Crônica
Cauby Fernandes*
Quem lê com frequência; quem é honesto intelectualmente logo chegará à conclusão de que estamos verdadeiramente sem qualquer apoio à alta cultura. Talvez os péssimos intelectuais de hoje devam render todo o seu tempo a apoiar, erroneamente, como cultura, tudo o que é popular. A cultura, pelo que se pode perceber, não tem mais valor em si. A arte não tem mais valor em si. Ou seja: se alguma publicação literária, encenação artística, peça teatral não traz em si qualquer reconhecimento com “o que é nosso”, com “o que é do povão”, o descaso se faz de imediato. Instantaneamente descartado, o que resta do que chamam de arte, é o que vemos: péssimas culturas que não passam de semiletradas; péssimos críticos; péssimo público. É o mau nacionalismo com o que é autóctone, não confundamos com o nacionalismo pelo apego e preservação da nação. Falo de um hermetismo malévolo, doentio e visceral. Estamos apinhados de péssima cultura, essa é que é a verdade.
Como resultado, não é raro encontrarmos imbecis néscios se achando aptos para comentar toda sorte de temáticas possíveis. Ora, como não seria diferente, se a geração do ‘‘não há saber mais, nem menos’’ acredita realmente que são sumidades outorgadas por essa leva medonha de pseudointelectuais? Antes, a desculpa para o acomodamento era a ditadura. Após o fim da mesma, o acomodamento permaneceu até o presente momento. E olha que incentivo do Estado não faltou! A verdade é que, durante os períodos de crise econômica na Grécia antiga, ou o vil comunismo na antiga URSS, onde os recursos e incentivos eram parcos em dado momento, nunca os intelectuais contribuíram tanto para a arte e a cultura mundial (não apenas local, onde, no Brasil, nem isso é possível de cogitar acontecer).
Infelizmente, em uma era de autoajudas, coach e similares, optamos por um Augusto Cury, um Paulo Coelho em detrimento de um Machado de Assis, um Graciliano Ramos, um Lima Barreto, por exemplo. Ignoramos a alta cultura para nos abraçarmos às literaturas rasas, triviais e simplesmente sem substância devida. E o que falar do asilo que demos aos grandes intelectuais europeus e os dos países outros que nos ofereceram as mais clássicas obras? Tiramos das prateleiras nomes como Dostoiévski, Allan Poe, Hemingway, e, em seus lugares, sequer ouso mencionar quais os estapafúrdios substitutos.
O diletantismo capotou na curva sinuosa da mediocridade, essa é que é a verdade, meu caro leitor. Restou-nos, ao que parece, até à nossa mãe, a filosofia, ler as pérolas prolixas do último “filosofinho” engomadinho que frequenta vez ou outra o “Encontro com Fátima Bernardes”. O beletrismo deu lugar ao mais ínfimo desejo pelo não desejo. Não há mais “eros” nas academias abarrotadas de pedantes. Observe a cena e constate, meu perspicaz remanescente admirador da boa leitura!
*Contista, cronista, desenhista e estudante universitário.
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