“Se alguém te ofende com a fala, você deve aprender a se defender pela fala. […] Quando define o homem como inimigo, o feminismo está alienando as mulheres de seus próprios corpos.” – CamillePaglia
— Você viu, mulher? Ela emagreceu, não foi?!
— Foi… até que foi. Mas também, como não, se ela vive fazendo dieta? E, outra coisa: continua feia do mesmo jeito; se não pior!
‘‘Isso não é machismo há muito instaurado e enraizado na nossa sociedade, que até mesmo as mulheres o utilizam’’. Quem assim pensa, está, convenientemente, tirando a responsabilidade dessas duas linguarudas para transferi-la ao vilão mor, que seja, o homem.
— Se eu fosse homem, não perderia tempo com um tipinho desses. Deus me livre!
— Eu também não, amiga! Acho o ó!
A dupla de linguinhas incessantes saiu do estabelecimento em que eu estava, numa vagarosidade intencional, afinal, haveria muitas outras mulheres para elas falarem mal. Não se pode não ouvir quem não fala, mas grita. Alguns, diante da dupla, envergonhados, coçavam a cabeça ou mudavam o rumo do olhar, para não ficarem ainda mais desconsertados.
É de conhecimento de todos que homem não liga para peso de mulher – os que ligam, não são bem homens (não no sentido moral, mas sexual), diga-se de passagem. Que essa preocupação com a estética é algo puramente feminino. São elas com elas. Elas que ‘‘competem’’ ente si e consigo mesmas. Há o fator ‘‘padrão imposto pela sociedade’’, alguém diria.
Respondo indagando: que espécie de ser humano é você, que se deixa levar facilmente às exigências de grupos que não representam absolutamente nada em sua vida? Você casou-se com a sociedade? Trabalha e recebe o pagamento pela sociedade (economicamente, de certa forma, sim, mas não é nesse sentido que me refiro)? É sério que a sua felicidade advém da aceitação externa, não interna, de si mesmo?
Dizem que a mulher se arruma pra si, depois para as outras mulheres (a tal competitividade), e, por último, para o homem. Creio que ela deveria ficar só na primeira intenção – o arrumar para si -. O sentir-se bem, elimina todo o intento posterior. Se a pessoa (homem ou mulher) sente-se bem consigo, não há arena de guerra, nem de caça, se é que me entendem.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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