O agricultor Hilderlângio Pereira de Lima mora do Residencial Dom Mauro Ramalho, no distrito de Gadelha, distante cerca de 13km do centro de Iguatu. Ele perdeu a produção de milho e jerimum, depois que o incêndio atingiu parte da vegetação nativa e áreas de pastagem na localidade, na última quarta-feira, 30.
“ O fogo começou por volta das 8h perto dos primeiros blocos de apartamentos. O vento fez com que o fogo se arrastasse para todo lado. Não demorou e correu aqui por trás, destruiu tudo. Perdi minha roça de milho e jerimum”, lamentou.
Mesmo com a ação direta de equipes do Corpo de Bombeiros, a vegetação densa e seca e os fortes ventos dificultaram o trabalho de combate ao fogo. Aves, insetos e até mesmo uma cobra fugiram do fogo que se alastrou por uma grande área. “Ninguém sabe quem colocou. Só o prejuízo que vem depois. Mas, é assim mesmo. Todo ano é desse jeito. E ninguém dá jeito. A gente fica com as perdas, mas é assim mesmo”, protestou o agricultor Valderez Coelho, que também perdeu roça de milho, feijão e fava. A produção seria para consumo próprio.
Nessa época, o trabalho de combate aos focos de incêndios é intenso. Foram mais de 10 horas de ação. O fogo foi controlado nas primeiras horas da noite. “Nesse período temos condições climáticas favoráveis ao incêndio florestal. Mas, o grande culpado é a ação humana. É aquela pessoa que vai fazer a limpeza de um terreno, do sítio, do quintal. Ao invés de dar destino correto para o lixo, acaba colocando fogo, queimando o lixo. Facilmente a ação se propaga. Um foco pequeno pode provocar um incêndio maior, porque no entorno das cidades principalmente no interior, há muita vegetação. Choveu bem, a vegetação está muito densa. Um fator preocupante. A folhagem seca é um material de fácil combustão”, explicou o tenente-coronel Mendes Júnior, comandante do 4º Batalhão da 1ª Companhia dos Bombeiros de Iguatu, ressaltando que em média são recebidas entre 8 a 9 nove ocorrências por dia, muitas vezes no mesmo horário, em cidades diferentes. “Nesse mesmo dia, tivemos ocorrência de incêndio florestal em Iguatu, Icó e Acopiara. Às vezes é uma falta de informação só, digo isso em relação àquele agricultor que tem a tradição de limpar o terreno ateando fogo. Eu não gosto de culpar essas pessoas. Mas, há outras técnicas de fazer a limpeza dos terrenos, sem ser com fogo. A gente precisa levar conhecimento para essas pessoas”, afirmou o comandante.
Crime ambiental
Muitos desses incêndios acabam sendo provocados em margens das rodovias, “às vezes uma bituca de cigarro jogada na estrada. Aquele agricultor que costuma plantar as margens das estradas e toca fogo para limpar. Tudo isso é arriscado, além de ser crime. Um incêndio desses atrapalha a visão dos motoristas, podendo até ocorrer acidentes por falta de visibilidade devido à fumaça”, comentou o oficial, afirmando ainda que é crime ambiental atear fogo seja até mesmo no quintal, monturo e em qualquer tipo de vegetação, principalmente porque está proibido em todo território a prática de queimadas. “Sabemos que está proibido. A gente vê muito no combate aos incêndios animais da fauna silvestre mortos. É uma tristeza. Além de árvores nativas só as cinzas. Mas, é necessário que essas pessoas, se denunciadas, se identificadas e comprovadas que causaram qualquer tipo de incêndios, elas poderão ser processadas por crime ambiental podendo ser até presa, além do pagamento de multas”.
Projeto Mata Branca
“Estamos vendo a possibilidade de trazer para cá o projeto ‘Protetor da Mata Branca’, que capacita bombeiros para ministrar oficinas para entidades rurais, associações, agricultores. O objetivo é treinar essas pessoas para um primeiro combate de incêndio. Também o principal de tudo a conscientização da prevenção. Esse projeto vai trazer não só a questão do combate de forma segurança, mas também com a conscientização de evitar esse tipo de fogo criminoso”, ressaltou o coronel Mendes Júnior, apontando ainda que durante o combate a um incêndio, há também o desperdício de água.
Ainda segundo os bombeiros, no combate no Gadelha, foram desperdiçados mais de 8 mil litros de água. Em muitas ocorrências são utilizadas outras formas de combate, mas a água é necessária na maioria das vezes.
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