Foi em uma manhã de segunda-feira, 11 de outubro do ano de 1982, que o corpo da senhora Anunciação foi encontrado na calçada de sua residência. Como de costume, a sexagenária saiu para comprar pães; fato que foi facilmente constatado, posto que o cadáver dispunha, em sua mão esquerda, de uma sacola contendo três pães.
A senil era a terceira vítima do já apelidado ‘‘Assassino dos Pães’’, que ceifou, nos últimos três meses (no caso, aqui, uma vítima por mês), senhoras que, em comum, compartilhavam do fato de morarem sozinhas – até o momento, era tudo o que a polícia da outrora pacata cidade sabia.
Evidentemente, o porquê das mortes, da escolha das vítimas (se é que eram mortas deliberadamente), bem como a razão do modus operandi do criminoso, ainda era tudo mistério aparentemente impossível de desvendar. Não havia vestígios físicos do assassino nas cenas dos crimes – ou a polícia não foi competente o suficiente, como achavam alguns. Não havia qualquer resquício: um fio de cabelo, uma impressão digital que fosse. O assassino seria verdadeiramente tão sagaz, meticuloso e perspicaz?
Com a morte da senhora Assunção, o caso tornou-se ainda mais notório, vinculado pelas mídias impressas de todo o estado. As rádios também propagaram as ações do criminoso, de tal modo, que chegou aos ouvidos do presidente da república em exercício, o senhor João Figueiredo, que exigiu, ao governador do estado, a prisão imediata do criminoso.
Com isso, reforços militares foram enviados para a pequena cidade de pouco mais de 17 mil habitantes. Era caso de honra trazer a paz de volta à vida das senhoras daquela minúscula porção de terra tupiniquim. Ainda mais agora, que até mesmo o presidente do Brasil fora informado da existência do esguio e asqueroso serial killer de senhoras sexagenárias na cidade!
Apesar de, ao que tudo indicava, o maníaco atacar uma vez por mês, não é preciso dizer que as senhorinhas ficaram temerosas em sair de casa para comprar o sagrado alimento matinal. Afinal de contas, era prudente redobrar a cautela. Alguns poucos donos de padaria tiveram a ideia de entregar pessoalmente os pães às senhoras que moravam sozinhas, evitando, assim, um possível novo ataque.
Passados alguns dias, um homem procurou a polícia. Era, segundo ele, uma testemunha ocular da terceira vítima, a senhora Assunção. Disse ter criado coragem apenas agora para relatar o que viu naquele dia 11. ‘‘Eu aguava o meu jardim quando vi um homem vestindo um sobretudo e chapéu pretos ceifar a vida da minha vizinha. Apavorado, congelei ali mesmo, petrifiquei-me ante a cena. Entretanto, não creio ter sido visto pelo algoz da mulher’’, relatou ao delegado.
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