A primeira vez que ouvi falar do jiu-jitsu, pasmem, foi num bar. Estava tomando uma cerveja e jogando conversa fora com um colega da época.
Esse colega era um ex-praticante da “arte suave”, como ele me dizia. Não sei como o assunto foi parar em artes marciais, mas lembro nitidamente que ele fez uma breve exposição da história do jiu-jitsu e demonstrou como esta arte era interessante e complexa. Ele se empolgava ao falar, simulava movimentos, etc. (acho que já estávamos um pouco “altos” nessa hora).
Como ocorre tantas vezes em nossa vida, caro leitor, eu ouvia só com os ouvidos, sem dar tanta atenção. Disse-lhe que achava tudo aquilo muito interessante e voltamos a falar de outras coisas.
Anos mais tarde, porém, voltei a ter contato com ele – o jiu-jitsu, não o colega. À época eu era praticante de Muay Thai, coincidentemente na mesma academia da qual o meu ex-colega falara anos antes. Resolvi fazer uma aula experimental. O resto é história.
Troquei então os socos e chutes pela tal da “luta agarrada”, mas não sem antes, e até hoje, ser alvo das piadinhas dos amigos – que o leitor já deve estar imaginando, se é que não está fazendo isso agora.
Pois bem, cá estou. São mais de três anos praticando. Conquistei a faixa azul, uma grande honra. Mas o mais importante, para mim, é o que venho aprendendo para além do tatame. Sim: o jiu-jitsu é uma arte que traz vários ensinamentos filosóficos. Vejamos alguns.
Em primeiro lugar, o jiu-jitsu humilha o nosso Ego. Entramos na academia achando que, tendo certa vantagem corporal e física, iremos nos sair bem. Lego engano. A ilusão é desfeita quando você é finalizado (ato de desistência) por um jovem de 16, 17 anos, pesando vinte quilos a menos que você. Aí toda sua prepotência, sua suposta força cai por terra e entram em ação forças que até então você desconhecia: a paciência, a técnica, o estudo, o jogo.
Não à toa o jiu-jitsu é considerado o “xadrez humano”, expressão que ouvi pela primeira vez da boca do meu colega professor Roger, um dos faixa-pretas da academia ARTEAM, liderada pelo mestre André Ribeiro.
Outras duas lições que venho aprendendo são estas: persistência e adaptação. Persistência: o jiu-jitsu é uma arte que te ensina a lidar com o chão, com a derrota, com o fracasso.
Há dias em que tudo que você planejou dá errado. Há dias em que você é subjugado, “amassado”. Mas também há os dias em que as coisas dão certo, você percebe sua evolução. Assim na arte, assim na vida.
Adaptação: o jiu-jitsu é uma das artes mais primitivas que você pode conhecer. Primitiva no sentido de: a) restabelecer ritos de passagem (mudança de faixa, etc.), algo fundamental para o crescimento e amadurecimento, e que foi perdido ao longo do tempo em nossa sociedade; b) respeito pela hierarquia do grupo. Tal como nossos ancestrais se reuniam em bandos, nos quais o mais forte ou mais experiente ensinava aos demais, o jiu-jitsu ensina o respeito, a humildade para aprender. Sem isso você não “sobrevive” às situações hostis – seja no tatame, seja na vida.
Eu poderia falar de muitas outras lições, mas conforme diz o título deste texto, estou aprendendo. Aliás, nessa arte você está sempre aprendendo – até aquele que alcançou o maior grau na mais elevada faixa, permanece um eterno aprendiz.
Encerro esta coluna com uma frase do filósofo Schopenhauer: “Pois a vida toda é uma luta, cada passo nos é disputado”. Avante! Oss.
Marcos Alexandre: Pai de Edgar, leitor, Professor de literatura e redação, cinéfilo e aspirante a escritor.
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