Puskas é um cara inquieto. A imaginação dele corre a mil por hora. Apesar de já ser um sessentão, galopa como um jovem de 18. Vive num mundo literário, que ele mesmo construiu, é seu universo particular, cheio de papéis impressos e letras, textos curtos, páginas longas, desenhos e muita leitura.
Puskas é dono de um sebo com cerca de 4 mil títulos literários: livros, revistas, jornais e coletâneas, dos conteúdos mais diversificados: história, geografia, literatura, matemática, ciências, artes, letras. Essa usina cultural começou a ser montada em 2002, por uma ideia do criador Puskas, um cara fascinado por leitura. Para quem vive mergulhado num acervo de títulos literários, ler diariamente é um hábito quase como certo, mas nosso ‘guardador de cultura’ afirma que lê todo dia porque gosta. É assinante de jornal diário ‘on-line’, para estar sempre conectado com o mundo digital e os acontecimentos e faz questão de mostrar com orgulho sua coleção de revistas antigas da década de 70, um material que ninguém tem.
Em seu rico acervo ele guarda muitas preciosidades. Livros com 70 anos de publicação, autores brasileiros e estrangeiros, obras literárias ‘raras’ que guardam importante valor cultural e literário. Está tudo ali, ao alcance das mãos, prontos para ‘degustação’. Mas as paixões de Puskas não são somente livros, ele guarda sua coleção de selos e já colecionou discos de vinil também.
Na biblioteca improvisada onde Puskas guarda seus arquivos é possível encontrar respostas como fontes para pesquisas escolares, trabalhos acadêmicos, temas para elaboração de artigos científicos e até as teses de doutorado, ou simplesmente uma leitura aleatória, um tema específico. Lá tem de tudo. Os títulos estão nas prateleiras, no rodapé das paredes, por cima das pilhas de jornais e papéis, os mais diversos. O endereço da Rua 23 de novembro (entre a Agenor Araújo e Floriano Peixoto) é muito mais que um sebo, é um emaranhado de cultura, ciência e tudo que a imaginação do leitor alcançar.
Ao alcance da mão
Os livros, títulos, artigos, jornais, revistas que fazem parte do acervo nem sempre estão arrumados. Não há nada catalogado, nem arquivo digital com códigos das obras. Tudo está organizado, mas apenas na imaginação do cuidador. A cada dia, Puskas recebe doação, troca livros com alguém, e assim vai revirando e renovando seu acervo, trazendo literatura à tona, para uma leitura breve, pesquisa ou registro. O prédio é um imóvel antigo, de telhado alto e paredes marcadas pelo tempo, mas remete a um ambiente de muito conhecimento. Quem quiser pode parar, entrar e dá uma pausa para uma leitura. Os títulos estão ali ao alcance da mão. Foi assim que o repórter encontrou ‘Olga Benário’, do jornalista Fernando Morais, de 1985. Fascinante a história dela. Judia e de origem alemã, Olga veio para o Brasil atraída pelo movimento comunista. Casou-se com o brasileiro Luiz Carlos Prestes, um membro do levante contra as forças militares da ditadura que assolava o país, mas teve o infortúnio de ser presa pelos militares do governo e deportada para a Alemanha nazista, para ser morta, mesmo grávida de 7 meses, num campo de concentração. O próprio Puskas elege os títulos mais raros de seu acervo e citou os livros que está lendo atualmente: ‘Os Contos Gauchescos’ de Simões Lopes Neto e “Contos Russos”. Entre os que são considerados mais antigos, estão ‘A Casta Adolescência’, de 1938, do escritor húngaro e monsenhor Tihamer Tóth, professor da Universidade de Budapeste, capital da Hungria. Outra obra rara do acervo é ‘Catecismo’, do padre francês Jean Joseph Gaume, de 1855.
Perfil
Puskas Viana Diniz, 60, é filho do saudoso Joaquim Diniz, um comerciante que atuou em Iguatu nas décadas de 60 e 70. Do comércio foi para a vida pública tendo sido eleito vereador por cinco mandatos. Joaquim Diniz era representante da cerveja Antarctica. Mas chegou a perder a concessão e, na época, o filho Puskas, sendo o 2º de uma prole de 7 irmãos, parou os estudos e foi ajudar seu pai no comércio. Na época, lembrou ele, nem havia concluído ainda o ensino médio, mas gostou tanto da experiência que foi a profissão da qual ele abraçou. Atualmente, nosso agente literário gera sua renda mensal comercializando embalagens de plástico e papel.
De lá para cá, o tempo passou, ele não conseguiu mais frequentar a escola, mas confessou que é um sonho seu voltar para a sala de aula, para concluir o ensino médio, chegar à faculdade e conquistar um diploma universitário.
Se o caro leitor está se perguntando o porquê do nosso colecionador ter este nome, foi por uma causa muito nobre. No começo dos anos 60 o pai dele, Joaquim Diniz, na época, alto executivo da Antarctica, foi convidado pela cúpula da marca e foi ao Maracanã, no Rio de Janeiro, para ver um jogo entre a seleção brasileira e a seleção da Hungria. Ele ficou encantado com um único jogador em campo, o húngaro Puskas. Quando nasceu seu filho, ele não teve dúvidas e colou o nome de Puskas, em homenagem ao craque húngaro. Puskas foi para a Hungria, o que Pelé representa para o Brasil. Sua atuação no futebol foi tão marcante que a FIFA, para também homenageá-lo, criou o prêmio Puskas, entregue ao jogador que numa temporada consiga fazer o gol mais bonito. Não há relatos se existem outros, o fato é que, em tese, só existiram dois Puskas: o húngaro e o iguatuense.
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