Luiz Gonzaga – a maior glória da música brasileira!

22/06/2024

Kleyton Bandeira Cantor, compositor e pesquisador cultural

Kleyton Bandeira
Cantor, compositor e pesquisador cultural

De passagem pela cidade de Juazeiro do Norte, aqui no Ceará, no ano de 1980, Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, decide ir ver o show de um jovem cabeludo de quem ele tinha ouvido ótimas referências. Deu um jeito de ficar ali, sem ser muito notado, do lado do palco e logo começou a sorrir e aplaudir o cantor afamado, Alceu Valença. Este achou aquele homem muito parecido com Luiz Gonzaga, mas ficou na dúvida: “o desconhecido tinha a testa muito grande para ser seu Lua – depois entendi que somente o tinha visto, até então, de chapéu de couro”.

Ao sair do palco a suspeita se confirmou:

– O senhor é Luiz Gonzaga?

– Sou!

– O senhor tá fazendo show aqui?

– Não!

– O que o senhor está fazendo aqui?

– Vim só para te ver!

– Foi mesmo, foi? E o que o senhor achou de meu conjunto?

– Parece uma banda de pife, seu conjunto é uma banda de pife elétrica. A propósito eu queria te convidar para tomarmos café da manhã juntos amanhã lá no Exu!

Lógico que Alceu não iria perder essa oportunidade por causa de um desvio de rota de apenas 60km.

Antes da chegada em Exu, Luiz já esperava na estrada, juntamente de Helena, sua esposa, a caravana de Alceu e solicitou que o convidado continuasse a viagem, dali em diante, na sua caminhonete. Do terraço da casa o trio viu quando o ônibus parou e começou a descer gente. Desceram mais de 20 pessoas, dentre elas a pesquisadora francesa, Dominique Dreyfus, que mais tarde escreveria a biografia “A Vida do Viajante: a saga de Luiz Gonzaga”, e o velho Lua, calmamente disse: vamos comer que tem café pra mais trinta pessoas.

Na oportunidade, Luiz pediu para que Alceu compusesse uma música para que ele gravasse, e assim surgiu a canção Plano Piloto que foi gravada por Luiz Gonzaga, com a participação do autor, no disco 70 anos de Sanfona e Simpatia, em 1983.

A vendagem do disco, contudo, decepcionou a gravadora, como já tinha ocorrido com o disco anterior Eterno Cantador. O presidente da gravadora RCA, o espanhol Manolo Camero, irado de raiva, chamou seu funcionário, Oséas Lopes e, com a intenção de botar ordem na casa, mostrou-o uma lista com 50 artistas que seriam demitidos. Oséas tomou um susto e pediu:

– Os outros, tudo bem. Mas, Manolo, deixe o Nelson Gonçalves e o Luiz Gonzaga. O Luiz é a maior glória da música brasileira. O problema está na produção que está muito sofisticada. Deixe que eu produza o próximo disco de Luiz Gonzaga.

Depois dessa proposta o presidente da gravadora, então, atende o pedido de Oséas, e este, fazendo algumas mudanças nos arranjos e em alguns componentes do conjunto, consegue dar um toque mais pé no chão, podemos dizer assim, à proposta do próximo disco. Faltava então um repertório capaz de cair na boca do povo.

Aqui teremos que voltar ao ano de 1964, quando, nos corredores da Rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro, Marines, a Rainha do Xaxado, apresentou a Luiz Gonzaga o compositor pernambucano, de Arco Verde, João Leocádio da Silva, o João Silva, e desde então todos os anos Luiz gravava uma ou duas músicas do João.

Voltando para a década de 1980 e para o novo disco de Luiz Gonzaga sob a produção de Oséas, João Silva disse “eu vou compor a música que vocês precisam”. Então, lembrando-se de uma piada dos tempos de Lampião, em que o participante de uma festa, depois de presenciar uma série de absurdos ordenada pelo cangaceiro, dizia:

– Tá danado!

E Lampião na mesma hora retrucava:

– Tá danado de quê, homi?

Temendo a vida e tremendo igual a vara verde, o homem falava:

-Tá é danado de bom!

E então João Silva escreve:

“Tá e danado de bom;

Tá é danado de bom, meu compadre;

Tá é danado de bom

Forrozinho bonitinho;

Gostosinho, safadinho;

Danado de bom”!

Resolvido! Luiz Gonzaga gravou Danado de Bom, com a participação da cantora paraibana de Conceição, Elba Ramalho, e foi um sucesso tremendo.

Também participou do mesmo disco o cantor cearense, de Orós, Raimundo Fagner dividindo com o Rei do Baião um pot-pourri de Respeita Januário, Riacho no Navio e Forró no Escuro.

E assim Luiz Gonzaga garantiu ainda por muito tempo a alegria de todo nordestino que amam forró e São João, bem como o seu emprego na gravadora RCA.

Forte abraço e um ótimo final de semana!

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