Todo ano as homenagens alusivas ao dia da mulher se repetem. São mensagens, vídeos, canções, poemas que expressamlouvação e reconhecimento pelo trabalho e pela vida da mulher. É bonito! E ainda presentes, vinhos, chocolates, flores… quanto romantismo neste dia!
Depois continua a dureza do cotidiano das mulheres: família, filhos, trabalho e outras coisas que ficam na maioria das vezes sob a responsabilidade delas. Não há um só dia que uma mulher não seja violentada, morta, agredida em nosso país. Em muitos lares, há mulheres oprimidas, silenciadas; outras agredidas, vivendo sob as mais diferentes e torpes realidades.
A rotina é pesada, para algumas mais, para outras menos, no entanto todas experimentam em algum momento a afiada lâmina dos homens deuses a lhes cortar a pele,em pedacinhos, que a depender dacor logo o sangue se mistura com as lágrimas entre o rosto e as mãos de quem tece o fio da vida.
Todo dia a mulher enfrenta os dragões da sociedade, com suas grandes bocas a cuspir fogo, carbonizando os sonhos e imprimindo o terror seja em situações físicas ou psíquicas. Fico pensando que do mesmo lugar que saem as homenagens bonitas, emocionantes, cheias de encantamento, podem tambémsair as agressões, os gestos machistas, os discursos preconceituosos e as brincadeirinhas maliciosas. Parece que há uma insensatez em toda essa festividade que o dia da mulher celebra.
Enquanto meus sentimentos se agitam diante detantas coisas nefastas que afetam as mulheres, indago: haveria possibilidade em um país machista implementar uma cultura contra o machismo? É tão arraigado o comportamento machista nas falas e nos gestos de algumas pessoas, que há coisas que não se discutem apenas se repetem as muitas idiotices caminho a fora.
A vida de muitas mulheres é roubada quando lhes tiram o desejo de viver e de sonhar, imprimindo-lhes o discurso amoroso de subjugação. Muitas delas não conseguem se desligar dos relacionamentos abusivos, tornando-se facilmente manipulada por uma estirpe de machos que dá desgosto de ver. Assusta-me ver o amor – o falso amor – como um pivô de opressão. E o lar como um dispositivo muito sutil e sofisticado de aprisionamentos e violências.
A sociedade machista aplaude de pé as mulheres mortas em plena praça pública, em rodovias, casas, festas e restaurantes. O número de mulheres mortas cresce. E o matador é um homem covarde que tem sede de poder no corpo feminino, que já nasce marcado para morrer a qualquer momento.
Um sino tocou na igreja, foi anúncio de vida ou de morte? Foi uma mulher que morreu e de morte matada, minha senhora, enquanto trabalhava ou caminhava, enquanto sonhava em retomar a vida em outro lugar. Enfrentar os abutres da sociedade só é possível com muita luta. E não sei sob qual disfarce ou estratégia a mulher poderá viver livre das investidas crudelíssimas de homens que pretendem lhes tirar não somente os sonhos, a saúde, mas também a vida.
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