‘‘Quem, portanto, não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se está só é que se está livre (…) Cada um fugirá, suportará ou amará a solidão na proporção exacta do valor da sua personalidade. Pois, na solidão, o indivíduo mesquinho sente toda a sua mesquinhez, o grande espírito, toda a sua grandeza; numa palavra: cada um sente o que é.’’
Arthur Schopenhauer
De uns tempos pra cá, não sei bem ao certo a razão… melhor dizendo: as razões – pois nunca é uma só a causa da inquietação de um ser vivente de espírito irrequieto. Talvez eu poderia citar, a título de exemplo ou apenas para elencar, a minha impaciência para as futilidades próprias da mediocridade da maioria das pessoas que conheço, posto que são, em essência, comuns, triviais, mais do mesmo, insossas. nem-fede-nem-cheiram… Aliás, volto atrás: as pessoas exalam o odor da própria vida primária que levam.
É por isso que faço um grande favor a elas e a mim mesmo: eu as brindo com a minha ausência, e elas me presenteiam com a ausência delas. Beber só, por exemplo, é uma terapia que, sem o menor esforço e, muito pelo contrário, com enorme prazer, pratico religiosamente. Beber consigo mesmo é um deleite indescritível. É uma paz a reconfortante solidão. Me pego bebendo na companhia dos meus livros, cigarro e cerveja…. Eles, sim, são companhias para alguém como eu. Muitas vezes bebo lendo (ou leio bebendo, tanto faz), o que faz com que eu divida mesa e copo com grandes nomes da literatura mundial, como Poe, Bukowski e afins.
Tenho consciência de que sou insuportável para os amantes das convenções sociais, na medida exata do meu repúdio por eles. Assim sendo, é prudente que fiquemos cada um no seu mundo, posto que somos como água e óleo. Também sei que não sou o único com inclinação que beira à misantropia. Talvez alguns dos amigos leitores também sejam reclusos como este que vos escreve. Como não há um clube para antissociais – pois, por razões óbvias, jamais nos reuniríamos -, temos o silêncio em nosso favor, mas não o vazio.
Temos um amigo em comum: a solidão. Mas não refiro-me, aqui, àquela solidão a qual somos condicionados, ou à solidão do abandono… Mas à solidão salvadora, reconfortante, cuja paz só pode residir nela, não em nenhum outro lugar. E essa é a solidão redentora, que nos afaga a alma quando nos tira deste mundo entediante e sofrível e nos coloca no silêncio pacífico de um livro, de um copo entorpecedor e de uma música tocada no mais profundo da alma.
Então, preclaro leitor, quando se pegares envolto ao burburinho frívolo da humanidade, do dia a dia, feche a sua porta, abra a sua geladeira, abra a sua garrafa, abra também um bom livro de alta literatura (Dostoiévski, talvez), abra sua mente e viaje nas asas silenciosas da redentora solidão acompanhada pelos escritores mortos que tanto nos ensinam!
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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