O agricultor Luís Nunes, 83, faleceu recentemente, no dia 17 de dezembro do ano passado, há pouco mais de um mês, mas deixou um legado de um homem simples, do campo, alegre, trabalhador entre outras tantas qualidades, era amigo. Fácil de fazer amizades por onde passou, sempre tem alguma pessoa que lembra com alegria de suas conversas, sua bondade também.
Em casa, no sítio Logradouro, no distrito de José de Alencar, na zona rural desta cidade, os relatos dos vizinhos, dos filhos são de muitas histórias, fartura. “Não tinha quem chegasse aqui que saísse sem comer alguma coisa, o que tinha para um, tinha para todos”, lembra o amigo de infância e vizinho Evaristo Anselmo. Além do gosto de trabalhar no campo, seu Luís tinha uma peculiaridade: gostava muito de bicicletas. Gostava mais de comprar do que mesmo vender ou trocar. É tanto que quem passa pela estrada de terra em frente à casa da família avista de longe muitas bicicletas, outras tantas serão descartadas depois da contagem feita pelos filhos.
“Papai toda vida gostou de bicicleta, desde quando eu nasci, ele já andava com a gente de bicicleta. E tudo para ele era de bicicleta, qualquer viagem era de bicicleta. Ela gostava de bicicleta mesmo fora do comum. Ele negociava, mas não gostava de vender bicicleta, gostava de comprar, sempre comprava. Se ele trocasse uma bicicleta com outra pessoa, era troca, mas não gostava de se desfazer, negócio era comprar. Dá para ver o tanto que tem aqui. Quer dizer que ele comprou bastante”, disse o filho Francisco Nunes.
300 bicicletas
E foi justamente depois do falecimento, os filhos resolveram contar as dezenas de bicicletas espalhas em vários cantos da casa, no depósito que ele construiu para guarda-las. O resultado chegou a mais de 300, sendo que pouco mais de 250 ainda em estado de uso, outras desmontadas, aros, outras peças que irão para o ferro velho. “Ele chegou a mais 300. Ultimamente ele foi se desfazendo de umas, mas entre quadros e outras que selecionamos que ainda dá para aproveitar, mais de 200 bicicletas. Só no deposito, a gente contou 156 bicicletas, outras quase 50 na cerca e por aí vai”, ressaltou Francisco.
Além de comprar muitas bicicletas, seu Luís gostava de presentear as pessoas com o transporte. “Agora ele dizia assim: ‘Para negócio não, é para você usar’. Ele gostava de ver as pessoas andando de bicicleta (risos)”, relembra o filho, contando ainda que a bicicleta sempre foi utilizada pelo pai dele como principal meio de transporte, mesmo tendo carro, moto a disposição. Ele gostava de andar de bicicleta. Era sua independência. Ia para onde queria, sempre de bike. “É tanto que daqui para Iguatu que são 18km, ele fazia quantas vezes fosse preciso. Duas, três viagens por dia ele fazia e tirava direto, sem parar. Ele era forte demais. Não descia nas subidas, ia pedalando. No inverno, verão, sempre percorria de bicicleta. Onde tinha água, lama, colocava a bicicleta no ombro e atravessava tranquilo, no enxuto voltava a pedalar. Para gostar de bicicleta que nem ele, ainda estou para ver. É difícil”.
Paixão
De acordo com Francisco, o maior apaixonado por bicicletas era o pai. “Bicicleta nunca foi o forte da gente. A gente andava antes de aparecer a moto, o carro. De bicicleta mesmo, só numa precisão. Mas, ninguém era como ele não. Ele era demais. Além das bicicletas que ele tinha em casa, por onde passava, deixava uma bicicleta, pegava outra. A gente só escuta as histórias que ele deixava bicicleta num canto e noutro. A conta, a gente não vai fechar, porque ele se desfazia demais por aí. Mas, um tempo desses para cá, depois que mamãe faleceu, em 2017, ele começou a acumular mais. Outra coisa também é que ele gostava de mexer, só vivia desmontando, tirava peça de uma colocava na outra. Só vivia com uma chave na mão. Vivia debaixo do alpendre mexendo com as bicicletas. Gostava de andar de bicicleta e dava valor a bicicleta”, pontou Francisco, que assim como os demais irmãos, sempre sentiu carinho e orgulhos dos pais, Seu Luís Nunes, e dona Maria Holanda. “Nossos pais sempre cuidaram da gente. Ele foi um lutador, toda vida foi um batalhador. Criou a gente com dignidade. Graças a Deus, nunca passamos fome. Ele fez por onde ter sempre comida em casa. Foi um homem de fartura, não deixava faltar nada, e tudo dele era muito. Sempre foi assim. A gente nasceu e se criou aqui, cinco filhos, quatro homens e uma mulher. Era amigo de todo mundo. Ele nunca teve um inimigo. Era só alegria. Não tinha tempo ruim. Toda hora, estava satisfeito. É tanto que papai deixou um legado bom. Não tratava as pessoas mal”, contou.
Legado
Francisco afirma que a família vai continuar preservando a história do seu Luís. “A parte que não presta vai para o ferro velho, agora a outra a gente vai deixar guardada aí até aparecer outro colecionador, mas vamos deixar aqui em memória dele. Jogar no mato, ninguém não vai, não. A história dele está aqui”, disse emocionado o agricultor Francisco Nunes.
Emoção também é marcada na vida dos vizinhos. Seu Evaristo Anselmo, amigo de infância, relembra bons momentos vividos ao lado de seu Luís. “Da minha infância, juventude, toda noite a gente vinha para esses terreiros brincar. Juntava o pessoal da família dele, os lá de casa. Era uma noite aqui no terreiro deles, outra lá em casa. Os velhos conversando, tomando café, as mulheres fiando. Toda noite era assim. Agora, depois que seu Luís morreu, acabou boa parte do Logradouro. Todo mundo aqui ficou triste. Eu passei uns cinco dias chorando. Era que nem um jovem. Ele saía daqui para Iguatu cedinho de bicicleta levando leite, quando era 8h da manhã já estava em casa. Rodava para lá todo canto. Duas, três vezes por dia fazia essa rota. Para mim, era um homem de respeito. Era de se admirar”, relembrou o amigo.
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