Iguatuense Bernadete Mendonça: primeira mulher cearense a tirar autorização para pilotar avião

21/09/2024

Na oportunidade do lançamento do livro ‘Aeroporto Regional de Iguatu Francisco Thomé da Frota – do passado ao presente’, de autoria de Alfredo José Cavalcante Alves, lançado no dia 6 deste mês, na Câmara de Dirigentes Lojistas – CDL, uma das personagens que tem sua história ligada à aviação e ganhou um capítulo na obra, a professora aposentada Bernadete Mendonça. Ela esteve presente no evento e tem uma história bem interessante por ter sido a primeira mulher a tirar o brevê, autorização para pilotar aeronave particular, isso na década de 1960, por volta dos seus 19 anos.

Bernadete relembra que costumava subir em uma caixa d’água que tinha na casa onde moravam com os pais José Mendonça Júnior (Juca Mendonça) e Diva Araújo de Mendonça e seus irmãos, no Sítio Paraná, atualmente bairro de mesmo nome, próximo ao antigo campo de aviação, que mais tarde passou a ser o aeroporto de Iguatu. “Eu subia na caixa d’água para olhar os pousos e decolagens dos aviões de carreira, da Real Airlines, naquela época. Eu já era apaixonada por isso e depois minha amizade com Claútenes, Chico de Sandoval, como a gente chamava. Ele contava a beleza do que era voar. Eu ficava inebriada pela liberdade de olhar de cima tudo que a gente não via da terra. Eu ficava impressionada com tudo aquilo que ele me dizia”, contou Bernadete, relembrando um dos momentos mais triste naquela época de sua juventude, quando retornou de uma viagem ao estado da Bahia, soube da notícia que seu amigo tinha morrido em um acidente de avião com o instrutor. “Eu fiquei sofrida, mas não perdi a vontade de voar porque ele dizia assim: ‘avião pequeno não cai, a gente derruba’. O tempo foi passando. Sandoval, que era o presidente do aeroclube, trouxe um novo instrutor, inspetor Viana. Foi quando eu decidi que ia fazer aviação. Meu pai fez minha inscrição. Participei das aulas e fiz meu primeiro voo solo. Minha trajetória com a aviação foi de 66 a 68, quando me brevetei. Na sala eram 11 homens e só eu de mulher. Fiz tudo conforme foi ensinado, sem precisar de ser paparicada por ninguém. Depois da primeira aula me apaixonei”, contou.

Primeiro voo solo

A primeira mulher a voo solo, voar só, foi no dia 26 de julho, dia se Senhora Sant’Ana. “Santa por quem tenho muita dedicação. Foi no dia dela que fiz meu primeiro voo. Houve resistência do seu Sandoval, meu pai estava para fazenda porque sabia que eu iria voar. Mas fiz tudo direitinho. É tanto que o inspetor Viana me parabenizou por todo o que fiz durante o voo. Só que nesse meu primeiro voo tive que arremeter porque estava vindo para o pouso um avião da Varig, que tinha prioridade naquele momento de pouso. Arremeti, fiz o segundo contorno. Logo depois pousei também. O inspetor me deu os parabéns, assim como os pilotos da Varig, as pessoas que estavam chegando. Fiquei muito emocionada. Foi muito bonita a minha chegada”, relembra com emoção.

Depois desse momento, Bernardete passou a ser bastante indagada pelas pessoas sobre aquela sensação de voar, pilotar uma aeronave. “Todo mundo queria saber como era voar. Eu me sentia dona do mundo, pelo desejo de liberdade que naquele voo me proporcionou”, disse.

Naquela data ficou marcada a história principalmente na vida de Bernardete, no dia 26 de julho de 1966, quando acontecia o novenário dedicado a Senhora Sant’Ana. Bernadete foi primeira a mulher iguatuense a realizar esse sonho de pilotar avião. Após a conclusão das 40 horas de voo do curso prático, Bernadete foi à capital Fortaleza, junto com outros cinco alunos que fizeram as provas do Departamento de Aeronáutica Civil. Ela passou, conquistando a autorização para voar com brevê.

A obra de Alfredo Cavalcante conta também um pouco da história que no Ceará, na década de 1940, Hellyett Walker Siqueira, que também nutria paixão pela aviação, teria sido a primeira mulher a voar. “Tem essa história que ela teria voado, só naquela década, inclusive não tinha autorização para voar como piloto, mas sabia pilotar e inclusive, eu fui a primeira mulher a voar com autorização, ter o brevê de piloto”, contou Bernadete, agradecendo o carinho e boas recordações que teve durante o lançamento dessa obra.

 

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