A morte de Mayza chocou a cidade de Iguatu. A fatalidade desta madrugada de quinta-feira, 30, ainda segue no campo investigativo. O fato ganhou repercussão nacional. A reportagem do A Praça fez um levantamento do que já foi apurado e o que eventualmente possa ter cercado a tragédia em uma casa no Bairro COHAB III, na Rua José Bezerra Pinheiro.
Cadeirante e com condição de síndrome desde nascida, o que fez com que ela não pudesse se locomover, Mayza Abrante Lopes, 07, teve sua vida interrompida da maneira mais cruel. Vizinhos que não quiseram se identificar afirmaram que a criança era de doce convívio. Eles que carregam a aflição de não conseguirem o acesso a casa para evitar o triste final da história.
Sozinha em casa, as chamas começaram no quarto onde a menina dormia. Segundo relatórios do Corpo de Bombeiros, antes mesmo da chegada da guarnição, vizinhos derrubaram um dos portões da residência e a porta frontal na tentativa de “resgatar uma criança que gritava no pavimento superior”. No entanto, o acesso ao cômodo ficou “inviável”. “Soubemos que populares tentaram o resgate antes de nossa chegada, mas acreditamos que fortes chamas impediram o êxito. E infelizmente quando nossa equipe fez o controle do fogo já não havia mais vida”, disse o tenente-coronel Nijair Araújo, comandante do Corpo de Bombeiros.
Os bombeiros ainda conseguiram extinguir o fogo, mas a criança não resistiu e teve o óbito confirmado ainda no local. Seu corpo foi consumido pelas chamas. A Perícia Forense do Ceará (Pefoce) esteve na ocorrência, onde realizou os primeiros levantamentos sobre o incêndio. O local ainda permanece isolado para uma eventual nova perícia.
Depoimento
O inquérito investigativo segue aberto e mais pessoas ainda devem ser ouvidas. “Queremos saber se a criança possuía um histórico de negligência e isso só será possível ouvindo mais membros da família e outras testemunhas. É um fato que gerou comoção social. Sobretudo da forma que ocorreu”, afirmou Ariel Alves, delegado plantonista do caso.
A mãe da criança, Jéssica Abrante Gomes, 27, foi a primeira a depor. Ela afirmou que estava em uma festa de aniversário. Somente a mãe e filha moravam no apartamento. “A mãe teria confirmado que tinha o costume de deixar ela só, por se uma criança tranquila. E afirmou que teria alinhado a ida do pai dela, mas sem horários combinados”, disse.
A mãe quando chegou a casa precisou de atendimento médico no Hospital Regional de Iguatemi porque ficou em “estado de choque” com a morte da filha. Após alta médica ele teve a prisão por periclitação da vida (abandono de incapaz qualificado) decretada na Delegacia da Polícia Civil de Iguatu. O pai da vítima, que não teve seu nome divulgado, já foi formalmente notificado para depor na delegacia. “Queremos saber se o pai teve contribuição ou não para o fato. Justamente para analisar possibilidade de ele ser indiciado ou não”, afirmou Ariel.
Depois de presa, ela foi levada às celas da Delegacia de Defesa da Mulher em virtude da superlotação da unidade regional de Polícia Civil. Ainda no período da manhã, foi feita a sua transferência para unidade penitenciária da cidade do Crato, na região do Cariri.
Causa do incêndio
Os Bombeiros Militares atuam apenas no combate. O relatório da ocorrência do grupamento será um dos elementos da perícia técnica tendo 30 dias para conclusão. O núcleo de Perícia Forense ajuda no caso. Segundo o delegado, um curto-circuito causado pelo ventilador do quarto da menina é um dos possíveis geradores do incêndio. “A mãe nos informou que havia deixado um ventilador ligado. Esse, segundo ela, seria o único eletrodoméstico ligado no momento”, adiantou o delegado.
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