Logo cedo começa o espetáculo da natureza com as revoadas das aves migratórias das (que ainda restam) lagoas de Iguatu. Uma espécie em particular proporciona um espetáculo extraordinário nas primeiras horas da manhã e nos finais de tarde. O nome ‘pato-preto’ ou ‘biguás’ é uma alusão à cor da ave, que tem nome científico (Nannopterum brasilianum).
Alan Marcel, observador de natureza, fotógrafo e acadêmico de Artes Visuais está realizando estudo científico sobre aves migratórias que passam pelas lagoas de Iguatu, incluindo ‘Bastiana’ e ‘Julião’. Uma das espécies pesquisada por ele é o tapicuru (Phimusus infuscatus). Trata-se de uma ave pelecaniforme, que tem o bico grande e longo, suas penas são negras com iridescência esverdeada e sua cara é amarela. Ela vive na margem de lagoas e rios onde usa seu grande bico para caçar alimentos. Hoje o tapicuru se reproduz e se alimenta nas lagoas de Iguatu e é muito fácil vê-la no céu da cidade.
Sobre o pato-preto, ave tema da reportagem, Alan informou que é uma espécie que migra de uma região a outra acompanhando fase de chuvas. “é um pato que mergulha e caça seu alimento embaixo da água”, afirmou. Conforme Alan Marcel, a espécie se desloca em bandos com formações da letra ‘V’ invertida. Segundo o pesquisador, as aves costumam migrar do Norte do Brasil, Pará, Amazonas, oeste do Maranhão e parte do Centro-Oeste, para virem se reproduzir aqui. No final da tarde desta sexta-feira, 7, Alan Marcel visitou o ninhal desta e outras espécies, num braço da lagoa do Julião, próximo ao loteamento Terra Bela. Conforme explicou o pesquisador, o final da quadra chuvosa geralmente coincide com a fase de voo dos filhotes, então é quando as aves migram para outra região, onde está começando a chover.
Os bandos de Nannopterum brasilianum levantam voo das lagoas, por volta das 05h40 e viajam na imensidão do céu, azul ou nublado, para outras regiões onde permanecem o dia e retornam no final da tarde, com outro espetáculo da natureza, este da volta para casa. Enquanto estão fora percorrem áreas de água parada provavelmente no espelho do Orós, rio Jaguaribe e Castanhão, três dos maiores mananciais de água doce, onde caçam seus alimentos, insetos, sementes e principalmente pequenos peixes.
Quando levantam voo pela manhã, voam em bandos, numa sincronia perfeita, como se estivessem num salão da corte real, num baile majestoso de dança clássica ao som magnifico de uma orquestra, em que todos os parem dançam harmonicamente num balé coletivo, dando voltas no céu, formando figuras tridimencionais, às vezes em forma de triângulo, outras em forma de asa delta, em aspiral ou numa linha tênue tendo o horizonte como limite.
As aves repetem este ritual diariamente, o ano inteiro enquanto permanecem aqui. Um espetáculo à céu aberto, que pode ser visto a olho nu, de praticamente toda a cidade. Curioso é imagina como as aves se comunicam tão bem entre si, já que elas alçam voo ao mesmo tempo, seguem na mesma direção e nunca se chocam no ar. Parece uma coreografia cuidadosamente ensaiada e executada no limite do céu.
O ninhal no braço da lagoa do Julião é o local de concentração e reprodução da espécie Nannopterum brasilianum. As garças brancas também escolheram o braço da lagoa do Julião para construir o ninhal. São centenas de milhares circulando pela água e no ar, fase também de reprodução. É quando a mamãe garça se recolhe ao ninho para gerar seus filhotes.
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