Uma verdadeira demonstração de amor e solidariedade aos animais abandonados demonstrada por Maria Trindade da Silva, 62. Ela e o marido, Francisco de Assis Vieira Sobral, 59, cuidam de uma média de 90 animais, entre cães e gatos. A maioria dos animais é oriunda de casos de abandono. Maria e De Assis, como o casal é conhecido, moram no cemitério Parque da Saudade, onde o marido presta serviços de limpeza e manutenção. Eles se revezam também nos trabalhos da limpeza para higienizar o local, removendo os dejetos e restos de alimentos deixados pelos bichos. Maria disse que o mais oneroso é com produtos de limpeza. Ela se desdobra diariamente para conseguir os donativos e preparar a comida dos animais, em geral um sopão à base de frango, macarrão e arroz. Os produtos, compra a partir das doações que consegue em dinheiro, ou recebe diretamente os alimentos doados por um supermercado, como carne de frango e outros gêneros.
Filhos
Morando no cemitério com o marido desde 2003, ela adotou os animais e hoje precisa dividir o espaço de casa com eles. Ela disse à reportagem que quando chegou ali para morar já encontrou alguns animais, e não teve coragem de tirá-los do local, porque sabia que eles já estavam ali em busca de abrigo. “Comecei a cuidar deles, fui me apegando, eles foram se reproduzindo e o número cresceu muito. Hoje está assim, sem contar que esses atraíram outros para cá também”, afirmou a idosa. Maria relatou que tem grande apego pelos animais e chora muito quando algum está doente ou morre. “Tenho muito amor por esses bichos. Eles são os filhos que não tive. Amo muito”, afirmou. O amor da mulher pelos bichos é tão grande que ela chama os animais pelo nome. Charlote, Bibi, Touquinho, Joaquim, Carlinha, Negão, Maria Eduarda, Dica, Nega do Boré, Maria Fernanda e Patati Patatá. Esses últimos são dois filhotes de gato de pelo branco, que foram abandonados no local. De acordo com dona Maria, eram três, mas um dos irmãos que estava muito debilitado por causa de uma infecção intestinal acabou morrendo.
Entendimento
Maria conversa com os cães e gatos como se estivesse falando com uma pessoa, o mais impressionante é perceber que, aparentemente, os animais parecem entender o que ela diz. “Eles atendem direitinho? O que a senhora manda, eles fazem? A cadela estava latindo e parou quando a senhora mandou ela calar”, observou o repórter. Dona Maria respondeu que tudo se resume no amor que é entregue aos bichos, o que faz com que eles se tornem dóceis, amáveis e até compreendam o que ela fala.
Só na área do imóvel são cerca de 60 gatos e dois cachorros, na parte externa, no prédio da antiga estação do trem, ela alimenta e coloca água diariamente para cerca de 10 cães e cadelas, animais que também foram abandonados na rua e fizeram daquele local um abrigo provisório.
O casal denuncia que pessoas ‘inescrupulosas’ aproveitam a concentração dos bichos para arremessar outros animais por cima do muro. Segundo dona Maria, muitas vezes na queda os animais, em muitos casos, filhotes, se machucam e ficam lesionados. Ela é consciente de que quem pratica o ato está cometendo crime ambiental. “Já ocorreu várias vezes de pessoas se aproximarem do muro, jogarem os animais e saírem correndo”, revelou.
Ajuda
Aparentemente os animais são saudáveis, bem alimentados e limpos, o que revela naturalmente que são bem cuidados pelo casal. Maria contou que só é possível segurar os bichos ali porque conta com a ajuda de amigos voluntários. Através da ONG Vira Lata de Raça foi possível castrar todas as gatas e parte dos gatos. Ela disse que a ONG ajuda muito e citou a parceria com Valéria, criadora da ONG, que, segundo a idosa, é seu ‘anjo da guarda’. “Ela me ajuda muito, sempre que preciso de um remédio, uma castração, até mesmo ração ela me socorre”, afirmou.
Dona Maria também citou outros voluntários como a senhora Zélia, esposa do empresário Marcelo Paulino (supermercado Bugi), que faz constantemente doações, principalmente de alimentos, e Taís, que trabalha numa panificadora (Iguatuense) na Rua Deocleciano Bezerra, Centro, outra voluntária. Taís doou um terreno para dona Maria, que agora vai lutar para construir sua casa e um espaço exclusivo para os animais.
Ela contou também que gasta boa parte do tempo se dedicando a eles. “Quando não estou aqui, vou lá na parte de fora colocar comida e água para eles. À noite meu marido vai alimentar os cães e gatos, que já ficam esperando pela comida”, disse.
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