Iguatuenses enfrentam a quarentena na Holanda, Portugal e USA

11/04/2020

Para tentar barrar a expansão do coronavírus, vários governos pelo mundo determinaram quarentena em seus países, com fechamento de serviços não essenciais, proibições de viagens e de reuniões. Alguns com regras rígidas, que incluem prisão para quem as desrespeita. Outros vão endurecendo as restrições com o tempo, em um processo de tentativa e erro. Segundo estimativas, um terço da humanidade está sob esse tipo de isolamento. O jornal A Praça entrevistou cinco iguatuenses em três países e perguntou como tem sido o dia a dia no confinamento – muitos deles se isolaram antes mesmo das determinações oficiais – e o que diriam a quem está começando agora a viver essa experiência.

Columbus, Ohio (EUA)

Entre os personagens da reportagem buscamos a história de Elton Brasil, 29, Engenheiro Eletrônico da Freehand Engineering, EUA. O iguatuense reside há 1 ano na cidade de Columbus, no estado de Ohio, que contabilizava até ontem 5.148 casos confirmados e 193 mortes. “Devo ser sincero que jamais imaginava ‘participar’ de uma pandemia na minha vida. Como um amante da História, sempre me deparava com esse termo apenas nas páginas dos livros, mas não na vida real. Porém, diante uma globalização tão acelerada, algo que estava acontecendo apenas nos confins da China, de repente entra na sua casa sem pedir permissão. “Mas isso é doença de cidade grande!”, “Isso não chega aqui não!”… Lembre-se que um eletrônico (que não é um ser vivo) fabricado na China chega às suas mãos, quiçá um vírus, que é considerado um ser vivo e mutável”, disse.

Elton Brasil, 29, Engenheiro Eletrônico da Freehand Engineering, EUA –

O epicentro do Covid-19 nos Estados Unidos é a famosa cidade de Nova Iorque, com 138.863 casos confirmados e 5.089 mortes. “Aqui, em Ohio, estamos isolados há praticamente um mês, o trabalho é de casa, suprimentos alimentares são serviços de delivery, 100% dos bares e restaurantes fechados e aglomeração não é permitida. Tais medidas foram anunciadas, quando se percebeu que o Covid-19 iria chegar mais cedo ou mais tarde ao estado de Ohio, o que resultou, ‘felizmente’, um crescimento não tão acelerado da curva exponencial dos infectados. Permaneceremos em isolamento social por tempo indeterminado. Modelos matemáticos visualizam que apenas em setembro teremos uma situação mais ‘confortável’, mas ainda com cuidados. É uma nova realidade na qual estamos vivendo, jamais vista pela minha geração e de muitos outros”, contou o engenheiro que mantém a coluna ‘Ciência com Café’ no A Praça, quinzenalmente.

Atlanta, Geórgia (EUA)

Também morando nos Estados Unidos, o caminhoneiro Charles Medeiros, 51, reside na América do Norte há 22 anos. Atualmente, mora em Atlanta, estado da Geórgia, com a esposa, três filhos e uma neta. O estado em que mora conta com 10 mil infectados. “No país, de uma maneira geral, o vírus se espalhou de forma muito rápida sem que pudéssemos acreditar no que estava acontecendo. Parecia uma cena de filme de catástrofe. Aqui em Atlanta não está sendo tão grave quanto Nova Iorque, mas também os casos não param de crescer. Aqui em casa, minha esposa e os filhos permanecem em isolamento social. Eu, como sou caminhoneiro, meu trabalho é essencial e para isso tenho autorização do governo para trabalhar. Contra esse vírus, o isolamento social é imprescindível. Tento ter o máximo de cuidado possível no meu trabalho e vejo que aqui todos estão empenhados em se prevenir do contágio. Eu costumo viajar entre a Geórgia, Alabama, Tennessee e as Carolinas do Sul e Norte, em todos esses lugares que vou, os cuidados estão rigorosos”, contou.

O caminhoneiro, Charles Medeiros, 51, está há 22 anos no EUA –

Portugal

A reportagem entrevistou duas iguatuenses que hoje moram em Portugal. Sheyla Márcia de Andrade, 46, vendedora, reside em Faro, capital do Algarve, há 11 anos. No mesmo país ainda moram a mãe irmã e duas filhas. “Aqui em Portugal, o avanço do vírus não é tão grave como nos outros países da Europa. Na região onde moramos, os números crescem lentamente, mas mesmo assim não deixa de ser preocupante. Aqui no Algarve estamos em quarentena desde o dia 16 de março, as pessoas só saem de casa para irem à farmácia ou aos supermercados. Os únicos comércios que estão abertos são farmácias, supermercados e hospitais. O isolamento social é a única maneira de prevenção para os números de infectados não crescerem como aconteceu em Espanha e na Itália. É necessário ficar em casa e ter o máximo de higiene possível. Como brasileira, amo o meu país e claro que vivo com o meu coração e pensamento dividido. Observo que os números no Brasil não são elevados em relação ao número de habitantes, mas mesmo assim é preocupante, pois observo que muitas pessoas não estão levando a sério o isolamento social. O vírus se transmite muito rapidamente e pode acontecer o pior, como está acontecendo nos Estados Unidos. O conselho que dou aos iguatuenses é que fiquem em casa. É difícil, porém necessário”, contou.

Sheyla Marcia, 46, vendedora, reside em Portugal há 11 anos – Foto Arquivo Pessoal

A fotógrafa Cleidivania Alves, 34, mora em Portugal há dois anos e meio, próximo à região de Lisboa com o marido. “Portugal por ser geograficamente muito pequeno e ter uma população de idosos muito presencial, teve um impacto muito grande com a proliferação. Mesmo com todo país respeitando rigorosamente a quarentena. Acredito que provavelmente causará um impacto financeiro e social muito grave no futuro. O isolamento social é um mal necessário, para o bem-estar de todos, acredito que assim ficaremos todos bem e evitaremos o avanço do vírus. Pensei a princípio em retornar ao Brasil, confesso. Mas é um problema mundial. Então achei melhor ficar e me proteger por aqui. Como o Brasil é grande, acredito que terá que tomar medidas mais rigorosas com a prevenção e higienização. Acho que por ser um país tropical acaba favorecendo nessa luta contra o Covid-19, eu creio que se todos fizerem o seu papel e a sua parte que é respeitando as medidas de prevenção, venceremos este mal, em nome de Jesus”, contou.

Cleidivania Alves Bezerra, ‘Cleide’, 34, está há um pouco mais de uma ano em Portugal –

Holanda

Na Holanda há 30 anos, Soraia Cavalcante Witteveen, 57, mora com o marido holandês. A filha deles reside em Lisboa, Portugal. Soraia trabalha três dias por semana para uma rede composta de 13 hotéis espalhados em todo país, que no momento estão todos fechados por decisão do governo. Mas com possibilidade de reabertura no dia 31 de maio. “Estou em casa o mais tempo possível e só saindo para fazer compras no supermercado. As instruções que recebemos é de ficar 1m e meio de distância de uma outra pessoa. O isolamento social é necessário para o combate à transmissão do vírus, já que cada dia o número de infectados e mortos em muitos países aumenta assustadoramente.  A Holanda, em relação ao Brasil, é um pais pequeno, o pais é dividido em 12 províncias e conta com 17 milhões de habitantes. No sul da Holanda, na província Brabant, onde se festeja muito Carnaval, lá foi onde começou o maior número de infectados pelo Covid-19 e depois rapidamente se espalhando pelo resto do país. Aqui na minha cidade temos mais de 60 pacientes hospitalizados, pelos dados oficiais de ontem à tarde, em todo o pais foram 2.395 mortes, 21 mil infectados e mais de 8 mil pessoas hospitalizadas. Desejo que todos fiquem bem, cumpram com as normas e conselhos de saúde local e que logo possamos abraçar nossos entes queridos”, relatou.

Soraia Cavalcante Witteveen, 57, mora na Holanda há 30 anos –

Esperança, saudade e alívio

Os iguatuenses entrevistados concordam que há esperança misturada com a saudade de casa e que o pior parece próximo de passar com o tão desejado sentimento de alívio.

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