Deixando um legado no cenário cultural da cidade de Iguatu, faleceu na última segunda-feira, 19, Francisco Prudêncio de Oliveira, 52, Mano. A partida do maestro deixou abalada, além de familiares, comunidade composta por milhares de alunos que abraçou os seus ensinamentos. No fim da última terça-feira (20), marcado por emoção aconteceu o sepultamento. O caixão com o corpo do músico foi conduzido por carro do Corpo de Bombeiros.
O velório ocorreu no Salão Paroquial Senhora Santana. Em carro aberto, o trajeto do adeus percorreu ruas que marcaram a trajetória de vida do músico. Nas vias onde ficam situados o Teatro Pedro Lima Verde, Escola de Música Popular Humberto Teixeira e o Bairro Santo Antônio, comunidade onde residiu por vários anos, populares e servidores dos equipamentos acenavam com gesto habitual da despedida.
A banda de música que ele regeu por 27 anos acompanhou o percurso. Em cada parada os músicos entoavam canções como ‘Amigos para sempre’, ‘Está chegando a hora’ e ‘Eye of The Tiger’ marcada pelo filme do lutador de boxe Rocky Balboa. A canção que Mano gostava podia ser a trilha sonora da superação de um problema de tireoide. Mas quis o destino que ele perdesse a luta que batalhou contra um raro câncer ocasionado pela ingestão de metais como cobre, metal e zinco dos instrumentos que tocou por mais de 30 anos. A doença sem tratamento o fez se afastar em janeiro do que mais gostava: a regência.
Legado
Com habilidade na manutenção e execução de todos os instrumentos, eram incontáveis o número dos que sabia tocar, sejam de sopro, de corda e teclas. Dominava as técnicas de canto e regência. Com perfil paciente, sua calma era marca caraterística assim como a pontualidade.
Leitor insaciável, Mano era estudante de espiritismo, possuidor de um acervo bibliotecário. Muitos afirmavam que seu grau de mediunidade era aguçada desde a infância.
O multiinstrumentista era também professor, pedagogo, regente das fanfarras do município de Iguatu, além de desenvolver trabalhos como regente de bandas municipais das cidades de Quixelô, Cariús, e regente de coral nas empresas Dakota S/A, Unimed e Fundação Edvane Mathias, bem como histórico colaborador do Projeto Arte Criança.
Com seu ateliê, Mano se arriscava como artista plástico, fazia seus desenhos, esculturas, móveis e peças decorativas. Não as comercializava e sim presenteava as pessoas com quem simpatizava. Foi criado pela família de sua mãe que faleceu no seu parto. Seu pai morreu quando tinha 05 anos. Um livro estava sendo escrito por ele. Os filhos anunciaram que pretendem terminar e publicar, mas ainda sem data prevista para o lançamento. O maestro deixa a esposa Jaqueline Holanda, três filhos e netos.
“Sua caminhada foi tão bonita, cheia de alegrias e bons momentos. Pai sempre foi um cara tranquilo que deu muito amor a todas e todos que ele atravessou as vidas. Fez de sua vida uma grande escola livre de arte, construiu um império de artistas ligados por fortes laços de afeto e verdadeiros vínculos de amizade. Mano nos ensinou como fazer educação, segurança pública e socializar pessoas por meio de um instrumento musical. Fez um profundo trabalho de transformação nas periferias, encaminhou muitos profissionais a seguirem um destino honesto nas suas vidas e viver de arte, de música. Passou por inúmeras instituições e entidades e acabou fazendo história na Banda Municipal de Iguatu. Foram 30 anos dedicado à coisa pública sem nenhum dia de férias. Inúmeras famílias atravessaram nossa caminhada e fomos todos transformados a cada ano que passou. Em nome dele, de minha família, agradecemos o imenso carinho que todo o povo teve nesses últimos dias. Sei que ele está feliz e em paz, o bastão segue agora comigo, meus irmãos e amigos que assumimos o compromisso de continuar sua obra e permanecer promovendo encontros transformadores na vida de quem só precisa de oportunidades”, Michel Prudêncio, filho
“Tive o prazer de conhecê-lo há 40 anos quando morava no tão conhecido bairro Santo Antônio, especificamente em frente à Praça Ari Brasil, onde morou por muito tempo. Posso afirmar que Mano era um ser de luz, sempre paciente e pronto a ouvir a quem o procurava. Um profissional incrível. No Projeto Arte Criança, foi professor de percussão. Fez parte da diretoria como tesoureiro, e também professor do Grupo Sol Nascente. Foi desse grupo que saíram vários artistas que hoje são referência na música de nossa cidade. Ao longo desse tempo, fui trabalhar na Secretaria de Cultura e Turismo, onde novamente nos encontramos profissionalmente. Pude acompanhar como regente da Banda Municipal Maestro Manuel Ferreira Lima. Regia a banda com perfeição e dedicação. Mano foi um grande parceiro nesse universo da Arte. Para mim, ele foi um irmão de todas as horas sempre em minha família. Um irmão que Deus me deu de presente. Mano humano se foi. Jamais esquecerei essa sua forma simples”, Chalena Pereira – Presidente do Projeto Arte Criança
“Falar dele é muito fácil, pois convivi ao seu lado por quase quatro décadas. Conheci-o em um treinamento para fazermos parte do Projeto Arte Criança. Eu ia fazer o treinamento para ser monitor assim como ele. Fazia oficinas de danças e Mano era monitor de reforço escolar. Nós sempre trabalhamos juntos. Entrei na Banda de Música e ele também. Sempre foi um amigo, irmão e com uma bondade inigualável formou vários e vários músicos de perder a soma. Ajudei na formação de mandas municipais de Quixelô e Cariús. Acredito que o município de Iguatu perdeu não só o maestro da banda e sim um grande homem. Inteligente, culto um verdadeiro formador. Claro que a vida continua, mas a banda municipal, sem exceção, está de coração partido com a perda de nosso maestro”, Junho Gomes, amigo
“Difícil não ficar comovida com essa partida. Principalmente nós que somos do meio cultural. Mano sempre foi muito de aconselhar, de ajudar a todos. Um ser humilde e atencioso. Sempre como colega de trabalho pude acompanhar o seu empenho e preocupação em fazer o melhor pelos integrantes da Banda Municipal. Sou grata por ter convivido com o Mestre, uma referência de respeito às tradições e a cultura de nosso município”, Carlê Rodrigues, atriz e produtora cultural
“Um legado enorme e único que nosso Eterno Maestro, nosso amigo, um pai que a gente tinha fora de nossas casas nos deixa é pra carregar pela vida. Pra mim, que não tive uma figura paterna em casa, ele preencheu uma lacuna enorme, com seus conselhos, carinho e toda preocupação que ele tinha. Foi meu professor em corais, na minha primeira experiência em uma banda fanfarra, até chegada na banda municipal onde a gente ficou juntos até o seu último momento presente. Antes de partir, ele fez questão de deixar a gente bem tranquilo e sempre transmitiu uma paz enorme mesmo sofrendo muito como ele estava. Só tenho a agradecer a você, meu mestre”, João Anderson, membro da Banda Municipal
“Ah, Iguatu! Berço dos maiores compositores do Brasil, terra de muita inspiração musical que sempre rodeou e banhou essas terras com lindas letras e melodias que tocam nossos corações com muito amor. Nesse berço de partituras e emoções, o maestro Mano Prudêncio nos presenteou com uma musicalidade que transpassou todos os tons e métricas, com composições sociais e musicais que ficaram eternizados nos corações de cada iguatuense e dos que aqui foram acolhidos como filho nessa terra apaixonante. Mano viverá em nossas mentes e corações, sempre com o sorriso no rosto, simplicidade no coração, e fazendo o que mais amava, educando, tocando e musicalizando por cada canto, teatro, e ruas por onde passava. A sua regência não era apenas na Banda de Música a qual regia com maestria há 30 anos, mas na vida, foi um maestro com um coração gigante, de um amor incondicional pela sua família, Jaqueline, Michael, Michel, José e Malu, porém sua família perpassava a de sangue, se estendia a tantos filhos que adotou, através da música, Henrique, Sussu, Gildevan, os quais cito como representante de todos que compunham a banda, filhos que a música lhe deu para todo o sempre. Mano deixou um legado de obras que será imortalizada, no imaginário real, popular de cada cidadão e cidadã que o ouviu tocar. A arte sempre foi um elemento que alimentou a sua alma com os melhores e mais puros sentimentos, através da imensa dedicação à arte, iniciado no Projeto Arte Criança, ocupando a tão amada Regência da Banda de Música por três décadas, a Escolinha da Banda de Música, que colocou no campo musical tantos profissionais que hoje ganham o seu pão de cada dia. Seus ensinamentos sempre estiveram relacionados a construir um aprendizado baseado no respeito, amor, na dedicação, na técnica e emoção que só a música proporciona. Mano ajudou a formar seres humanos bons e profissionais com excelência. Compartilhar conhecimentos e enraizar o melhor da música foi o que Mano fez com o projeto a Hora da Banda Passar, levando às escolas o melhor da música, apreciada por centenas de crianças e adolescentes, através das escolas do nosso município, com todo o orgulho de ser esse músico íntegro e de alma melodiosa. Mano, os sopros dos seus acordes estarão para sempre vibrando e tocando nossos corações, levando as nossas almas as melodias mais encantadoras, que nos fazem viajar pelo sentimento de paz e leveza, com o orgulho de termos tido a honra e a felicidade de termos caminhado lado a lado, divulgando, cantando, tocando e encantando pelos caminhos culturais da vida! Amigo, vai à morada eterna, encantar com a sua música no céu e tocar ao lado dos querubins, mas saiba que deixará a família da cultura com lágrima nos olhos e coração sangrando com sua partida. Temos uma amizade muito grande por você e por toda sua família. Saudades!!!!!!”, Diana Mendonça, Selma de Jesus, Marcos Salmo, Maiane Souza, Cristiane Antunes, Chalena, Andresa, Helinho, Leo, Suderlan, Roberto, Michele Nascimento, Neudiane, Esaú, Cairo, Valdenor, Thiago, Carlinho, Chico de Paula, Carlê, Cascavel
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