O tempo e os seus heróis!

14/09/2024

Kleyton Bandeira Cantor, compositor e pesquisador cultural

Kleyton Bandeira
Cantor, compositor e pesquisador cultural

O período era caótico e viver era difícil, mas o tempo se encarrega de criar os seus próprios heróis.

Com a repressão política onipresente e cada vez mais truculenta, paranoica e, sobretudo, conservadora, a música popular se tornou arma de combate contra o regime militar brasileiro. Era por meio dela que a mensagem de liberdade, muitas vezes velada, chegava até as pessoas. E foi assim que Ney Matogrosso levantou a voz em defesa do direito de ser quem realmente é, um ser sensual que expressa toda a sua identidade por meio da sexualidade e da linguagem.

Ney exibia nos palcos, além de bela e subversiva voz de soprano, uma sexualidade ambivalente que atraia os olhares tanto de homens como de mulheres. Mas, além disso, surpreendentemente, chamava a atenção, também, das crianças. Foram, justamente, elas que consagraram o grupo Secos e Molhados com a dúbia “O Vira”, uma mistura dançante do rock com o “Vira” português. Quem não lembra dos pulinhos do Roberto Leal? Rsrsrs

A música tinha uma ambientação mágica, entre sacis e fadas, e, absolutamente, ninguém resistia ao refrão:

“Vira, vira, vira

Vira, vira, vira homem

Vira, vira

Vira, vira lobisomem”

 

Divertia adultos e crianças por motivos diferentes. A sexualidade revolucionária dos Secos e Molhados balançava o sufoco político e trazia esperança às pessoas. O grupo foi a primeira banda pop a fazer sucesso de massa no Brasil, algo que sequer Os Mutantes tinham conseguido. De fato, não é nada fácil, num período de repressão, vender 800 mil cópias como uma banda de rock internacional com os integrantes de caras pintadas e Ney seminu, coberto de plumas e rebolando pelo palco. É muita ousadia, coragem e beleza!

Como absolutamente tudo, principalmente à época, exala política, em consequência ao choque de egos entre Ney Matogrosso e João Ricardo – entre o sertanejo e o português, o instintivo e o intelectual, o sexual e o político – o grupo acabou.

Daí em diante, Ney seguiu carreira solo, a partir de 1975, quando lançou o LP Água do Céu – Pássaro, que o colocou entre os grandes intérpretes brasileiros.

Hoje, Ney Matogrosso, no auge dos seus 83 anos de idade, continua encantando o Brasil inteiro com a sua irreverência e o seu estilo andrógino.

É isso aí! Ficamos por aqui e até a próxima!

 

 

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