Manhãs de dezembro: não é porque você faz um plano que seu plano seja bom, mas é bom que seja

18/12/2021

Pablo Bandeira

Ando – andamos – fazendo planos. Um passeio para fazer durante o recesso (por onde anda você, recesso?), um filme para ver nos streamings, uma comidinha diferente pra jantar. Uma viagem, quem sabe, no futuro. Tudo que eu consigo fazer é imaginar (leia com a voz da Addison Montgomery): é possível pensar no futuro? Tem que ser. Deve haver algum sentido, ou o que virá depois? É preciso continuar planejando, nem que seja escrever um email-texto-carta-coluna-de-jornal-desabafo na esperança de que algumas linhas possam mudar algo, talvez tudo.

Sempre tive alguns problemas com planejamento e viradas de ano me deixam estranhamente perdido no tempo, algo sobre o clima sempre quente parece que me faz confundir as datas, os dias e as semanas. O fato é que tenho tido uma dificuldade excepcional com os planos para 2022: tudo parece abstrato, absurdo, inviável. Como se o mundo não tivesse compromisso com existir por mais um mês, ou dois.

Enquanto tô escrevendo (tentando escrever), hoje, o Alckmin saiu do PSDB e o Lula se prepara para receber homenagem em um almoço. Planos, penso eu. Respondi uma pesquisa de opinião para a Secretaria do Mestrado. Mais planos. Recebi o convite de uma amiga para comemorar o aniversário do namorado na sexta-feira durante a noite. Alguns planos. Outra colega comenta que a partir da semana que vem só pretende planejar looks e ressacas. Marco no calendário as minhas datas de recesso autoimposto e a visita as minhas tias em outra cidade. Falo com amigos sobre festa de réveillon.

Coloco o nome e e-mail no planner do ano que vem. Planos, planos, planos. Faço planos de divulgar outros projetos em redes sociais, criar um perfil profissional, ir ao mercado, pagar boletos, organizar os livros acumulados em pilhas erráticas pelas prateleiras, arrumar o quartinho dos fundos que está há dois anos juntando uma camada substancial de poeira da Avenida do Parque de Vaquejada e que também virou o quartinho da cachorra (a Cacau é muito seletiva).

Vocês, não sei, mas eu estou em estado de cansaço paralisante. Tudo requer um esforço que me sinto incapaz de fazer, inclusive deitar no sofá e praticar algum ócio. A leitura de um livro curto demanda uma semana e o ato de colocar uma palavra após a outra tem gerado resultados apressados e confusos. Eu queria fazer retrospectiva do biênio pandêmico, elaborar minhas teorias de como conseguimos chegar até aqui, gravar um vídeo pro YouTube sobre Teoria Econômica, escrever um tomo sobre a minha atual obsessão com a literatura do Tolstói.

Mas me vejo sempre enrolando, evitando, adiando. É impressionante o esforço que faço para não fazer algo que gosto tanto – escrever.

Uma terapia de boteco diria que é sobre medo, mas até a Manu Gavassi tá dizendo que nunca se sentiu tão sozinha assim.

Um beijo,

Pablo.

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