O adeus a ‘Zé Alves da Banca’

10/09/2022

No final da tarde da terça-feira, 06, Iguatu se despediu de seu gazeteiro mais veterano. Foi sepultado no cemitério Parque da Saudade, José Alves da Silva, ‘Zé Alves da Banca’. Ele faleceu na segunda-feira, 05, em Fortaleza, no hospital São Carlos, onde estava internado e fazia tratamento contra um câncer.

O cortejo trazendo o corpo de Zé Alves chegou a Iguatu por volta das 09h da terça-feira, 06. O velório aconteceu na funerária Eterno, na Rua Deoclécio Lima Verde. Dezenas de amigos compareceram para dar o último adeus e prestar condolências à família. Por anos e anos de dedicação ao comércio e trabalhando com informação, entretenimento e a venda de bilhetes de loteria, Zé Alves tornou-se popular e conhecido. Era uma referência do segmento de bancas de jornais e revistas.

José Alves da Silva, 60, havia sido diagnosticado com a doença há quatro anos. De lá para cá tornou-se uma luta contra a doença, para ele e a família, a esposa Bernadete e os filhos Tiago, Emanuel, Joel e a caçula Sara Raquel. No início do tratamento, Zé Alves ainda conseguia trabalhar, mas depois, as muitas idas e vindas para o hospital e o tratamento com medicamentos e as sessões de quimioterapia o afastaram daquilo que mais amava fazer: trabalhar no comércio e atender sua clientela. Ele deixa órfãos os vendedores ambulantes de bilhetes de loteria, que o consideram como um amigo leal e companheiro.

Zé Alves e a sua inseparável companheira Bernadete adentram a Galeria: uma vida de trabalho e determinação.

Legado

Trabalhar no comércio foi seu ofício a vida inteira. Zé Alves começou trabalhando como empregado, aos 14 anos numa banca de revistas, no Abrigo Metálico, depois adquiriu a banca em compra e passou a dirigir seu próprio negócio. Por mais de 30 anos foi o principal distribuidor dos jornais Diário do Nordeste, O Povo e A Praça. Neste periódico, ele foi um dos maiores colaboradores e incentivadores, logo no lançamento das primeiras edições. O jornal A Praça nas bancas do Zé é uma tradição de todo sábado há mais de 20 anos.

Foi Zé Alves um dos empresários que se destacou como vendedor de revistas, figurinhas de colecionadores em álbuns e bilhetes de loterias. Muitos iguatuenses, hoje adultos, lembram com carinho quando iam com os pais na ‘banca do Zé’, comprar revistas ou figuras para colecionar em álbuns. Era na banca dele onde chegavam primeiro as revistas de maior circulação no país.

Em mais de 30 anos atuando no comércio, Zé Alves conseguiu ampliar os negócios e abrir novas lojas. Além das duas bancas de revistas, a Livraria e Papelaria Informativa, com atuação destacada na venda de material escolar, produtos do segmento de informática e mais recente a loja de artigos de aniversário e festas.

Ao longo dos anos, Zé Alves tornou-se conhecido por sua simplicidade e popularidade. Difícil encontrar alguém no quadrilátero do Abrigo Metálico de Iguatu que não o conhecesse. Ao lado da esposa Bernadete, criou e educou os quatro filhos trabalhando naquele trecho da cidade. Era uma referência no que mais gostava de fazer: levar informação e entretenimento para o público leitor, através de livros, jornais, revistas, brinquedos e jogos.

 

Zé Alves e o A Praça

Dr. Paulo de Tarso Bezerra (Médico, editor chefe do A Praça)

 

Talvez pouca gente saiba, mas o Zé Alves faz parte dos primeiros dias da circulação do jornal A Praça, o jornal de Iguatu.

Corria o mês de março de 2001 e a ideia de fundar um jornal na cidade já estava amadurecida, com grande parte da equipe já formada. Porém, havia um desafio: como fazer circular esse novo periódico?

Naquele tempo, o jornal Diário do Nordeste, ainda impresso, possuÍa como distribuidor local o Zé Alves. Ele detinha uma equipe de jornaleiros autônomos, cerca de cinco ou seis garotos, que entregavam aquele jornal aos assinantes e às empresas.

Sobreveio em mim a ideia de utilizar essa mesma “rede de entrega“, realizando as mesmas rotas, após as entregas do já existente e poderoso diário, aos sábados.

De pronto, com a sabedoria que pertence aos grandes homens, o Zé Alves logo concordou em participar desse momento histórico. Ressaltamos que não seria ético que o nascente semanário circulasse junto, como encarte, do jornal que chegou primeiro. Como solução, apenas repetia-se a rota, pela segunda vez no mesmo dia. Foi um sucesso!

Começava a circular o jornal a Praça em 31 de março de 2001, cujas rotas de entrega foram originalmente cumpridas pela equipe do Zé Alves. Sem essa solução encontrada a quatro mãos, o nosso A Praça jamais teria chegado a tanta gente, como ocorreu rapidamente.

Durante os primeiros três meses, para consolidar a nossa marca, a nossa seriedade, imparcialidade e periodicidade, o jornal A Praça era entregue gratuitamente a todos aqueles que eram assinantes do jornal Diário do Nordeste. Após esse primeiro trimestre de circulação, a nossa equipe visitou cada um dos iguatuenses que recebia o jornal – até então de forma gratuita – e todos se tornaram assinantes.

E esse legado histórico, desconhecido da maioria dos nossos leitores, trago aqui por dever de Justiça, a importância que foi o Zé Alves na consolidação desse vitorioso projeto de levar informação, cultura e entretenimento a todos aqueles que hoje recebem o jornal A Praça em suas mãos, todos os sábados, há ininterruptos 21 anos.

Tornei-me amigo do Zé Alves, após esse início. Nas manhãs dos sábados, eu sempre ia até a sua banca, quando o encontrava invariavelmente disposto, solícito e educado como poucos, voz sempre baixa, usando um boné ou um chapéu muito bem colocado, jogávamos conversa fora.

Que usufrua o merecido descanso, em paz!

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