O “Tertúlia” nasceu em meio ao isolamento social da pandemia da Covid-19, quando Mauro César fez uma grande imersão, retornando às suas raízes em pleno sertão cearense, mais precisamente no sítio Cachoeirinha, zona rural de Solonópole, no Sertão Central. “Me embrenhei na caatinga e busquei na memória os sons, cheiros, texturas e paisagens do sertão com a intenção de estabelecer conexões com minha infância e, ao mesmo tempo, um desejo de homenagear meus ancestrais. Surgiu ainda maia a vontade de fazer essas coisas pelos caminhos da arte e da alegria que curam”, contou.
O artista retrata que desse modo surgiu o solo musical com narrativa construída a partir de 17 músicas da obra de Jackson do Pandeiro e sete minicrônicas de sua própria autoria, que tecem desde o imaginário profundo do sertão central cearense à criação dramatúrgica e cênica do espetáculo, por meio de uma atuação que transita entre a teatralidade e a performatividade, compartilhado com o público ao rememorar as tertúlias nas comunidades da zona rural.
A apresentação acontece a partir das 19h30 no Espaço Cápsula Cultural, na Rua Major Pedro Alcântara, 68, Bairro Cocobó, ao lado do antigo prédio da Mais FM. A entrada é gratuita.
A atuação, dramaturgia e direção é do próprio Mauro César, que além de diretor, é ator, performer, palhaço e também pesquisador. “Minhas pesquisas partem de interesses em processos criativos em corporeidades, política dos afetos, educação anticolonial e eco-performance”. Com esse contexto, o projeto tem circulado com o objetivo de democratizar o acesso à arte cênica e à cultura. “Esse é um dos objetivos: fortalecer o sentimento de pertencimento das comunidades com a cultura local a partir da ancestralidade, além de valorizar a vida rural a partir da cultura e práticas artísticas”, contou.
A direção musical é do maestro Luís Cláudio Maciel, músico multi-instrumentista e produtor musical. Figurinos, cenários e adereços são de João Vitor, que realiza trabalhos com movimentos culturais, artista no âmbito da dança, teatro, fotografia, artes visuais, atividades folclóricas, artesanato, produção de conteúdo audiovisual.
Praticáveis
Ontem, sexta-feira, 17, Mauro César e a atriz argentina Verônica Bonilla, com o apoio do coletivo internacional Translocadas, se apresentaram em Solonópole, terra natal do artista. “Nossa estreia aqui no Brasil com trabalho artístico performativo, através do nosso coletivo artístico internacional Translocadas y producciones artísticas en red”, destacou César.
O espetáculo são dois artistas cênicos que se encontram e se desencontram nos avatares da preparação da cena, nos bastidores, nos camarins, entre outros espaços mostrando para o público o trabalho do ser artista. “A partir das contradições, lutas, exigências, satisfações e tristezas, a performance busca refletir e enfatizar os estereótipos de gênero, o racismo, os preconceitos e os privilégios no mundo das artes cênicas, as dificuldades e exigências para permanecer no mundo artístico como trabalhador/as”, comentou.
O projeto foi selecionado no edital Iberescena 2022 para a coprodução de espetáculos de Artes Cênicas, com o apoio da Fundação Nacional de Artes – Funarte-Brasil, e já esteve em turnê pela Colômbia e Argentina durante 2023. “Mauro César é um exímio artista, com uma trajetória bonita pelo teatro. É um artista talentoso, capacitado e com ideias e posições críticas elevadíssimas. É uma honra muito grande e uma felicidade maior ainda ver o Mauro César em cena, em sua/nossa própria cidade Solonópole, onde o espetáculo será apresentado. Solonópole está de parabéns por receber o espetáculo internacional e no elenco ter um filho da terra, que retorna ao seu berço para mostrar a beleza da arte e da cultura. Que privilégio para nós de Solonópole”, declarou a professora universitária e admiradora das artes, Socorro Pinheiro.
Perfil
Mauro César é doutorando em Artes pela Universidad Nacional de Córdoba – UNC/Argentina, mestre em Artes Cênicas e especialista em Estudos Contemporâneos em Dança pela Universidade Federal da Bahia – UFBA. Graduado em Arte Educação, Faculdade Integrada da Grande Fortaleza-UNIGRANDE, possui graduação em Letras e Especialização em Literatura Brasileira pela Universidade Regional do Cariri – URCA. Membro fundador do Grupo Oitão Cênico, desde 2009, grupalidade de contínua investigação guiada por uma práxis das sensibilidades como eixo criativo de uma poética cênica. Integrante do Coletivo Artístico Translocadas (Argentina/Brasil/Paraguay) e do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Corporeidades – GIPE-Corpo/UFBA.
Quem quiser conhecer mais sobre o coletivo internacional Transloucadas e o trabalho de seus integrantes para acessar o perfil: @coletivo_translocadas.
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