O pensamento conservador, ao contrário do que muitos erroneamente pensam, não é nada reacionário. O pensamento reacionário está preso inexoravelmente a um passado saudosista. Ocorre que tampouco o pensamento conservador tenha qualquer coisa de revolucionário. O pensamento revolucionário está, por sua vez, preso a um futuro idealizado, utópico muitas das vezes (para não dizer na maioria esmagadora das vezes).
Um dos exemplos mais conhecidos para fazer distinção dentre esses três tipos seria a alegoria da casa. Vamos a ela. Uma casa, seja ela qual for, aos olhos do reacionário, preso ao passado, a manteria tal qual ela se encontraria: com suas rachaduras, pintura descolorada, alicerce comprometido etc. Estimando o passado em demasia, o reacionário deixaria a casa com a sua própria ruína abalada; não apeteceria, ao revolucionário, qualquer mudança.
Já no caso do revolucionário, a casa decrépita já não lhe teria qualquer serventia. Caberia, por tanto, condená-la e destruí-la, visando com isso a construção de uma nova casa (a utópica casa do futuro; perfeita e sem qualquer resquício de vínculo com a casa predecessora que fora posta abaixo em nome da nova).
Chegamos por fim à casa do conservador. O conservador não deseja manter o que nela há de errado. O conservador não pensa em conservar o que não presta ou funciona mais, como no caso do reacionário. Mas também sabe do seu valor, e, nisso, não lhe apetece pôr abaixo toda a residência em prol de uma ideológica visão de “casa perfeita do futuro”, como seria no caso da visão revolucionária.
Uma demão de tinta aqui, uma troca de telhas acolá, cimentos e madeiras talvez, e pronto! Eis a casa reconstituída sem sua velha forma imprestável do reacionário e sem a sua derrocada ambicionada pelo revolucionário.
Assim, creio que o prezado leitor deva ter entendido a diferença básica desses três pensamentos. Penso que o conservador seja alguém que sabe valorizar o passado e tem um certo olhar de desconfiança para propostas vindouras. Seu ceticismo e maturidade não o permitem abandonar o que funcionou no passado e se jogar de cabeça em qualquer proposta fantasiosa típica dos impulsos juvenis.
Finalizo a coluna indicando ao caro leitor a leitura de um livro do escritor português João Pereira Coutinho: “As ideias conservadoras: explicadas a revolucionários e reacionários”. Indispensável leitura para quem tenha curiosidade em compreender um pouco mais sobre essa salutar visão de mundo!
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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