Com os meios de que dispomos hoje, é claro, mesmo fora do país, é possível estar a par do que vem ocorrendo no Brasil, minuto a minuto, nesses pouco mais de 16 dias de ausência.
A depender da imprensa estrangeira, quando menos em termos de Europa (encontro-me hoje em Munique), nenhuma linha, nenhum comentário, nem mesmo um rodapé de página que possa me lembrar de que o meu país existe.
Resta, assim, o “latin lover” que me aperta o coração de vez em quando, como a me lembrar de que aí está o que há de mais importante na minha vida: meus familiares, meus amigos — e essa mania, que é mesmo uma marca do caráter nacional (Afonso Celso?) de ter sempre orgulho de ser brasileiro.
Pelos jornais, que leio através da internet, e pelos posts que me enviam os amigos pelo WhatsApp, é triste ficar a par do que se dá ao país, palavra a palavra, foto a foto, vídeo a vídeo, mar de lama e autoritarismo que enxovalham nossa imagem para o país e para o mundo.
Num dia, o presidente emporcalha a posição que ocupa, com palavras de baixo calão (o que pouco a pouco lhe confere a identidade de um louco empoderado) numa tentativa própria dos desesperados a esconder um crime; no outro, o filho Eduardo a ferir de morte a Democracia, com declarações que se equilibram no fio delicado que separa a desfaçatez da canalhice.
Para não falar, é óbvio, do que existe de impublicável envolvendo a figura do presidente e seu clã, numa sequência de fatos que vão da toxicomania à arrecadação de dinheiro ilícito, das práticas milicianas a desvios de natureza sexual, para não precipitar, o que parece mais grave, conclusões que podem vir a esclarecer o assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista. Mais de um ano desde o atentado que lhe ceifou a vida covardemente, diga-se em tempo, talvez seja o esclarecimento de um ato de barbárie a única notícia boa que vem do Brasil.
Uma vergonha.
Álder Teixeira é Mestre em literatura Brasileira e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais
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