A coincidência das coincidências aconteceu no âmbito da Delegacia de Defesa da Mulher-DDM, com a saída da delegada Monique Teixeira, iguatuense, e a chegada da nova titular da DDM, Dra. Vanessa Souza Lomônaco, que é filha da primeira delegada da mulher de Iguatu, Fernanda Gomes de Matos e Souza, hoje aposentada da função.
Dra. Vanessa recebeu a reportagem do A Praça, na Delegacia da Mulher, Rua Monsenhor Coelho. Na conversa, a jovem delegada revelou outra coincidência. Ela morou em Iguatu no período 2000 a 2002, época em que sua mãe Fernanda Gomes de Matos e Souza era a delegada da mulher tendo sido a primeira delegada a assumir a delegacia especializada, que tinha sido então criada. Suas lembranças de Iguatu não remetem a muitas coisas, afinal era só uma menina de 09 ou 10 anos, mas o suficiente para perceber que a cidade cresceu e ganhou outros ares daquele tempo para cá, quando morou em Iguatu, estudou no Colégio Polos e na Escola Modelo.
Antes de Iguatu, a delegada Vanessa estava na cidade de Araripe, divisa do Ceará com os estados do Piauí e Pernambuco, e a escolha por Iguatu se deu basicamente por dois fatores decisivos: voltar, agora como delegada, para a cidade onde viveu e morou com a mãe, onde reside sua irmã, a psicóloga Renata Souza Lomônaco, e por ser uma cidade polo, num processo mais avançado de desenvolvimento, com uma oferta de melhores condições de vida e trabalho.
A nova delegada da mulher de Iguatu nasceu em Fortaleza, mas cresceu e viveu no interior. Depois que morou em Iguatu, ela se mudou com a família para o município de Crato, quando sua mãe foi transferida para aquele município, onde também assumiu a delegacia especializada da mulher, tendo sido a primeira a ocupar a função, a exemplo de Iguatu. Em Crato, Vanessa continuou os estudos do ensino fundamental e médio, até ingressar no curso de Direito da URCA-Universidade Regional do Cariri. Em Crato, ela estudou no colégio Pequeno Príncipe, foi aluna do professor Elder Costa, que na época lecionava lá, lembra ela.
A escolha da carreira na Polícia Civil teve um fator influente, admite ela. O fato de estar sempre vendo a atuação de sua mãe, que era delegada de Polícia Civil e sua convivência sempre com o ambiente profissional da polícia veio a inspiração, o que a levou a concorrer em concurso público para o cargo no início de 2015. “Quando eu ingressei na Polícia Civil, meu desejo sempre foi assumir uma delegacia da mulher”, afirmou.
Vanessa revelou que seu modus-operandi está mais voltado para o ambiente interno da delegacia, onde costuma ouvir os depoimentos de vítimas e acusados e encaminhar os relatórios e inquéritos para a justiça. Ela já está acostumada com os relatos descritos pelas vítimas da violência, a maioria, mulheres.
A delegada informou que no que tange à violência contra a mulher, por ser uma questão multifatorial, as maiores limitações ainda são as falhas do poder público na oferta dos equipamentos de acolhimento das vítimas, por exemplo, um abrigo onde a mulher, vítima da violência doméstica possa pernoitar, pelo menos enquanto a Polícia Civil realiza o procedimento do caso. De acordo com a delegada, o machismo enraizado e a sensação de poder e superioridade do homem ainda prevalecem no topo como ‘gatilhos detonadores’ dos casos de agressões morais, físicas e verbais. “As mulheres são agredidas, muitas vezes porque o marido ou o namorado não aceitam o fim de um relacionamento, ou porque o companheiro chega em casa embriagado e por não ser atendido em suas necessidades, as vezes até mesmo por motivos banais ele acaba agredindo a mulher”, lembra.
Ainda segundo a delegada, muitas mulheres sofrem caladas com a violência, com medo de denunciar os companheiros e ficarem numa situação ainda mais delicada, pelo fato de dependerem deles economicamente. Quando há filhos, em geral, pequenos, a situação se torna ainda mais delicada, enfatiza. “A gente precisa, muitas vezes, se colocar no lugar das vítimas, para melhor entender o que se passa com elas”, afirmou.
Apesar de todos esses fatores e causas, a delegada Vanessa Lomônaco admite que o cenário atual é diferente e mais favorável ao trabalho da polícia, com os investimentos feitos em infraestrutura, envolvendo a construção e instalação de delegacias especializadas de defesa da mulher, aquisição de equipamentos; viaturas, armamentos, computadores, internet e a contratação de pessoal. Ela acredita que a legislação penal e criminal, principalmente com a chegada da Lei Maria da Penha também são favoráveis às vítimas da violência e mais rigorosas contra os agressores, diferentemente do que sua mãe, a delegada Fernanda viveu, enquanto delegada, numa época de muitas limitações e dificuldades, quando havia boa vontade para realizar as tarefas, mas as condições de trabalho e a própria Lei deixavam muito a desejar.
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