Há nostalgias indizíveis, inefáveis impressões… certezas tão marmóreas, mas obtidas por um caminho não racional. Uma outra via, imprecisa, mas certa, arquetípica. Como podemos, por exemplo, sonhar com pessoas e com lugares que nunca vimos? Lugares belos e antigos, pessoas amadas! Escreveu com acerto Bernardus Umbra: Ah! Quem são essas pessoas, com quem nos sonhos andamos? E por que são tão opacos, embora tão luminosos, os seus peregrinos rostos?! Eu tenho, velho leitor, tales visiones. Sou visitado por antiquíssimos fantasmas. Um sentimento de saudade, de perda indescritível. Sonhos… intuições… Eis um poema inspirado em tais dolências…
LETHE
Se outra vez tomássemos o chá,
E da janela olhássemos a chuva…
Apenas outra vez…
A tua mão delgada sobre a luva,
Só uma única vez…
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Por que morremos e tudo esquecemos?!
Se outra vez ouvíssemos Chopin
Sentindo a brisa do final do outono…
Mais uma vez apenas;
Respiraríamos aquele afã…
Mas vivemos a morte de outro Sono.
As almas não são plenas!
Se andássemos, mãos dadas, na alameda
Um último caminho…
Toca a relva o teu vestido de seda…
E o teu colo de arminho
Lânguido a palpitar… Não parece que sonho.
Exílio é a vigília. É um vagar tristonho…
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Porque morremos. E tudo esquecemos!!!
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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