“(…) Mane nobiscum quoniam advesperascit et inclinata est iam dies…”
Vulgata, Evangelium Secundum Lucam (24; 29-30)
Há uma pungente e delicada atmosfera de intensa poesia, além do profundo sentido teológico, na cena narrada por São Lucas evangelista (24:13-35) sobre a aparição de Jesus na estrada de Emaús.
Desolados estavam os dois discípulos enquanto caminhavam, após a crucificação de Cristo, de Jerusalém para Emaús. Eram órfãos, traídos por um sonho que parecia não ter se realizado…
Jesus, sem se dar a conhecer ainda, caminha com eles; conforta-os, explica-lhes as Escrituras. Depois, quando a noite cai, vai com eles para casa e parte-lhes pão. Quando o Senhor se revela, e depois desaparece, o coração deles é tomado de alegria e de paz. São fortíssimos nesta passagem sagrada os símbolos da noite, do medo na alma dos discípulos, da solidão humana. Inspiramo-nos neste belo trecho para compor este soneto alexandrino clássico que ora oferecemos ao piedoso e devoto leitor.
NA ESTRADA DE EMAÚS
Senhor, fica conosco; é tarde e a Noite vem.
As Sombras do Caminho aumentam lentamente…
Quem há de nos valer? Suplicamos a quem?
O céu é negro e a estrada é um deserto dolente!
No Caminho, conosco, havia mais Alguém!
Leve era o caminhar ouvindo-O docemente;
E o nosso coração ardia pelo Bem;
Mas estávamos sós naquele sol poente…
Somos órfãos e o medo habita em nossa alma;
Vem conosco cear, Senhor, dá-nos a calma;
Que não seja o final a hora de morrer.
Pesam-nos a tristeza, o frio, a solidão.
Mais à frente não vás, parte pra nós o Pão;
Senhor, fica conosco até Anoitecer!!!
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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