O livro escrito pelo pai Claudízio de Paula conta a passagem pela terra, breve, porém intensa, marcada pelo talento e por suas missões, principalmente pela fé e caridade. O lançamento aconteceu no final de semana, sábado, 25, no auditório do Sesc, que ficou lotado de amigos, familiares e convidados. Uma noite cheia de memórias, fé, caridade que dão força para a família continuar levando o legado deixado pelo jovem Claudízio Vieira de Paula Filho, Claudizinho, como era conhecido, que partiu para a eternidade aos 19 anos, em 9 de maio de 2019.
O livro é prefaciado pelo bispo emérito dom Edson de Castro Homem, por meio de uma carta escrita para a família. Dividido em capítulos, que contam as histórias dos “três nascimentos. Claudizinho, desde a primeira infância, costumava escrever cartas para Deus, tendo como intercessor seu próprio pai. “A inspiração para a escrita dessa obra tem a história dele. Ele me entregava essas cartinhas, eu levava para o meu trabalho. Quando eu chegava em casa, ele perguntava se eu havia entregue a Deus. Eu dizia que sim, e ele ficava feliz. Ele sempre gostava de dizer que o pai é o intermediário de Deus na terra. Então guardei tudo isso lá, e foi avolumando. Depois relendo essas cartinhas me veio a ideia de transformar isso no livro. A história dele é de superação, mas a inspiração inicial foram as próprias cartinhas que ele escrevia e que fazem parte da introdução deste livro”, ressaltou Claudízio, explicando também o subtítulo: ‘A história do menino que nasceu três vezes’”.
Três nascimentos
“As pessoas, quando veem o título do livro ‘Anjo da sanfona’ e o subtítulo ‘a história do menino que nasceu três vezes’, ficam a pensar, mas como assim nasceu três vezes? Na verdade, eu separo em três blocos a vida dele. Desde a primeira infância o nascimento natural, quando ele desde cedo demonstrou aptidão musical, e com 12 anos gravou o seu primeiro CD. Ele cantava, tocava diversos instrumentos, mas o instrumento de trabalho dele era o acordeom. Então, o que nós chamamos nesse livro de primeiro nascimento é toda essa etapa da vida dele. O início da carreira, as suas ações de caridade que sempre estiveram presentes com ele. Ele tinha todo esse talento, era autodidata”.
Mas, nesse percurso, aos sete anos foi descoberto um problema de saúde no cérebro. “A gente descobriu uma doença no cérebro. Foi uma luta de muitos anos, intensa na busca da cura para ele e culminou essa busca em Porto Alegre. Durante o procedimento cirúrgico, foi interrompido por conta de duas embolias que ele teve. Foi levado para a UTI, e naquele dia ele parou completamente. Na UTI, teve parada cardíaca, perdeu pulsação, perdeu pressão arterial. E foi naquele dia, que eu costumo dizer nas pregações, foi o dia da minha conversão, porque quando eu entrei na UTI que o encontrei ele já deitado na cama, aquele equipamento de ressuscitação encostado, na tela dos monitores, eu já não identificava batimento e nem de pressão. Enfim, no meu coração, eu vi meu filho sem vida. Então alguém gritou: tira o pai. Me colocaram numa salinha ao lado. Veja a situação: Isabel, a minha esposa passando mal, sendo socorrida. Eu naquela sala sozinho desesperado e do outro lado da parede meu filho sem vida. Então, eu costumo dizer que até aquele dia eu era, o que se chama do católico de fachada. E só ia para igreja como uma obrigação social, não tinha verdadeiramente essa questão da fé, amadurecida. E naquele dia meus joelhos, pela primeira vez, naquela sala isolado, dobraram. Eu pedi a Jesus uma oportunidade porque àquela altura com a pouca fé que eu tinha se meu filho partisse provavelmente eu não suportaria essa perda, naquele instante. Dobrei os joelhos, comecei a rezar, mandei mensagem para grupos do WhatsApp, que eu confesso que não lembro, só vi isso depois quando eu retornei aqui ao Ceará. O fato é que as pessoas se reuniram em oração e depois de um determinado tempo, de joelhos nessa sala rezando entraram dois médicos e me disseram a seguinte frase: ‘paizinho, levante-se, Claudizinho voltou’. Então essa volta dele no livro é relato do segundo nascimento, essa superação lá no hospital, em Porto Alegre. E a etapa que se segue a esse segundo nascimento foi de luta também. Uma etapa de luta, porque devido à cirurgia ter sido interrompida a região doente do cérebro acabou não sendo retirada. E aí nós ficamos no dilema se volta para fazer, ou não voltava. Passava um filme na cabeça, mas enfim, pela fé dele, nós voltamos. E dessa vez a cirurgia foi bem-sucedida e voltamos ao Ceará para tocar a nossa vida”, destacou Claudízio.
Esse novo renascimento também foi da família que passou a propagar a história de vida de Claudizinho. “E a partir de então, nós começamos a dar palestras, eu, Isabel e ele dando testemunho desse amor de Deus que o trouxe de volta e cumpriu muitas missões, mas a principal foi de ter resgatado a sua própria família para igreja. A partir de então ele fez o EJC, nós fizemos e estamos até hoje engajados dos movimentos da igreja, sobretudo nos movimentos de caridade. A gente tem dedicado nossas vidas a isso. Depois que me aposentei, há dois anos, tenho me dedicado totalmente àquilo que ele gostava de fazer”, contou, pontuando ainda que tudo dinheiro que Claudizinho ganhava das apresentações era revestido para cestas básicas.
Legado
Além disso também tinha um projeto que ele visita hospitais, crianças, idosos, fazia apresentações nos hospitais e de algum modo ele melhorava já desde pequeno a vida das pessoas com o seu exemplo. “Tanto para as crianças e para os idosos, que eram duas faixas que ele tinha um carinho muito maior. Em relação às cestas básicas, a gente chamava isso de nossa linha doméstica de cestas básicas. O dinheiro arrecadado nos eventos dele, a gente comprava os legumes, arroz, feijão e outras coisas, em sacos grandes e em casa eu, ele e a mãe dele, já que a nossa filha Ingrid estudava fora, a gente montava as cestas básicas. Para a gente era uma alegria muito grande. Nossa sala era um verdadeiro balcão de supermercado. Quando chegava alguém, a gente corria, escondia nos quartos, para ninguém ver. Uma das ações que ele fazia, mas tudo isso ficou como deve ser oculto, e só foi revelado agora depois do nascimento definitivo dele. E aí é a gente entra na terceira parte do livro que é o terceiro nascimento”, ponderou.
Com o retorno de Porto Alegre e a cirurgia realizada, a família passou a viver ainda mais unida e fortalecida pela fé. “Nós vivenciamos momentos assim, muito lindos, muito felizes com Jesus no centro da nossa casa. Nós dávamos palestras, passeávamos, então a gente viveu a intensidade mesmo do amor familiar. Não sei que por coincidência essa missão dele durou 3 anos”.
O amor e o respeito aos pais eram marcas do jovem Claudizinho. “Ele não ia dormir sem pedir a bênção e sem declarar o seu amor. Se ele cruzasse por mim em casa 20 vezes por dia, eram 20 abraços que ele me dava. No dia 8 de maio de 2019, como ele sempre fazia, pediu a bênção foi dormir e dormindo partiu para o colo de Deus. E a gente chama isso de nascimento definitivo. Quem deu esse título de nascimento definitivo foi o padre Joãozinho, da Canção Nova. Ele esteve lá em casa inclusive tinha feito shows com ele. Fez até uma homenagem muito bonita aqui em Iguatu no Natal para Claudizinho. Em visita após a partida de Claudizinho, ele foi que nomeou. Disse que Claudizinho não morreu, ele nasceu definitivamente para o céu. Então de um modo geral o livro tem essas três etapas: o nascimento natural, o segundo relata toda essa história de luta pela vida, do renascimento lá em Porto Alegre e a terceira etapa do livro é o nascimento definitivo e o legado que ele deixou”, destacou.
Ainda no final do livro, há várias homenagens, além de várias poesias e músicas inéditas compostas pela dupla, pai e filho. “Eu havia feito com ele, mas não deu tempo de a gente gravar. Então tem muita coisa inédita da nossa obra musical também. Desde cedo ele já decidiu que queria ser artista. Ele tinha um slogan que ele dizia “Eu nasci para louvar meu Deus Fiel, isso inclusive era um título que ele tinha no Instagram dele. Ele nos ensinou muito, e não fosse ele mesmo ter acordado, ter feito o segundo nascimento definitivo, a gente não estaria com essa força toda. Então, assim, foi ele”, contou.
Ainda em 2019, no final do ano, Claudízio e Isabel receberam a investidura de ministros extraordinários da Sagrada comunhão. “Hoje, eu costumo dizer, Claudizinho nos trouxe para Cristo e hoje eu e Isabel levamos Cristo para os irmãos. Outra coisa que ele gostava era de ajudar aos mais necessitados. Eu não tenho dúvida de onde ele está aquele sorriso dele ao ver a gente fazendo isso, ele gostava no dia que a gente ia distribuir alimento. Ele ia numa felicidade tão grande, abraçava todo mundo, então assim cada irmão que a gente encontra ali cada vez que a gente estende a mão, com certeza a mão de Claudizinho também está ali junto sem dúvida”, disse.
Interessados em comprar o livro podem adquirir na Catedral de São José, pelo valor de R$ 49,00. O livro é vendido durante as missas. Todo valor arrecadado será revertido para ações sociais de caridade.
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