O enterro

25/11/2023

Talvez sonhasse… talvez tivesse uma visão… Eu ia em viagem; olhava sonolento através da janela do ônibus. Era um começo de manhã nublada e muito triste… Havia uma velha igreja, com grandes escadarias à frente e um cemitério ao lado e por trás dela. Branca, mas de um branco fosco, envelhecido e dolente… Essa parte que descrevo foi totalmente real. Depois veio a Visão… ou o sonho… Com os olhos da alma depois escrevi estes versos…

 

O enterro

“Que parece que llamam por los muertos…”

                                         Rosália de Castro

 

Por quem chorava aquela manhã,

Entre as tumbas de musgo cobertas?

Por quem chorava aquela manhã?

Cinco sombras caminhando incertas…

 

Quatro homens vestidos de Passado

E uma jovem pálida e distante

Com rosto de avelã,

Um caixão levavam, ignorado…

 

E eu os via com uma dor sem fundo;

Era a visão de quem nada vê.

Não sabia o porquê,

Mas eles eram o fim do meu mundo!

 

Iam mudos, com altos chapéus;

Capas pretas, passo sonolento;

De que culpa eram réus?

Por que tão triste silvava o vento?

 

Quando todos passaram por mim,

Ela parou. Na minh’alma olhou;

Só ela parou.

“Oh! Quem vós levais a enterrar?

“Oh! Quem vós levais a enterrar?”

A Visão terminou.

Minha voz silenciou-se no ar!

 

Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)

 

MAIS Notícias
ANTIGOS ADÁGIOS LUSITANOS
ANTIGOS ADÁGIOS LUSITANOS

“Nunc mitibus quaero mutare tristia” Horatius   É cousa conteste que a obra do disserto Pe. Manuel Bernardes (1644-1710) configura-se como um dos ápices do Seiscentismo português e da própria essência vernacular. Autor de forte índole mística, consagrou toda a vida ao...

Recordatio Animae
Recordatio Animae

     “... E eu sinto-me desterrado de corações, sozinho na noite de mim próprio, chorando como um mendigo o silêncio fechado de todas as portas.” Bernardo Soares   Este poente de sonho eu já vi; As tardes dolentes e o luar... As velhas arcadas mirando o mar......

QUIDVE PETUNT ANIMAE?
QUIDVE PETUNT ANIMAE?

(Virgilius)   Lux! E jamais voltar ao sono escuro À sede da matéria... Ser uma sombra etérea, Ser o infinito o único futuro!   Não lembrar! Ter a inocência da água; Ser pedra eternamente! Tal qual o mar onde o rio deságua Em música silente......

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *