Ainda na fase de desenvolvimento, o III Experimento Competição de Cultivares de Trigo no Instituto Federal de Ciências e Educação – IFCE, campus Cajazeiras, em Iguatu, tem surpreendido pela precocidade e expectativa de alta produtividade. Em uma pequena área, foram plantadas oito variedades das cultivares doadas pelas Embrapa Trigo e Universidade Federal de Lavras – UFLA/Minas Gerais. As cultivares Brilhante, BRS 404, BRS 394, BRS 264, BRS 254, ORS 1403, ORS FEROZ E TBIO DUQUE, foram plantadas no dia 13 de maio.
A iniciativa partiu do professor da unidade, Braúlio Gomes, doutor e mestre em ciências, que comemora os bons resultados obtidos até o momento. “Aqui é um experimento científico de blocos casualizados, que nós fizemos o sorteio, onde cada bloco sorteado recebeu as cultivares e aí a gente vai comparando uma com a outra. É um experimento de competição de cultivares pra gente identificar quais são as cultivares ou genótipos melhores, por exemplo, para produzir no Ceará. Inicialmente visamos principalmente a questão de produção. Primeiramente produção. Aí depois vem questão do perfilhamento de ciclo. O que a gente viu aqui algumas cultivares apresentaram um ciclo muito curto. Parece que a gente está plantando até feijão, que é um ciclo de pelo menos 75 dias, quando lá no Sul é 140 dias, até mais. A produção de trigo no Ceará já tem sido experimentada, não assim cientificamente, mas o pessoal da Agrícola Famosa, em Limoeiro do Norte, há cerca de três anos vem plantando em lá e em outras regiões, e isso vem contribuindo com a chegada do trigo que vem descendo aqui para a Região Nordeste. O Nordeste seria uma fronteira agrícola para essa cultivar”, explicou.
Pesquisa pioneira
O professor apontou que a cultura do trigo ficou concentrada muito tempo na Região Sul, depois sendo plantada no Paraná, Minas Gerais, entrou no Cerrado e já está chegando ao Nordeste. “Vejo o Ceará como um estado muito importante para essa produção de trigo. Pelo nosso experimento a gente já nota a diferença. Podemos ver que as cultivares BRS 254 e a BRS 264, da Embrapa estão se sobressaindo melhor neste período agora (maio) quando foram plantadas, porque antes elas não se deram bem nos outros dois experimentos que fizemos. Já estão com cerca de 90cm de altura, estão em estágio de emissão de panículas, abriram as anteras e já fez a fecundação, agora estão formando o grão, que é a semente”, comemorou, explicando ainda outro fator importante para o desenvolvimento do trigo, que já tem sido testado em algumas altitudes maiores. “Supõe que a altitude de 600 metros ela seja melhor. Aqui, nós estamos numa altitude de 200 metros ao nível do mar, mas está se mostrando que algum desses grupos, dessas cultivares são também possíveis de serem plantadas em altitudes mais baixas. Isso é muito interessante para ampliar e estender o plantio. E a novidade é porque ninguém aqui conhece o sistema de plantio dele. Nós aqui estamos aprendendo, tentando identificar as variáveis. O que pode melhorar, o que não pode. É uma pesquisa pioneira. Nós temos a parceria com a Embrapa Trigo, com a UFLA, Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais”, explicou.
O pesquisador mostrou o comparativo entre as cultivares, as três enviadas pela universidade, que apresentam um desenvolvimento mais tardio, sendo que todas foram plantadas na mesma data. “A gente vê que ela não desenvolve bem porque as cultivadas mais nas regiões mais frias, da Região Sul, Paraná”, complementou, ressaltando que espera apresentar os resultados em agosto. “Nossa ideia é fazer um dia de campo. Contamos com o apoio da direção da nossa unidade. Vamos seguindo com os experimentos”, disse o professor, apontando os bons resultados de plantações de trigo em Limoeiro do Norte. “Essas plantações de trigo de 2019 para cá, experiências com pessoal donos de moinhos, da Agrícola Famosa, mostram que eles conseguiram a produtividade em torno de 5.300 quilos por aí. Quando pode ser se visto que no sistema irrigado melhor a produção pode ser ainda até maior. Mas, a produção dela no modo geral na Região Sul fica em torno de 2.500 quilos. Aqui quer dizer que se produz mais. O dobro da produção. É isso que é interessante porque temos três grandes moinhos nacionais aqui no estado do Ceará e que compram muito trigo, importam muito. Vejo um bom caminho para o desenvolvimento de uma cultivar que o Nordeste possa produzir com boa produtividade e qualidade para abastecimento interno nacional. É claro que tudo isso a longo prazo”, complementou, ressaltando que é uma área que deve ser bem mais estudada.
Grande potencial
O engenheiro agrônomo Pedro Henrique Gomes, filho do professor Bráulio, que mora em Minas Gerais, participou recentemente do Fórum Nacional de Trigo e da 15ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, em Brasília. “O evento teve como foco principal a autossuficiência do Brasil na produção de trigo e a expansão desse trigo para regiões tropicais, incluindo o Cerrado e Região Nordeste. O presidente da Embrapa Trigo e o Ministério da Agricultura apresentaram a grande importância para o Brasil do trigo para a segurança alimentar brasileira e autossuficiência. O Brasil consume cerca de 12 milhões de toneladas de trigo ao ano, sendo que importa 6 milhões. Então a gente tem um déficit de seis milhões de toneladas ao ano. Com isso a produção de trigo no Nordeste brasileiro, não só no Ceará, mas Piauí e Bahia, é visto como uma opção para esse mercado, porque temos áreas tropicais abertas, a Embrapa possui cultivares como a BRS 264 e 404 que são adaptadas a essas regiões tropicais e vem se destacando não só pela sua produção, mas como também com a precocidade, tendo ciclo produtivos muito menor que na Região Sul, que é ultrapassar os cem dias, e aí no Nordeste a gente consegue com setenta e cinco dias. É uma boa precocidade. Em áreas irrigadas bateu recordes com uma alta produção”, pontuou.
Pedro apresentou também que o Ceará é uma grande potência na industrialização do trigo. “Isso mostra que o trigo é o produto mais importado pelo Ceará, correspondendo a cerca de 20% das importações do Ceará, correspondendo a cerca de 80 milhões de dólares. A gente tem uma planta industrial que se destaca nacionalmente, com a melhor a melhor planta de recepção de trigo importada da América Latina, só perdemos para São Paulo na industrialização de trigo. O Ceará tem três grandes empresas como a J. Macedo, o grupo M. Dias Branco e outros moinhos do Grupo Jereissati que se destacam nacionalmente. Até aqui na Região Sudeste possuem grandes negócios. A gente vê essa expansão do trigo não só no Ceará, mas no Nordeste, como um futuro e que pode ser sim consolidada através de políticas públicas que a Embrapa já tem executado como teste de cultivares aí no Ceará, no Piauí, na Bahia, no Sergipe com resultados positivos”, declarou.
Viável
O agrônomo afirmou ainda que é importante a criação de escalas produtivas. “O trigo aí no Ceará e na região do Matopiba, onde está entrando a soja, no Ceará, vem como opção de safrinha, um complemento para o ciclo da soja que está chegando em São Benedito, no Norte do Estado. Já temos áreas com mais mil hectares de cultivo de soja em sequeiro. O trigo pode ser uma opção para a safrinha da soja, que reduz o custo de produção de produção, podendo combater as pragas e doenças da soja, com a difusão da monocultura da soja. Além do trigo grão, que é irrigado, a gente também tem capacidade de produzir o trigo sequeiro, sem irrigação. Esse trigo, acima de 3 toneladas por hectares, torna-se totalmente viável para regiões semiáridas e regiões do Cerrado, que é o trigo tropical que a gente busca”, complementou, enumerando outras dezenas de benefícios de redução de custo de produção de cultivo do trigo no Nordeste.
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