IPHAN realiza prospecção arquitetônica na matriz de Senhora Sant’Ana

25/10/2024

O ETI – Escritório Técnico do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em Icó, realizou junto com paróquia de Senhora Sant’Ana e a Faculdade São Francisco do Ceará – FASC, por meio do departamento do curso de Arquitetura e Urbanismo, uma oficina de prospecção parietal das camadas pictóricas nas fachadas da igreja matriz de Senhora Sant’Ana, em Iguatu.

O evento foi aberto ao público em geral e alunos do curso de arquitetura e urbanismo. A ação faz parte do calendário de Educação Patrimonial desenvolvimento do IPHAN em Icó e na região. Ministraram a oficina Márcio Carvalho, arquiteto e urbanista, doutor em arquitetura e urbanismo pela FAUUSP e chefe do ETI em Icó, e Matheus Moreira, arquiteto e urbanista, mestrando em preservação do Patrimônio Cultural pelo IPHAN.

De acordo com Márcio Carvalho, a atividade faz parte da ação de firmar parcerias na região com expansão das ações do IPHAN no interior cearense. “Estamos em busca de estabelecer uma agenda de Educação Patrimonial, construindo uma rede de parceiros. Nesse processo, escolhemos a FASC, (curso de Arquitetura e Urbanismo) e a paróquia da igreja matriz para construir essa oficina de educação patrimonial para o experimento de prospecção arquitetônica das camadas pictóricas. É um interesse nosso de formar profissionais, de estabelecer esses diálogos essa rede de agentes, essas parcerias e fortalecer também a presença do IPHAN para além da sede em Fortaleza e Icó, também como uma cidade histórica que essa atuação do escritório abrange outros municípios da região”, disse.

Nova pintura

A oficina aconteceu na tarde da terça-feira, 22, na própria igreja matriz de Senhora Sant’Ana, quando os alunos tiveram informações teóricas e logo em seguida partiram para a prática: abriram “janelas” nas paredes externas no sentido de estudar as camadas ‘pinturas’ na igreja. “O trabalho que fizemos nas paredes da igreja foi descortinar as diversas camadas pictóricas para observar a composição cromática dessas fachadas e os diversos elementos que compõem, desde plano de paredes, esquadrias, adornos, detalhes, coroamentos, entre outros elementos para definir a nova pintura. A paróquia já solicitou ao IPHAN orientações técnicas para que fossem definidas tecnicamente quais tipos de tintas e cores adequadas para a pintura dessas fachadas. Esse estudo de prospecção vai chegar à prática, na realidade da edificação essa definição cromática dentro da sua pré-existência”, explicou o técnico do IPHAN.

A atividade foi acompanhada pelo professor Ivo Ferreira, membro do Conselho Paroquial da igreja de Senhora Sant’Ana. Ele destacou a importância desse momento, classificando como histórico, quando foi solicitado ao IPHAN essa parceria para definição original da primeira pintura da igreja de Sant’Ana. “Estamos vivendo um momento histórico para nossa paróquia de Senhora Sant’Ana, mais de 190 anos. Mais de um século que temos esse patrimônio que depois foi tombado pelo IPHAN. Nós procuramos o IPHAN, o administrador paroquial ainda era o padre Ricardo Pompeu, para nos auxiliar no projeto que é a pintura da nova fachada da igreja. Procuramos o IPHAN para auxiliar nesse projeto. Além de receber alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da FASC, foi uma oficina que aconteceu para identificar as camadas arquitetônicas da igreja matriz para o projeto de pintura e iluminação. Está sendo tudo feito pelo nosso novo pároco, padre Henrique. A gente espera, com as notas técnicas que o IPHAN irá nos fornecer, ter a condição para respeitar o patrimônio histórico. Por isso é muito importante esse apoio nesse sentido”, destacou.

Parceria e aprendizado

O momento também foi importante para os futuros arquitetos e urbanistas, entre esses a acadêmica Ágata Pinheiro Guedes, de Acopiara, aluna do 6º semestre do curso de Arquitetura e Urbanismo da FASC. “Eu ainda não estudei a disciplina de Patrimônio, mas acredito que é uma disciplina muito importante para o curso porque a gente já sabe que nem todo patrimônio, infelizmente, é valorizado e qualquer cidade que você vá hoje, quase nenhum dos patrimônios que tinha antes são valorizados hoje em dia. Então, no curso você implementar uma cadeira desse tipo que visa viabilizar, deixar mais visível a questão do patrimônio é uma forma de se preservar. Nós, enquanto futuros profissionais, podemos mesclar tanto o moderno que a gente busca na arquitetura, como preservar o que já foi feito e estudar, saber o que se pode fazer para manter aquilo. Eu particularmente me interessei por arquitetura mais pelos patrimônios históricos, não só do Brasil, mas do mundo. Eu sempre fui apaixonada por história, por arquitetura e vejo que é algo que tem que ser preservado”, ponderou.

A oficina também foi aberta ao público. O empresário e produtor cultural Rafael Matias participou pela importância que tem o IPHAN e seu trabalho de preservar a história através dos patrimônios históricos e arquitetônicos. “O fator de o IPHAN estar aqui é algo a celebrar, podemos ter um contato mais próximo por essa preservação, desse entorno aqui da matriz, temos vários prédios históricos, alguns já foram derrubados, temos uma Lei Municipal que protege as fachadas, mas infelizmente aqui nem sempre foi respeitada. Então, essa presença do IPHAN é importante como sociedade civil, visto que podemos ter um diálogo mais próximo”, declarou.

Representando a FASC, o professor Jefferson Alef, arquiteto e urbanista, coordenador do curso do Arquitetura e Urbanismo, também falou sobre a atividade, principalmente pela preservação do único prédio histórico tombado pelo IPHAN, sendo somente as quatro fachadas. “Esse momento foi uma parceria com o IPHAN, que veio falar sobre a prospecção arquitetônica. O processo de prospecção dentro do curso de arquitetura e urbanismo é importante para entender o passar do tempo nas edificações, como essas camadas do tempo vão se passando e como se consegue pegar isso a nosso favor para entender o processo e a morfologia dos prédios a partir da arquitetura histórica. O Iguatu é uma cidade que tem história, temos vários prédios históricos, mas ao longo do tempo esses prédios e histórias estão se acabando, pouco prédios que existem contam essa história. E a igreja matriz por ser um desses prédios mais antigos não fica atrás. Então, como único bem tombando as fachadas da igreja pelo IPHAN, o escritório de Icó atendeu o pedido da paróquia de Senhora Sant’Ana, e nós fizemos a parceria para que os estudantes possam ter esse conhecimento e apreço maior pelo patrimônio, pela história e assim como futuros arquitetos e urbanistas saberem preservar a memória da cidade”, ressaltou o professor, agradecendo a participação de todos nesse momento histórico para Iguatu.

Tombamento

De acordo com dados sobre o tombamento das fachadas da Igreja Matriz de Senhora Sant’Ana, em Iguatu, o número do Processo: 850-T-1971, no Livro do Tombo Belas Artes: Inscr. nº 510-A, de 13/03/1974, diz que: “A matriz não possui nenhum documento que identifique o período em que foi construída. A torre foi construída pelo Padre Hermes Monteiro, no final do século XIX ou início do XX. A igreja é construída em pedra, com algumas paredes de tijolos e cal, madeiramento em cedro e vigas de angico. A fachada principal apresenta portas de vergas em arco abatido. As janelas do coro e as laterais possuem vergas iguais às das portas. As janelas do coro possuem gradil em ferro batido. O frontão se desdobra em volutas nas laterais e é coroado por pináculos e cruz. A torre do lado direito é coroada por cúpula piramidal, sob base prismática. Sobre o coroamento dos cunhais, existem pináculos. Do lado esquerdo, sobre a corinja, há o frontão triangular. As fachadas laterais possuem janelas e portas de vergas retas e vãos retangulares”.

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