No final da tarde da quinta-feira, 20 Iguatu, se despediu de uma de suas filhas ilustres, a servidora aposentada do INNS, comerciante, e líder religiosa Francisca Vilma Castro Bezerra, 75. Tia Vilma, como era carinhosamente chamada, faleceu na quarta-feira, 19, após longo período de internação hospitalar, vítima de câncer. Ela partiu calma e serena deixando um vazio impreenchível, no seio de sua família que tanto amava, seus amigos e sua legião de admiradores.

O velório aconteceu no Memorial Caminho da Paz, na Av. Perimetral, durante toda a noite da quarta até a tarde da quinta-feira, quando o féretro foi conduzido em cortejo para a Igreja de São José, na Rua 13 de maio, onde aconteceu missa de despedida, em seguida para o cemitério Parque da Saudade, onde foi sepultada.

No percurso da Perimetral até o local da missa, e de lá até o cemitério, homens da Polícia Militar, Guarda Civil e Demutran ajudaram a organizar o trânsito, para a passagem do cortejo. Próximo ao Hospital São Camilo, empreendimento de um dos filhos, o cortejo parou e ela foi saudada com uma salva de palmas. A mesma cena se repetiu na igreja de São José, momento da entrada e ao final da celebração, com os reverendos Ricardo e Gil. Na Rua Monsenhor Coelho, endereço de sua vida inteira, foi a última passagem, em frente a sua casa. Outra parada foi na Rua Dr. João Pessoa, ao lado da matriz de Senhora Santana. Um instante de saudade, dor, emoção.

Legado

Francisca Vilma Castro Bezerra foi uma mulher à frente do seu tempo. Após sua aposentadoria como servidora do INSS, tornou-se pioneira na arte de confecção de peças de crochê, pela habilidade que adquiriu com as linhas e ornamentos e adornos com bordados, uma prenda das mulheres do século passado, que ela herdou da avó e mãe.

Ela trabalhava com sua arte na loja Ceará Enfeites, (Rua Santos Dumont, Centro de Iguatu), empreendimento que ajudou a construir e cuidou, com muito amor, junto com o esposo Emilson Bezerra, no casamento que durou 56 anos, até a despedida naquela tarde triste de quinta, véspera do feriado de Tiradentes.

Inequivocamente, Vilma deixa como exemplos mais visíveis de sua vida seu legado como mulher empreendedora, mulher de fé inabalável, mãe, sogra, avó amorosa. Isso ficou nítido nas palavras com a voz embargada de um dos filhos, Vilson Bezerra, na missa de despedida. No último cântico na igreja, Vandeir Fernandes entoou a trilha que ela amava ouvir nas celebrações. “Tu és meu grande tesouro, tu sempre me deste amor, sempre encontro aquela alegria de me libertar…”. A igreja foi às lágrimas, com a voz trêmula de Vandeir, que lembrou os bons momentos de aprendizado com Vilma, na Renovação Carismática Católica, que Vilma ajudou a fundar em Iguatu. Outro momento guardado com emoção foi nas palavras de Raquel Pereira, colaboradora da loja Ceará Enfeites, por 18 anos. Emocionada, Raquel revelou o quanto dona Vilma foi importante em sua trajetória, estando presente em tantos momentos de sua vida e nas conquistas inesquecíveis, como a compra de sua casa, sua formação acadêmica. “Foi um privilégio conviver com ela e aprender tanto. Uma mulher para além do seu tempo, perfeccionista em tudo que ia fazer, uma anunciadora da palavra, amiga e confidente de todas as horas. Vá em paz!”.

Dona Vilma deixa saudades e exemplos de mulher forte, que nunca se deixou abater pelos desafios enfrentados. Era uma fortaleza em sabedoria, solidariedade, compaixão e ternura. Seu tom de voz, sempre baixo e harmônico, era um convite para ouvi-la com atenção.

Por muitos anos atuou como colaboradora na Renovação Carismática Católica, e foi cooperadora direta na formação de muitos jovens vocacionados para a vida sacerdotal. Além disso, construiu tantos laços afetivos com as pessoas, ampliou seu leque de amizade, o que a tornava ainda mais querida e admirada. “Uma das mulheres sempre dispostas a ajudar. Por incontáveis vezes até hospedava padres e bispos em sua própria casa, compartilhando com aquelas visitas ilustres, um pouco da intimidade e privacidade do aconchego de seu lar e família”, relatou a amiga Marli Lavor.

Partiu para a morada do pai, com seu dever e obrigações muito bem cumpridos. Foi exemplo no que fez, como mulher, empresária e cristã. Com a sociedade, maior pilar da vida social, deixou seu maior legado. Com seu esposo Emilson teve três filhos, grandes profissionais atuantes, em suas respetivas carreiras: o médico Paulo de Tarso, empreendedor do Hospital São Camilo e da Clínica Cuidar, editor-chefe do A Praça, Samuel Bezerra Neto, biomédico, atualmente coordenador da Vigilância Sanitária do município, professor universitário, e o coronel Vilson Bezerra Castro, hoje na Reserva da Polícia Militar do Estado do Ceará, além de sete netos.

Tia Vilma foi em vida um lastro de doçura, resignação, resiliência, sabedoria, amor, empreendedorismo, fé cristã, amizades, perfeccionismo e muito família. Sua presença iluminava qualquer lugar. Mesmo calada, ensinava lições. Abnegada esposa, mãe, avó, tia, cunhada, irmã, amiga, suportou adversidades e manteve-se firme com muita paciência e personalidade. Sua calma e sua generosidade contagiavam todos ao seu redor. Sua intelectualidade e sabedoria ultrapassaram o tempo e fizeram-na uma mulher admirável. Agradeço infinitamente as vezes que pude desfrutar de sua presença. Era-me agradável vê-la sorrir e gargalhar com as piadas, muitas delas bem bobas. Inigualável era a forma como nos tratava, desde crianças, a atenção com mamãe, meus irmãos, depois com minha família, esposa Carla e meus filhos Manu, Mica e Roberto Filho, o carinho e o amor demonstrados com sorriso puro e abraço sincero, acolhedor, abençoador, envolvente. Comigo, sempre foi incentivadora e amorosa. Ficam as lembranças, as memórias e as lições de quem em vida fez o bem e espalhou o amor. Obrigado por tudo, tia Vilma. Seu sobrinho, José Roberto.