“É urgente sobrevivermos ao ridículo do mundo contemporâneo. E para sobreviver a ele devemos desprezá-lo de alguma forma, como dizia o mestre Carpeaux. A verdadeira sabedoria passa, em algum momento, pelo desprezo do mundo a sua volta. Uma agenda para o contemporâneo é um ato de coragem”.
A era do Ressentimento – Luiz Felipe Pondé.
Nas conversas que tenho com os meus poucos – mas valiosos – amigos, que são homens acima dos trinta anos e, portanto, vivenciaram a última geração antes da detestável era do mimimi, percebo que as constatações que faço têm fundamento, pois os meus amigos também partilham das frustrações e dissabores de quem vive a contemporaneidade da imbecilidade sistêmica.
Em tempos de lacração e cancelamento, não é de se admirar que a demência invadiu todos os campos: a política (esta, aliás, é a principal responsável, penso, pelo estado de coisas do agora), a sociedade, a educação, as relações homem e mulher, a família… As bases que alicerçam o bom senso foram destruídas, ou, usando a expressão dessa gente tola: ‘‘desconstruídas.’’
Sob o pretexto de uma espécie de ‘‘evolução dos novos tempos’’, em detrimento dos costumes e valores que deveríamos preservar, assistimos à deterioração do homem pelo néscio. Nesse novo mundo, ninguém é mais homem ou mulher; ou melhor, agora cada um é o que quiser ou o que pensa ser, independentemente do que o seu sexo natural demonstra ser, inegavelmente.
Na era da imbecilidade sistêmica, a estrutura linguística foi à bancarrota. Agora temos asnos guiando asnos mediante a risível linguagem neutra – que de inclusiva não tem nada. Ou seja, um completo desrespeito para com a norma culta: escrita e falada. Um desrespeito para com a língua portuguesa, sem qualquer sombra de dúvidas, preclaro leitor.
Quando se fala em conservar valores que deram certo, que nortearam a boa procedência do homem até aqui, logo interpretam conservadorismo como reacionarismo – o que não é verdade. Isso é mero erro de semântica, típico dessa geração tapada – mas, entretanto, com ares de intelectualidade. Quando só se lê bobagens (isso quando se lê alguma coisa), é isso que acontece: o cérebro atrofia, fica limitado ao mundo fantasioso que criaram, e empurram, hoje, goela abaixo na gente.
São tempos difíceis, caro leitor. Ainda bem que nem todos entraram nessa onda patética do politicamente correto, dos mimados e ofendidos, dos ressentidos com o mundo, dos ‘desconstruídores’, dos patrulheiros militantes execráveis. Fico com os sãos aviltados, com os meus poucos amigos lúcidos e com os meus bons livros. Viver no ostracismo, aqui, é vantagem. Fuja dessa gente, da imbecilidade sistêmica, amigo leitor, antes que seja tarde, e lhe veja referindo-se a alguém como ‘‘amigue.’’
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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