“Wilt to go to bed, Malvolio?
To bed! Ay, sweet-heart; and i’ll come to thee.”
Shakespeare, in- TWELFTH NIGTH
Disse-me um amigo, desses sábios que pontificam em mesa de bar: “É noite mal-assombrada mesmo; tens de aguentar.” Então é efeito do álcool? Não é tão simples assim. Já ouvi de pessoas abstêmias maldições e impropérios contra a fatídica noite de segunda-feira. Como entender?
Morfeus, o deus do sono, não ama a segunda-feira. Ausente, são insônias terríveis. Presente, são incontáveis pesadelos. Nunca o sossego. Nunca a paz. Não nas noites de segunda-feira.
Os romanos chamavam este dia de lunae dies (o dia da lua). Italiano: lunedi; Francês: lundi; Espanhol: lunes; Romeno: luni. Nada de maus presságios, nada assustador. A não ser que pensemos na lua não como Diana, a deusa casta da caça. Mas em sua antípoda Hécate, a lua infernal. Deusa das feitiçarias. Seria esse o estigma da noite de segunda-feira?
Não vejo definitivas respostas. Se insones, sofremos o peso do lento arrastar dos minutos… Se o sono nos vem, somos títeres de pesadelos inomináveis. A mente nos tortura de todas as formas. Todos os fantasmas retornam aos piores sonhos. Erros do passado, problemas familiares, financeiros, existenciais, puras representações do medo e até Aquela Mulher, bela e terrível, volta do passado para nos assombrar. Longa e tenebrosa noite de segunda-feira!!!
Quod facere tunc? O que fazer, então? Quando a tarde melancólica de segunda-feira definha morosamente e a interminável noite vem com seu séquito de dores…. O que fazer? O álcool ou outras drogas? De modo algum! É uma rota autodestrutiva. Minha longa experiência recomenda. Para a insônia: estudar e rezar. Para os pesadelos: conviver com eles, aceitá-los como justa punição. Até os fantasmas mais horripilantes podem, com o tempo, tornar-se amigáveis. E sobretudo, claro, desejar que cada instante desta fatídica noite passe o mais rápido possível. Longo e lento é o relógio do sofrimento.
Desejo terminar com uma obviedade. Pobreza de estilo. Eu sei, mas devo insistir nela. É preciso que exista a infernal segunda-feira para que brilhem redentores a magistral sexta e o divino sábado.
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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