Cleilson Queiroz (Professor, integrante da Companhia Ortaet. Doutorando em Artes Cênicas pela Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC)
A receita para a construção de uma companhia de teatro é em primeiro lugar ter braços fortes, pois é preciso saber nadar contra a corrente. Por mais que que se possa ter apoio da sociedade e por vezes dos órgãos públicos, é necessário que cada participante esteja disposto a trabalhar com a artesania. E quando falo em artesania, estou falando da gambiarra mesmo, do truque, da fita gomada e da dupla face, da linha de nylon, dos pregos e parafusos, do esconde-esconde do fio da extensão, da luz que queima…
E quando chegou o on-line? A internet que cai, a internet que sobe, o notebook que pifa, o celular que descarrega. Nunca a gente caiu tanto. Muitas vezes por falta de recursos e outras pelas especificidades da própria linguagem teatral. É um trabalho de formiga, mas as formigas não param de trabalhar.
Para além dos aspectos da linguagem, existem as funções de limpeza, produção, gerenciamento. Uma série de vezes se envolver em processos de reforma, guardar materiais do espetáculo em casa, levar materiais de casa para a sala de ensaio, receber oficineiros, professores e diretores. Em resumo, quem participa de um grupo de teatro, está preparado para a vida. É muito além do que se vê em cena. Não são vinte e três dias.
Mas voltemos à Companhia Ortaet, que surge em 1999 na cidade de Iguatu a partir dos membros fundadores José Filho, Aldenir Martins e Vandeir Fernandes. Logo após, passa por um processo de direção com a atriz Neidinha Castelo Branco na peça Romeu e Julieta no mercado de São Sebastião, chegando a se apresentar no Theatro José de Alencar.
A Companhia é sem dúvida um lugar de pesquisa e resistência. No último 18 de abril a Companhia Ortaet completou 23 anos. Não são apenas 23 anos de estrada, mas de seriedade com que leva a pesquisa durante este tempo. Seus espetáculos trazem uma série de temáticas necessárias para a sociedade iguatuense e de todo o estado. Tais como: feminismo, importância da leitura, consumo e descarte, qualidade de vida na melhor idade, tolerância à diversidade, dentre outros. Seriam necessários 23 capítulos para contar a nossa história
Hoje a Companhia Ortaet passa por um processo de imersão e pesquisa de linguagem que surgiu a partir do Laboratório Porto Iracema das Artes da cidade de Fortaleza, processo no qual a companhia foi a primeira representante do Centro-sul do Estado, conseguindo nota máxima em todas as fases e concorrendo com grupos da capital.
O projeto intitulado Chorume, parte de uma imersão no lixão da cidade de Iguatu e o desejo de montagem de uma peça de teatro documentário, com tutoria e direção de Marcelo Soler, referência nos estudos deste campo. A estreia está prevista para o meio do ano. É importante salientar para o leitor que apesar da artesania, o que se faz não é pequeno, mas movido por um desejo coletivo de intervenção e transformação social.
Por algum tempo ficamos sem sede fixa, e hoje nos alegra dividir espaço com o Projeto Arte Criança – PAC, projeto este igualmente relevante para a cidade de Iguatu, situado na Rua Coronel Mendonça, 95, centro da cidade.
Inclusive o espaço reabre suas portas neste sábado, dia 07, às 19:30, com o espetáculo Faia da atriz e bailarina caririense Faeina Jorge. Estão todos convidados.
Como artista da Companhia Ortaet, deixo aqui meu agradecimento e meus parabéns a todos os artistas que formam o grupo, bem como à plateia iguatuense que nos brinda com sua presença e apoio. É pela plateia que nos movemos em direção à uma arte que visa a transformação social, buscando um mundo mais justo, diverso e tolerante para todos.
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