O pedido de demissão do agora ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, repercute dentro e fora do Brasil. O A Praça publica nesta edição a repercussão local sobre o pedido de demissão do ex-juiz que ficou internacionalmente conhecido como implacável magistrado na luta contra a corrupção.
J. Guedes
Thiedo Henrique
Wandenberg Belém
“Para além das comemorações incessantes de hoje da esquerda festiva – como se os erros de uma gestão, sejam eles quais forem, não acarretassem em prejuízos para todos -, havemos de deixá-los em suas vãs trivialidades e atentarmos para o que realmente importa: o erro em si. A meu ver, o erro central do presidente Bolsonaro, nesse caso, é o mesmo recorrente em inúmeras outras gestões no decorrer da história política do nosso país, tanto da direita quanto da esquerda: o patrimonialismo. A Polícia Federal – tomando essa entidade como exemplo, já que foi dela que desencadeou o atual imbróglio -, é um órgão estatal, não gestacional! Pois bem. Tomá-lo como subserviente, a título de manda-e-desmana, à revelia de qualquer capricho por parte de qualquer líder presidencial é, no mínimo, brincar de governar. A perda da autonomia de qualquer órgão estatal não deve estar jamais sob o achismo e a inflexibilidade de uma gestão. Para exemplificar, seria o mesmo que alguém alugar uma casa, e, a casa (alegoria ao órgão do estado), por sua vez, perderia sua condição de casa e, daí por diante, seria customizada – transformada em um galpão para armazenamento, por exemplo – ao invés de ser mantida a sua condição de residência. O correto seria utilizar-se do imóvel para melhor proceder durante a sua temporada (gestão). Não se deve mexer nos alicerces que não competem a um líder. Pode-se, sim, reformular o modus operandi de um órgão, não a sua funcionalidade a autonomia precípua. Parabéns ao presidente. Entregará o país nas mãos da esquerda novamente!” – Cauby Fernandes, designer gráfico.
“A demissão do agora, ex-ministro Sérgio Moro, demonstra o quão instável é a situação do governo atual. Aliás, mais um chefe do executivo que têm seu mandato caracterizado dessa forma. O cargo que para a grande maioria dos adeptos do governo Bolsonaro era o mais idôneo, agora está pareado com os demais. Sem falar nas graves acusações que foram feitas relacionadas à falsificação da assinatura do então ministro. As interferências do Presidente nos órgãos e ministérios, que deveriam trabalhar com certa autonomia, corroboram o discurso de que Bolsonaro não tem mais (ou nunca teve) o espírito de combate à corrupção que outrora o fez eleito, e de que ele está preocupado em mascarar os casos de corrupção dos filhos. Acredito que o povo elegeu o Bolsonaro das redes sociais, que além do sobrenome Messias, tinha o discurso de “Salvador da Pátria”, e no final ganhou um político como outro qualquer, ambicioso, desqualificado para o cargo e que coloca à frente dos interesses da nação, os seus e de seus pares. Se o Presidente não conseguir o acordo com o Congresso, provavelmente assistiremos ao mesmo filme de 2016. E pelo discurso de demissão de Sérgio Moro, ele será o próximo candidato à presidência. O Brasil ganhou um novo político, ou apenas um velho concurseiro? – Anthony Nathan, estudante universitário.
“Hoje foi dado um passo importante para o Estado Democrático de Direito. O pronunciamento do ministro Moro nos colocou em posição de certeza no barco à deriva em relação ao Governo Federal, ao mesmo tempo que revela e comprova os verdadeiros interesses do Presidente. É lamentável que o ministro só tenha tomado essa medida agora quando foi ferido o seu ego e poder, antes omisso de tantos outros absurdos que vinha acontecendo. Embora tarde, a decisão do ministro junto à sua fala é acertada, pois mostra o quanto é importante a autonomia das instituições públicas no nosso país.” – Rute Pinheiro, servidora pública e advogada.
“O pedido de demissão do ex-ministro Sérgio Moro é a síntese e o cume dos últimos acometimentos do governo Bolsorano. Para entendermos precisa-se compreender o que “era” a base do governo, suas promessas de campanha e as suas ações após assumir a Presidência. Como todo governo pautado em promessas populistas e autoritarismo e que atende os anseios de uma pequena massa, o mercado foi de encontro ao Bolsonarismo e concomitantemente ao herói nacional, o até então juiz federal de 2ª instância Sérgio Moro, sobre os holofotes da imprensa nacional e internacional, juntou-se a fome com a vontade de comer. Dentre eles a crescente ala Bolsonarista, dotados do seu antipetismo e uma parcela da sociedade que comungava com as ações daquele que dava um “basta” à corrupção. Vale ressaltar que foi uma campanha altamente polarizada sem espaço para meios termos, para entendemos a base do seu eleitorado, em um país de mais de 147 milhões de eleitores aptos ao voto, Bolsonaro foi eleito com pouco mais de 57 milhões em segundo turno. Sendo assim, o Presidente Jair Bolsonaro ao assumir seu posto de chefe do Executivo, pautado nas promessas de reduzir ministérios e gastos públicos, aniquilação da corrupção e um “alinhamento político e ideológico” perdeu espaço no decorrer do tempo. O “Mercado” e seus apoiadores esperavam a agenda de reformas e de modernização do Brasil do Paulo Guedes! Em paralelo, as investigações contra os parlamentares e filhos do atual presidente avançavam com o enfoque apenas da mídia e até então o Ministro da Justiça ficava às sombras, passando para o papel de coadjuvante. Enquanto isso, na Economia os números e os indicadores não correspondiam as expectativas do mercado e as promessas de campanha, começava aí o declínio do governo, perda de apoio, brigas e discussões internas que se traduziram na saída do Presidente do Partido PSL pelo qual foi eleito, fragmentando a base de governo e perdendo cadeiras no Congresso Nacional e no Senado. O ano de 2018/2019/2020 foi de instabilidade econômica, política e institucional com o Presidente Jair Bolsonaro atacando o Legislativo, atraso na votação das reformas, medidas provisórias que caducaram e que evidencia ainda mais o enfraquecimento do atual governo. Uma agenda econômica que se ofuscou diante da pandemia do Covid-19 e para acirrar mais ainda a crise, uma dança das cadeiras dentre os ministérios. O outro poder, especificamente o Judiciário no papel do STF, cobra a Câmara dos Deputados uma resposta pela análise do processo de Impeachment e abre inquérito para apurar os atos antidemocráticos que atacaram a Câmara e o Senado com a presença do Presidente da República, mesmo diante orientação de Isolamento Social pela OMS. Tivemos a última cartada não inteligente do ponto de vista político e institucional que é a clara intenção do Pres. Jair Bolsonaro em interferir nas investigações da Polícia Federal, a qual é subordinada ao Ministério da Justiça e por lei independente e autônoma, e para acentuar mais os ânimos sem o consentimento do Sérgio Moro e sem uma justificativa plausível, culminando na manhã do 24/04/2020 o seu pedido de demissão. O caos está estabelecido, diante uma crise antes nunca vista, uma recessão sem precedentes do ponto de vista econômico e humanitário em escala global por conta do Sar-cov-2. Do ponto de vista político, um presidente isolado e até de certa forma enfraquecido, pois parte de seus eleitores comungam dos ideais anticorrupção do ex-ministro Sérgio Moro. O mercado como sempre volátil traduz no seu capital as expectavas e frustações, com uma alta do dólar comercial operando na casa do R$ 5,74 e a IBOVESPA despencando 7%, afastando o investidor e o capital estrangeiro, o que deteriora ainda mais as contas públicas frente a PANDEMIA e instabilidade política e econômica. Por fim, existe uma sinalização clara de apoio por parte do Executivo (Câmara e Senado) e do Judiciário (STF, PF, etc) em apoio ao ex-ministro. Agora resta saber quais serão as atitudes de Sérgio Moro frente ao rompimento.” –Danilo Carvalho, bancário e economista.
“Moro é o oitavo ministro demitido em menos da metade de um governo que se elegeu sem um projeto e, portanto, amealhou a maioria de sua equipe “à dente de cachorro” e Moro foi um desses. Bolsonaro esperava com a indicação de Moro agregar confiança de que seu discurso anticorrupção era para valer, junto a uma fatia mais ingênua de seu eleitorado – sim porque havia uma parcela dos que votaram nele que sabia e queria jogar o jogo do cinismo. Esperava Bolsonaro que o domaria após sua entrada na toca do ministério, mesmo que fosse fisgado pela garantia de um emprego definitivo no STF, mas não contava que o Moro crente ser o suprassumo do altruísmo daqueles heróis das revistas em quadrinho, poderia “chutar o pau da barraca” quando lhe subisse à cabeça a percepção de brios feridos, natural no tipo de personalidade que o mesmo encarna. Claro que o sr. Valeixo pode ter avançado no “labirinto condominial” da família Bolsonaro e isso sendo feito por um comandado do herói de Curitiba lhe daria ao lado de sua popularidade, um trunfo que aumentaria em muito o seu capital, o que seria considerado um sabre no peito de quem teima com a própria sombra achando que é sempre alvo de conspirações.”– Paulo F. Maciel, engenheiro agrônomo, agroecologista, ambientalista, mestre em desenvolvimento regional sustentável.
“Sou um brasileiro que como a maioria dos cidadãos torce pelo melhor para o meu país. Estamos vivendo momentos críticos da nossa história, principalmente por causa da crise na saúde com a disseminação desse coronavírus. Diante deste impasse criado no governo, com a saída de mais um ministro, neste momento, meu sentimento e opinião ficam assim: se é para o bem de todos e felicidade da nação, fora Sérgio Moro!” –Antônio Holanda Albuquerque, servidor público federal aposentado.
“Se analisarmos do ponto de vista técnico, veremos que a saída do agora ex-ministro Moro, junto ao também ex-ministro Mandetta, são as duas mais significativas perdas do governo, já que ficou claro a escolha dos ministros não do ponto de vista técnico/capacitivo, mas sim do ponto de vista político (seguir a agenda bolsonarista em sua essência). Vale destacar as palavras do próprio Moro acusando o presidente Jair Bolsonaro de interferir na Polícia Federal para ter acesso a informações sigilosas, mostrando a única preocupação do presidente de proteger a sua prole. Ninguém em sã consciência consegue trabalhar e compactuar com tais interferências, certamente perigosas para um país democrático.” –Ana Camila Gonçalves do Nascimento, orientadora social e pedagoga em formação.
“Eu acho que ele estava fazendo um bom trabalho no Ministério. Essa saída dele vai implicar muito nas decisões futuras. Vai mudar algo ou muita coisa. O Brasil em si acreditava muito nele, podemos comprovar isso pelas pesquisas que sempre apresentavam ele com sempre aceito pela população. Eu acho que as coisas vão piorar. Na verdade, quero Moro presidente.” –Claecy Vieira, comerciante de Icó.
“Depois de interferir de forma decisiva nas eleições de 2018, autorizando a prisão do ex-presidente Lula e dando a vitória a Bolsonaro, o juiz Sérgio Moro assume o Ministério da Justiça com fama de herói e agora diante da interferência do Presidente da República na demissão direta do diretor geral da Polícia Federal, será que ele se arrependeu do que em 2018, quer livrar da própria pele ou quer ser candidato à presidência no ano de 2022, ficam as minhas indagações. Eu acredito que diante dessa conjuntura do país, onde ele pede demissão, devido à interferência do presidente no caso da demissão dentro da Polícia Federal, está desejando assim sair de forma limpa, e deseja fortemente ser um candidato a presidente da República, porque ele está vendo que o governo que ele escolheu para ser ministro não está de acordo com seus anseios de liderança. Esse pedido de demissão nada mais é do que interesse em ser candidato a presidente em 2022. Ele percebeu que Bolsonaro já não é mais aquilo que ele pensava.”– Edivanildo Rodrigues, professor.
“Eu vejo com muita preocupação. Não a saída do ministro em si, porque no Brasil a troca de ministro é uma coisa normal, não novidade. A preocupação é o motivo que ele está saindo, a interferência do presidente nas instituições que não podem ser interferidas como a Polícia Federal. É uma coisa grave. Existem coisas que o próprio presidente tem conhecimento gravíssimo por trás de tudo isso como é divulgado na imprensa nacional. E ele está querendo interferir diretamente para mudar o direcionamento das investigações. Isso é preocupante para o sistema democrático. Pode abalar muito a democracia. Um governo que já tem muitos militares, tem esse tipo de interferência. Perdemos o ministro da Saúde recente. Agora a troca do ministro da Justiça, por essa questão que envolve a saída de um ministro. A troca do comando da PF é mistério. Envolve uma série de problemas que estão sendo investigados pela PF, e o governo quer mudar o curso das investigações. É um momento preocupante para a democracia brasileira.” – Mário Rodrigues, vereador.
“Uma lástima! Num momento em que o país vive uma situação delicada com presença de uma doença gravíssima, nos deparamos com um embate inoportuno e inconsequente entre um ministro (ex) e o presidente da nação. Acusações de ambas as partes, interesses escusos e falta de ética provocam na população um sentimento de insegurança e desconforto. Resta esperar do Congresso e do Supremo Tribunal um posicionamento lúcido e firme para conter o caos em uma nação à beira do precipício.” – Marcone Sampaio, médico veterinário, servidor público federal.
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