No segundo ato, cena II de Romeu and Juliet Skakespeare escreveu: What’s in a name? That which we call a rose by any other name would smell as sweet.” É uma das falas da doce Julieta. Ela interroga sobre a importância de um nome e diz que uma rosa chamada por outro termo teria o mesmo doce perfume. Não é apenas um torneio galante do bardo inglês. Na verdade, a menina dos Capuleto evoca a delicada e controversa polêmica medieval da Questão dos Universais.
O ponto fulcral das discussões era saber se os nomes correspondem à essência das coisas ou se são totalmente arbitrários. Por exemplo, quando uma flor morre ela continua a viver na fragrância do seu nome? Renomados filósofos comentaram calorosamente tal tema de suma importância. Santo Anselmo e Guilherme de Champeaux defendiam o Realismo, que acreditava que os nomes derivam de substâncias ideais não aleatórias que os definem. É posição platônica par excelence. Roscelin de Compiége, ao seu turno, defendia que tudo era pura convenção nas relações entre os nomes e as coisas. Era o Nominalismo. Pedro Abelardo tentou uma conciliação, embora pendendo para o Realismo, entre as dicotômicas partes.
Na peça skakesperiana a puella enamorada Julieta professa claramente o Nominalismo, uma vez que afirma que qualquer nome que tivesse a rosa teria o mesmo doce perfume. Como sói acontecer, não devemos ter certezas nas certezas de Skakespeare. Tudo em sua obra é sinuoso, como é sinuosa e ambígua a alma humana. Julieta pretende se convencer, e ao amado jovem Romeu, de que os nomes são puras convenções. Todavia, não podemos olvidar que foi justamente a essência dos nomes Capuleto e Montéquio, indissociáveis dos seres protagonistas, que os levaram a ruína e à morte. Essa é, com efeito, uma reviravolta exegética para o lado do Realismo.
Destarte, e nisso pomos fides et ratio, estava errado Saussure e a impertinente grei dos linguistas. O signo não é arbitrário! Nomen est omen. O nome é presságio, encantamento. Outra latina variante para os títulos nesse Devaneio. O que o intitula, e ao poema que se lerá infra, Nomen est numen, significa o nome é poder.
Eis então o nosso poema, modesto corolário de nossas observações.
NOMEN EST NUMEN
Quando a flor morre, além do seu perfume,
O seu nome é fragrância;
Chamar-se-ia fogo, chama ou lume
A mesma substância?
Os nomes são a Sombra da Verdade;
Os corpos de uma Alma!
No altar a prece quando o incenso arde
E a noite fica calma…
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
0 comentários