“O fato mais fundamental sobre as ideias da esquerda política é que elas não funcionam. Portanto, não devemos ficar surpresos ao encontrar a esquerda concentrada nas instituições onde as ideias não têm de trabalhar para sobreviver”.
Thomas Sowell
Assim como praticamente todo jovem, também eu, em tempos de outrora, já fui seduzido pela ideologia esquerdista. Nada mais excitante, para um ingênuo iniciante na vida, do que uma mentalidade revolucionária; aquela vontade de mudar o status quo, de lutar contra o vil sistema – muito embora esse seja o perfil mesmo jovem não tem coragem, sequer, de lavar um copo pra mamãe
E tudo se torna mais empolgante quando encontramos a nossa tribo, nosso grupo onde todos têm os mesmos objetivos e pensamentos ideológicos. Sinceramente, penso que essa sensação de pertencimento coletivo foi algo que fomentou a mentalidade socialista significativamente.
Pois bem. E como abandonei a minha inclinação – digo ‘‘inclinação’’, porque nunca fui um esquerdista fervoroso, extremista; fui, na realidade, simpatizante de algumas ideias dessa corrente – esquerdista? Simples. Foi quando, aos poucos, passei a perceber incongruências, discrepâncias oriundas da visão de mundo canhota.
Outro fator é que a minha personalidade, penso, seja inerentemente atávica quanto à direita. Os princípios céticos do conservadorismo e o liberalismo econômico me apetecem mais do que qualquer visão utópica proposta pela esquerda. A crueza da natureza humana, com todas as suas dores e limitada virtude, me fazem preferir a verdade crua à ilusão do romantismo social marxista.
Para além da filosofia questionável, acredito que as militâncias também cumpriram o seu papel para que eu nutra uma certa antipatia por coisas dessa natureza. Primeiro porque há uma pretensa intromissão na vida dos outros, sob o pretexto de corrigir eventuais preconceitos, mas que, ao observar mais de perto, pude constatar que a patrulha do politicamente correto não quer outra coisa que não pessoas para servirem de massa de manobra.
Muita das vezes, o problema não é o que se diz, mas quem diz. Se for alguém da esquerda, como o senhor Lula, que disse, certa feita, que ‘‘Pelotas era uma cidade polo: exportadora de viado’’, ou quando chamou as mulheres do seu partido de ‘‘mulheres do grelo duro’’, não há, aí, para os fanáticos e hipócritas militantes, qualquer homofobia ou misoginia. Todavia, imagine só se tais palavras tivessem sido proferidas por alguém da direita. Seria prontamente aviltado, execrado. Ou seja, os militantes não defendem um todo, mas apenas os seus, mesmo que estes sejam machistas e/ou homofóbicos… se tá na ala canhota, tá tudo bem.
São muitos os fatores que me fizeram recusar completamente a esquerda. Abandonei qualquer resquício remanescente dessa mentalidade torpe. A sua visão distorcida da realidade não me agrada em nada. E quando me deparo com extremistas, aí é que me convenço de que somos verdadeiramente inconciliáveis enquanto visão ideopolítica, valores, concepção da natureza humana, percepção do mundo e uma série de outras questões. Assim explico o meu abandono.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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