Meio acadêmico questiona volta às aulas presenciais

A previsão é que MEC se pronuncie nos próximos dias em relação a esse assunto.

05/12/2020

As salas e o prédio da instituição segue sem a presença dos alunos

A determinação apresentada pelo Ministério da Educação através de portaria, que autoriza o início das aulas presenciais em instituições federais a partir de janeiro do próximo ano, está gerando polêmica no meio acadêmico. Ontem, sexta-feira, 04, o gestor da pasta esteve reunido com representantes dos reitores de universidades federais, reitores de institutos federais, do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras e do Fórum das Entidades do Ensino Superior Particular.

A previsão é que MEC se pronuncie nos próximos dias em relação a esse assunto. De acordo com determinação, a medida vale para instituições de ensino superior, que devem seguir um protocolo de biossegurança para prevenção da Covid-19. Diante da repercussão negativa, o Ministro da Educação, Milton Ribeiro, chegou a cogitar a revogação da portaria que determina o início das aulas presenciais a partir do dia 04 janeiro do próximo ano. Todavia, as aulas presenciais devem acontecer somente quando as instituições de ensino superior estiverem preparadas para receber os alunos.

A médica anestesiologista Fernanda Araújo, considera seguro o retorno de atividades escolares –

Saúde em risco

O estudante Diego Alexandre Ferreira, 26, que está no último semestre do curso de Matemática, no Instituto Federal de Educação, campus Cedro, mostrou-se surpreso com a decisão do MEC em retornar as aulas presenciais, a partir do início de janeiro de 2021. “Eu não esperava. Realmente me pegou de surpresa e acredito que a todos. Eu acredito que ainda não seja segura a retomada das aulas presenciais, vejo que não tem tempo hábil para que esses locais se preparem para receber os alunos. Eu não sinto segurança nessa retomada agora”, opinou.

“Eu também não sou a favor dessa retomada assim, logo no início do ano. Isso porque, por exemplo, eu moro em Iguatu, estudo em Cedro. Íamos para o IFCE de ônibus, um veículo que já ia bastante cheio. Acredito se retornar às aulas presenciais, nem todos irão, eu sou um que prefiro continuar no sistema remoto. Não tem como de imediato evitar as aglomerações, que começam a partir do embarque em um transporte desses. São muitos pontos que precisam ser analisados, antes de ser lançar uma decisão dessas”, questiona o acadêmico do curso de Análise da Informação, Anderson Araújo.

“Considero até uma ação irresponsável, considerando o cenário que nós temos observado do crescimento exponencial dos casos de contaminação pelo coronavírus. As instituições escolares não estão preparadas sem nenhuma hipótese. Retornar as aulas presenciais nesse contexto é colocar em risco a saúde de todos os alunos, professores, servidores e toda comunidade que trabalham nas instituições de ensino. Entendo que o Governo Federal, através das suas instituições, deverá recuar dessa determinação e pensar numa proposta de planejamento de curto, médio e a longo prazo que nos traga segurança, para o retorno de toda comunidade estudantil”, opinou Roberta da Silva, professora do IFCE campus Cedro.

Retorno de aulas presenciais nas instituições federais gera polêmica no meio acadêmico

Retorno urgente

Em recente entrevista ao A Praça, a médica anestesiologista Fernanda Araújo, doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), ponderou alguns pontos em que considera seguro o retorno de atividades escolares desde que tomadas as devidas medidas de proteção de segurança sanitária para evitar a transmissão do coronavírus. “Sem dúvida a escola privada está preparada e adaptada para o retorno. Investimentos em infraestrutura e treinamento de pessoal foram feitos. Na verdade, elas estão prontas desde julho passado, quando deveria ter iniciado o retorno, segundo o protocolo de reabertura sugerido pelo governo estadual. Infelizmente, o abismo entre a escola pública e privada só aumentou durante a pandemia. Acredito que isso se deve muito mais a uma falta de interesse do setor público em criar as condições para o retorno em suas unidades do que a uma falta de recursos financeiros. Primeiro porque o estado de calamidade pública, prorrogado recentemente, isenta os gestores de cumprir teto de gastos e dispensa licitações. Segundo, porque as adaptações necessárias não demandam um aporte estratosférico de recursos. Exemplos de adaptações simples seriam instalação de pias para lavagem das mãos, distanciamento das cadeiras, instalação de ventiladores e abertura de janelas, além da distribuição de máscaras para alunos, professores e colaboradores. Se construímos hospitais de campanha em 7 dias, certamente teríamos condições de fazer as adaptações necessárias nas escolas. A meu ver, o ponto principal, é a falta de priorização da educação pela gestão pública e, por que não, também pela sociedade”, respondeu.

Dra. Fernanda acrescentou ainda que a necessidade do retorno é urgente por diversos motivos entre esse que a Educação é uma área essencial e deve ser uma prioridade absoluta para governos. “A experiência internacional, ao contrário do que parecia verdade, mostrou que a escola, quando cumpre procedimentos básicos de segurança, é sim um ambiente seguro durante a pandemia. Crianças e jovens saudáveis dificilmente desenvolverão quadros graves da doença. Já foi demonstrado pela literatura que nessa população a contaminação não se dá dentro da escola e sim no ambiente domiciliar. O ensino a distância foi uma estratégia de educação criada principalmente para jovens adultos, não foi desenvolvido para crianças, principalmente na primeira infância. A escola é o principal ambiente de socialização de crianças e jovens, sendo fundamental para seu desenvolvimento neurocognitivo e social. Crianças que vivem em situação de vulnerabilidade muitas vezes têm na escola a única refeição do dia, o único ambiente seguro, longe da violência física, emocional e sexual. É o ambiente onde estão menos sujeitas à influência de facções, milícias e do tráfego de drogas. Já foi demonstrado nos estudos que professores e funcionários de escolas não apresentam maior risco de contrair Covid-19 que trabalhadores de outras áreas da economia. Quanto maior o tempo fora da escola, maior o risco de evasão escolar. O retorno é urgente e deveria ser prioridade máxima da sociedade e dos governos. Por todos esses argumentos, a balança favorece e muito o retorno do ensino. Não é mais uma questão de que se/quando as escolas devem abrir, mas como elas podem abrir o mais rápido possível”, finalizou.

 

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