Observatório

26/10/2019

“Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Administrem a verdadeira justiça, mostrem misericórdia e compaixão uns para com os outros. Não oprimam a viúva e o órfão, nem o estrangeiro e o necessitado. Nem tramem maldades uns contra os outros”. Zacarias 7:9-10

Lamentável, mas previsível

O que muitos temiam aconteceu oficialmente: a CNEC – Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, mantenedora do Centro Educacional Ruy Barbosa, oficializou, nesta semana, o encerramento das atividades da mais tradicional escola privada em funcionamento em Iguatu e na região. Fundado no início dos anos 60, com apoio de Dr. Manoel Carlos de Gouvêa, inspirado no ideal de Felipe Thiago Gomes, fundador da CNEC, que vislumbrava oferecer educação de qualidade a estudantes carentes, com preços acessíveis, o colégio Ruy Barbosa durante meio século foi a segunda casa de alunos, professores e funcionários que ali tiveram, em grande parte de sua história, o privilégio de conviver com o inesquecível Dr. Edson Gouvêa, diretor cuja figura se confunde ainda hoje depois do seu falecimento em 22 de fevereiro de 2008.

Escola da Comunidade

A liderança e o idealismo de Dr. Edson cativaram a sociedade iguatuense que abraçou com muito amor e carinho o Ruy Barbosa, que embora tenha sido fundado nos anos 60, só conseguiu sua sede própria nos anos 80. E ela foi construída com doações de tijolos, de cimento, de carradas de areia, feitas pelos alunos que também se engajavam em campanhas para arrecadar fundos para compra de material e pagamento de mão de obra. E haja rifas, balaio de São João, festas e manhãs recreativas promovidas, nas quais professores eram porteiros, garçons, segurança, cuidavam da limpeza. Ou seja, havia o sentimento de dedicação, de colaboração, de pertencimento aos ideais defendidos pela figura empreendedora de Dr. Edson. Não falo pelo que ouvi dizer. Falo pelo vi e vivi como aluno durante 5 anos (1979 a 1984), depois como professor por 22 anos (1995 a 2017).

Auge e decadência

Enquanto teve autonomia, o colégio Ruy Barbosa se manteve altivo e lotado de alunos. Nos anos 80, após a mudança para a sede própria, e 90, o colégio mais que triplicou suas dependências, incluindo salas de aula, laboratórios, biblioteca, ginásio esportivo coberto e a vila olímpica. Na virada do século XXI, a CNEC, que até então só era conhecida pelos iguatuenses na letra do Hino Cenecista, decidiu assumir, principalmente o controle financeiro da instituição. Poucos sabem, mas tal fato abateu Dr. Edson, que se viu manietado e foi tomado por intensa tristeza, que o fez adoecer e agravou seu estado de saúde, que culminou em sua morte. Ali estava selado o declínio, por mais que a nova direção, os coordenadores, professores e funcionários se esforçassem, o estrago havia sido feito. A CNEC chegou a ter quase 100 escolas no estado do Ceará. Hoje são menos de 10. As demais fecharam suas portas. Má gestão e incompetência da mantenedora, numa sucessão de erros e omissões, foram os pivôs do fracasso. O Ruy Barbosa é a última unidade da CNEC de grande porte em funcionamento no Ceará.

Patrimônio da comunidade

A CNEC tem sede de vender as instalações do Ruy Barbosa. Alimenta a possibilidade de arrecadar milhões com a venda do patrimônio que foi construído pela comunidade com suor, esforço, atendendo ao chamado de Dr. Edson cuja credibilidade hercúlea mobilizava as campanhas de doação e construção. Em 1999, a diretora financeira Fransquinha Silva e a coordenadora de eventos Enilda Araújo me pediram uma frase para campanha de matrículas. De súbito, eu disse: “Centro Educacional Ruy Barbosa: a força da comunidade fazendo uma escola de qualidade”. Portanto, o prédio do Ruy Barbosa é patrimônio material e imaterial de todos os iguatuenses. Ou seja, a CNEC não pode simplesmente fechar a escola e vender o prédio que por crédito e mérito não lhe pertence.

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