da corporação.

Francisco Robério Oliveira Viana, subtenente do BEPI, está na Polícia Militar desde 1998. Fez curso preparatório em APH-Atendimento Pré-hospitalar, uma das disciplinas do 2º curso mais difícil do Grupo de Ações Táticas Especiais-GATE. Um homem simples, mas de grandes habilidades profissionais, não só nas operações ostensivas, mas em ações de salvamento, como a que aconteceu com o aposentado Mendes. Há menos de 15 dias da ocorrência no Vila da Telha ele interviu numa ocorrência com um rapaz no Abrigo Metálico de Iguatu, que havia se engasgado com um bombom. Desta vez com a vítima ainda consciente o militar aplicou a manobra de Heilinch e a vítima expeliu o objeto, se recuperando totalmente do susto.

Um homem simples, brincalhão, bem-humorado, de muitos amigos, que vive dias de reconhecimento pela sociedade civil, os amigos e familiares do aposentado resgatado. Virou celebridade por onde tem passado. É comum alguém pedir para fazer uma foto com ele e compartilhar em rede social. Subtenente Viana, de modo humilde, afirma que não se sente um herói, que este é o papel do cidadão devendo estar pronto para ajudar o próximo e foi Deus quem operou o milagre, sendo que ele e os demais envolvidos apenas foram usados como instrumentos.

Dr. Caio Wilggner de Lima Oliveira, médico plantonista do Hospital São Vicente, que recebeu o paciente já na madrugada da terça-feira de carnaval, ressaltou que o que aconteceu com o seu Francisco é um evento raro na medicina. “Primeiramente Deus, que em sua infinita bondade nos capacitou e permitiu participar do tratamento do doente e em reestabelecer sua saúde, em seguida todo o apoio fornecido ao Francisco. Desde o atendimento inicial (que, incontestavelmente é o mais importante), até o suporte no HRI e em seguida na UTI do HSV, incluindo todos os profissionais das diversas categorias envolvidos no cuidado ao doente crítico, foram decisivos neste acontecimento que jamais será esquecido por nós, pelo paciente e seus familiares. Sou grato de estar naquele lugar naquele dia e poder guardar para sempre esta história de vitória gigantesca. Isso me motiva cada vez mais a continuar aprimorando os conhecimentos e poder prestar um atendimento cada vez melhor a quem mais precisa, geralmente no pior momento de suas vidas”, lembrou.

O caso registrado em Iguatu repercutiu no âmbito da corporação militar do Ceará, à qual subtenente Viana faz parte. O militar recebeu votos de parabéns e os cumprimentos de seus comandantes Cel. Daniel Lima, comandante do BEPI e Coronel Cavalcante, comandante do CPChoque.

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