Enquanto sento para escrever a coluna de hoje, é inevitável que faça uma projeção de quantas publiquei em suas páginas, uma vez que sou da equipe com que este semanário deu os seus primeiros passos.
Pouco menos de mil, mais de novecentas, com certeza. 960, em cardinal, para ser preciso.
De onde retira tanta ideia para escrevê-las, é pergunta a que, vira e mexe, tenho de responder. Faço-o, mais uma vez, agora, de forma espontânea, singela homenagem a um jornal que atinge a maioridade no melhor de sua energia vital, de sua força, de sua jovialidade íntima, na contramão do que, à altura do seu lançamento, era quase uma sentença: – “Morre por esses dias, como tantos outros”.
E já são vinte aninhos. Nada desprezível, quando sabemos (ou só imaginamos) as dificuldades por que teve de passar, as incompreensões, os julgamentos de superfície, os equívocos que terá cometido na tentativa de elucidar mistérios, de dar visibilidade ao que insiste em se esconder no ‘por detrás das coisas’. Não que seja, de todo, imparcial. Não é. Na linha do que professou Samuel Wainer, pondo por terra um mito, jornal tem lado. Há que ter!
É daí que o cronista tira a matéria com que escreve seus textos, daquilo que, repetindo-se a cada dia, explode aos nossos olhos como uma inelutável novidade. Da substância alóctone com que se faz a realidade de todos os dias, do eterno viravoltear das coisas, é que nasce a crônica.
É daí, insisto, que vem o texto de cada coluna, condenado, por sua própria razão de ser, à morte iminente, ao final da leitura, abrindo espaço para outros textos, como ele, sentenciados ao esquecimento. É natural da crônica de jornal, já diz a etimologia da palavra (de chrónos, tempo), mesmo quando, aqui e além, pela qualidade do estilo e beleza da linguagem, transborda do meramente jornalístico para o literário.
Escrevo minhas colunas com amor, paixão, como quem morre, à maneira de Bandeira, o poeta, em verso antológico. Como quem pensa em voz alta, para ser cada vez mais verdadeiro comigo, e transparente para com o outro, que me reconhece naquilo que está escrito.
Um jornal é, em alguma medida, os olhos com que uma sociedade enxerga o mundo. Em grande porção, é das suas páginas, em certa perspectiva ainda quero crer, que brotam os acontecimentos, que ganha forma o fato, que nasce a fisionomia do que em pouco tempo se transforma em ideia, em convicção, que se originam as análises, que se libertam os que não tiveram voz, mesmo num tempo em que se maldiz a liberdade e se nutre o sonho insano do retrocesso.
O jornal A Praça faz vinte anos
Entrou para a ordem do dia no coração de seu povo, como se detentor da verdade que nunca existe à maneira de Platão: – “É verdade, eu li no jornal A Praça!”, como que fazendo calar aquele que contesta, que tira de sua subjetividade o que lhe parece ser valor incontrastável. Está no jornal A Praça!
Eis que já se passaram muitos anos.
Negando o que parecia óbvio, silenciando os abutres do atraso e do pessimismo, o jornal A Praça faz vinte anos.
Estão de parabéns aqueles que, como artistas do impossível, sabe Deus como e por quê, tecem a cada sábado, que nem os galos de Cabral, uma nova manhã.
Mas nada disso, faça-se justiça, seria possível sem o idealismo e a percepção de mundo quase genial de Paulo de Tarso, a quem, tanto quanto ao médico, esta cidade deve hoje agradecer, e aplaudir, pelo muito que tem feito num campo que poderia, simplesmente, e por razões óbvias, lhe ser estranho. Pois que “É verdade!”: o jornal A Praça faz vinte anos!
Álder Teixeira é Mestre em literatura Brasileira e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais
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