‘‘De algum modo, sentia que estava ficando meio maluco. Mas sempre me sentia assim. De qualquer forma, a insanidade é relativa. Quem estabelece a norma?’’ – Charles Bukowski
Era um dia de verão, e o sol se escondia atrás das nuvens cinzas. Eu me sentei em meu apartamento desorganizado, cercado por livros e garrafas vazias. O aroma de cigarro e uísque pairava no ar. Eu pensei em Bukowski, o meu ídolo, o rei dos derrotados. Seu espírito de rebeldia e desilusão me inspirava.
Enquanto folheava as páginas amareladas de “O Poder do Álcool”, senti a presença de Allan Poe. Sua sombra pairava sobre mim, sussurrando versos de “O Corvo”. A melancolia e o desespero que permeiam sua obra me faziam companhia.
Eu me levantei e cambaleei até o bar mais próximo. O bartender, um velho amigo, me serviu um whisky sem perguntar. “Para o que é essa cara tão triste?”, perguntou. “Para a vida”, respondi.
Enquanto bebia, pensei nas mulheres que haviam passado pela minha vida. As que me haviam amado e me haviam deixado. As que eu havia amado e perdido. O fantasma de Bukowski ria de mim, dizendo: “Você é um perdedor, meu amigo. Mas é nisso que está a beleza.”
A noite caiu, e eu voltei para casa. O silêncio era opressivo. Eu me sentei à mesa e comecei a escrever. As palavras fluíam como vinho, uma mistura de dor e saudade.
“O mundo é um lugar cruel”, escrevi. “Mas é nessa crueldade que encontramos a beleza. A beleza da derrota, da perda, da saudade.”
Eu parei de escrever e olhei pela janela. A lua estava cheia, iluminando a cidade. Eu senti a presença de Poe novamente, sussurrando: “Não há beleza sem dor, não há vida sem morte.”
Eu sorri, sabendo que estava condenado a viver essa vida de boêmio. Mas estava contente. Pois naquela condenação, encontrava a liberdade de ser eu mesmo.
O último suspiro de um boêmio. Talvez fosse isso que eu era. Mas era nisso que encontrava a minha verdade.
E assim, eu me deitei, cercado por meus livros e garrafas, e deixei que o sono me levasse. Pois sabia que, no dia seguinte, a vida continuaria. E eu estaria lá, pronto para enfrentá-la. Com Bukowski e Poe ao meu lado.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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