‘‘O anticapitalismo só se mantém em evidência por viver à custa do capitalismo’. Ludwig von Mises
Eu estava sozinho em casa. Era uma quarta-feira comum. Lia um agradável livro recostado confortavelmente à cama. Nisso, fui estimulado pela leitura, comecei a divagar sobre algumas pessoas reais, mas que, de tão absortas, de tão distantes da realidade da vida, mais parecem tolas criaturas jocosas da ficção.
Uma das figuras que me assaltou à mente reside em toda parte do nosso país. Sem rodeios, revelo: é o ‘‘revolucionário amante do capitalismo’’ (sei que parece estranho – e é -, mas o paradoxo é real, e a risível figura, também). Veja você mesmo, caro leitor, o perfil do indivíduo, e depois me diga se o amigo conhece um tipo assim (se não vários deste espécime).
O revolucionário em questão, como todo bom marxista, é arqui-inimigo do capitalismo. O vê como um sistema opressor, que, como dizem, coisifica (reifica, usando o termo do húngaro Georg Lukács [1885-1971]) as pessoas e as suas relações. Aqui, na visão alucinada da nossa personagem, o empreendedor não passa de um famigerado ‘‘porco capitalista’’ – quem leu “A Revolução dos Bichos”, do indiano George Orwell (1903-1950), pegou a referência.
Interessante proposta, não fosse as incongruências facilmente identificáveis em figuras como esta. Aliás, o pensamento filosófico e político dessa trupe está repleta de desacordos, de pensamentos excludentes entre si; em suma, uma desarmonia só. Mais parece aquele conjunto musical do seriado mexicano Chaves, onde cada integrante tocava uma música diferente em seus respectivos instrumentos.
Voltando à nossa figura pitoresca, que quer e anseia o fim da sociedade de classes; que deseja a substituição do ‘‘vil capitalismo’’ pelo socialismo e, por conseguinte, chegar ao ‘‘maravilhoso’’ comunismo (um paraíso na terra, ao menos para os néscios que assim, ledos e incautos, pensam), estranhamente, nos bares tidos como ‘‘alternativos’’, uma espécie de underground que nada tem de underground, amam uma boa e cara cerveja importada.
Nesse momento, prezado leitor, as invenções e a boa qualidade dos produtos oriundos do sistema capitalista são muito bem gozados. Cerveja barata? Que nada! Querem do bom e do melhor. E coisa boa, meus caros, não são encontradas em sistemas onde não haja o dedo, ou melhor, a mão invisível do capitalismo, como bem sugeriu o filósofo e economista escocês Adam Smith (1723-1790).
O nosso rebeldão-sem-causa ama falar mal do sistema, mas não abre mão do conforto promovido por ele. É o eterno mimado problematizador, lacrador, ‘‘desconstruidor’’ que, hipócrita como só ele, defende o sexo feminino, mas adora ser sustentado por uma; que defende os homossexuais, contanto que não tenha nenhum na sua família; que, como disse, odeia o capitalismo na teoria, mas o idolatra na prática, ainda que o negue. Todos são assim? Resposta: não. Mas muitos, se não a maioria, o são.
Ah, os revolucionários e a sua eterna mania de não viverem o que pregam. E viva o capitalismo!!! Eles, os revolucionários vivem na e da ficção…Por falar em ficção, vou voltar a ler o meu livro! Até mais, preclaro leitor!
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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